Roubo de carga. Um tipo de crime que é dominado por quadrilhas especializadas. Basta uma simples oportunidade e os criminosos agem com rapidez.
“Parei para lavar o para-brisas, e quando ia entrar no caminhão quatro caras me abordaram”.
“Encostou o cano do revólver nas minhas costas e me empurrou para dentro do caminhão”.
“O carro fechou e deram quatro tiros”.
Esses são alguns dos relatos que você irá conferir a partir de hoje na nova série especial da Itatiaia: os piratas das estradas: o mercado do roubo nas rodovias brasileiras. Nos últimos cinco meses, a nossa reportagem passou a acompanhar o submundo desta modalidade criminosa após os registros de roubos de cargas de café se multiplicarem por Minas Gerais, estado com a maior produção do grão no país.
No início do ano, o preço da saca de 60 kg de café disparou e chegou a custar quase R$ 3.000. O preço do produto atingiu níveis históricos por uma combinação de fatores como problemas climáticos que impactaram nas lavouras, o aumento das exportações e a desvalorização do real frente ao dólar.
Em março, quando os preços estavam nas alturas, no Porto de Santos, em São Paulo, uma quadrilha furtou uma carga de 19 toneladas de café avaliada em R$ 2 milhões. Após investigação, a Polícia Civil apreendeu a carga no Sul de Minas Gerais, mas os envolvidos nunca foram encontrados.
Em outra grande ocorrência, em junho, as Polícia Civil e Militar apreenderam dois caminhões com café roubado e prenderam nove suspeitos de envolvimento com o crime, na Zona da Mata Mineira. Pouco dias depois, nas regiões do Alto Paranaíba e Triângulo Mineiro, uma outra operação da Civil, PM e do Ministério Público prendeu 23 pessoas suspeitas de envolvimento no furto de quase 700 sacas de café.
Na semana passada, a Polícia Civil prendeu três suspeitos de envolvimento com uma quadrilha especializada no roubo de cargas. No final de junho, quinze criminosos fortemente armados com fuzis invadiram uma fazenda, fizeram oito reféns e roubaram 120 toneladas de café, em Várzea da Palma, no Norte de Minas. A carga era avaliada em R$ 4 milhões. O patrimônio do suspeitos chamou atenção. A polícia bloqueou mais R$ 1,3 milhão em contas bancárias e apreendeu 40 veículos, que somam mais R$ 8 milhões.
No Sul de Minas, em cerca de 30 dias, foram duas tentativas de sequestros de fazendeiros. Em entrevista à Itatiaia, o prefeito de em Conceição da Aparecida, José Antônio Ferreira (PL), conta que as quadrilhas sabiam exatamente o que queriam.
“Seguiram a vítima, que estava indo de caminhonete fazer um socorro para o pai, e um carro fechou. Atiraram, foram quatro tiros na caminhonete dele. Por sorte, ele assustado deu ré e conseguiu fugir. Dois dias depois o carro foi encontrado, colocaram fogo nele. Ligaram e pediram dinheiro para a família. Foi negado, lógico, e a polícia deu apoio, mas ele ficaram extremamente assustados, pois sabiam o nome de todos, os telefones, totalmente organizado.
Estes tipos de crimes foram registrados principalmente entre março e julho. O período não é coincidência. É a época de colheita do café. Em Minas, a colheita pode se estender até o fim deste mês de Agosto em algumas regiões. Nestas áreas, o medo tomou conta do campo, como destaca o produtor rural Marcelo Carvalho.
“Quer ver um problema que o produtor está enfrentando? O morador não quer ficar na zona rural. Ele não se sente confortável, ele fica com medo. Está havendo um êxodo para as cidades. O homem não quer ficar no campo devido ao medo”.
Confira o episódio completo:
No segundo capítulo da série “Os Piratas das Estradas: o mercado do roubo nas rodovias brasileiras”, a Itatiaia irá mostrar as ações realizadas pelas forças de segurança e pelo agronegócio para tentar impedir a ação das quadrilhas.