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Mais de 300 furtos e roubos de cargas são registrados em Minas

Já são 265 casos de furtos de cargas entre janeiro e junho deste ano. Se mantiver estes números, Estado pode registrar a 2ª pior marca dos últimos 10 anos

Em uma das ações contra quadrilhas de roubo de cargas, em junho, a Polícia Federal desarticulou uma organização criminosa que atuava no Norte de Minas

Minas Gerais já registrou 335 furtos e roubos de cargas nos seis primeiros meses deste ano. Em média, foram 55 crimes (55,83%) nestas duas modalidades por mês. Isso quer dizer que quase dois (1,81%) caminhões foram alvos de criminosos por dia.

O aumento de casos detectado pela Itatiaia e denunciado nesta série especial de reportagens está comprovado em números. Os casos de roubos e furtos de cargas de café registrados neste ano são graves, mas representantes do setor de transporte afirmam que o problema é muito maior e crônico.

Apenas na modalidade de furto de carga, incluindo vários tipos de produtos, Minas já registrou 265 casos entre janeiro e junho deste ano. Em 2024, no mesmo período, foram 242 registros. Isso corresponde a aumento de 10% apenas em seis meses.

Se Minas mantiver no neste 2º semestre a mesma quantidade de furtos de cargas registrada nos primeiros seis meses deste ano, o Estado pode atingir a marca de 530 casos. Se isso ocorrer, será o segundo maior número de furtos de cargas dos últimos dez anos em território mineiro. O cruzamento de dados foi feito pela Itatiaia com base nos números publicados pela Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp-MG) no portal da transparência do governo de Minas.

Cargas valiosas de diversos segmentos estão no radar dos bandidos, como destaca o gerente de inteligência e segurança, Assunção Fernandes, que atua na Patrus, empresa com 50 anos de atuação e que atende mais de 3.000 cidades brasileiras.

“Notebook, iPhone e outros tipos de equipamentos eletrônicos são os mais visados. Alguns remédios como preservativos, remédios de cunho masculino, que são procurados e vendidos em qualquer esquina, além de cigarros. Hoje o mercado de cigarros sofre bastante também com esse tipo de de furto e roubo”, conta Fernandes.

Além destes produtos citados, peças de equipamentos e de veículos, bebidas alcoólicas, pneus, insumos agrícolas e alimentos aparecem no topo do ranking das cargas que são alvos de criminosos, segundo representantes do setor ouvidos por nossa reportagem.

Furto de carga é quando o material é levado sem emprego de violência ou grave ameaça. Neste tipo de caso, as forças de segurança afirmam que criminosos se aproveitam de pequenas oportunidades. Antes, nesta modalidade, os bandidos agiam apenas quando os caminhões estavam estacionados em pátios, postos de combustíveis ou em outras áreas de descanso dos motoristas.

Mas agora os criminosos estão furtando os caminhões em movimento, como conta o delegado Thiago Rocha Ferreira, responsável pela Delegacia Especializada em Investigação e Repressão ao Furto, Roubo e Desvio de Carga, ligada ao Departamento Estadual de Investigação de Crimes Contra o Patrimônio (Depatri).

“Quando a gente vai, por exemplo, para o Norte Minas, região de Montes Claros, tem uma região ali numa determinada rodovia onde a subida é muito forte. O caminhão quase que para. Nesses pontos, normalmente, não tem cobertura de internet, não tem cobertura de telefone celular, mas tem quadrilhas especializadas”, explica o delegado.

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“Mesmo com caminhão em movimento, elas pegam traseira ali no caminhão, na parte de trás, e conseguem abrir a porta do baú e vai jogando os produtos para trás. Outra parte da quadrilha vem recolhendo esses produtos, de pequeno tamanho, por exemplo. Um celular, um smartphone hoje de última geração, ele cabe na palma da sua mão. E ele vale quanto hoje? 5, 6, 7, 10 mil reais”, ele conclui.

O furto em caminhões em movimento está ganhando amplitude. A Itatiaia foi para o trecho conversar com quem vive do volante. Caminhoneiro com mais de 20 anos de experiência, Geovane Rodrigues, já foi vítima dessa prática ousada dos criminosos, na Zona da Mata Mineira.

“Lembro de um caso específico que eu tava indo para Salvador, carregado de televisão, geladeira. Abriram o meu baú andando em um trecho que tava tendo uma obra ali próximo a João Molevade. Não sei como, mas eles abriram o meu baú, o caminhão em movimento, não parei hora nenhuma”, ele explica, incrédulo.

“Eu não percebi e retiraram várias coisas de dentro do caminhão. Eu só fui perceber quando amanheceu o dia, quando parei para tomar um café e eu fui fazer aquele checklist visual no caminhão. Eu identifiquei que a porta traseira do baú teria sido arrombada. É lamentável isso, a gente passar por isso, mas é uma coisa que acontece na nossa profissão”, conta Geovane Rodrigues, caminhoneiro experiente.

No quarto capítulo da série “Os Piratas das Estradas: o mercado do roubo nas rodovias brasileiras”, a Itatiaia irá mostrar que o roubo de cargas é um problema de abrangência nacional, mas os pontos críticos estão na região sudeste do país. Forças de segurança afirmam que facções como PCC e CV estão por trás de boa parte desses crimes

Repórter de política na Rádio Itatiaia. Começou no rádio comunitário aos 14 anos. Graduou-se em jornalismo pela PUC Minas. No rádio, teve passagens pela Alvorada FM, BandNews FM e CBN, no Grupo Globo. No Grupo Bandeirantes, ocupou vários cargos até chegar às funções de âncora e coordenador de redação na BandNews FM BH. Na televisão, participava diariamente da TV Band Minas e do BandNews TV. Vencedor de 8 prêmios de jornalismo. Já foi eleito pelo Portal dos Jornalistas um dos 50 profissionais mais premiados do Brasil.