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Alpinistas revelam condições extremas e risco de morte durante resgate de Juliana Marins

Brasileira de 26 anos morreu após cair da trilha do Monte Rinjani, um vulcão com mais de 3 mil metros de altura; ela foi resgatada por voluntários indonésios

Agam e Tyo ajudaram a resgatar corpo de brasileira

Agam e Tyo, alpinistas voluntários que participaram do resgate de Juliana Marins no Monte Rinjani, na Indonésia, contaram detalhes da operação durante uma live no Instagram nesta quinta-feira (26). A dupla revelou que as condições climáticas na região eram extremas e, por isso, correram risco de morte durante a tentativa de recuperar o corpo da brasileira.

A transmissão contou com uma indonésia que fala português e atuou como tradutora dos alpinistas. “Ele diz que não sabe como eles conseguiram resistir e que estava muito, muito frio. Ele disse que ele e os outros sete resgatistas disseram que sabiam que, se chovesse um pouco mais, eles morreriam juntos”, traduziu a intérprete.

Segundo a dupla, as cordas que eles iriam se fixar para descer com segurança se soltavam do solo. Para Agam, o cenário do resgate era trágico e ficará na memória dele para sempre.

“Foi muito duro. Em algum momento, várias vezes o suporte de quem estava lá no topo desabou. Isso provocou a queda de pedras e areia várias vezes. Só por misericórdia de Deus eles não morreram”, comentou a tradutora.

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Entenda a cronologia do caso:

Sexta-feira, 20 de junho (horário de Brasília)

Juliana estava no segundo dia de trilha, junto com cinco pessoas e um guia, no ponto mais alto do Monte Rinjani, que tem mais de 3 mil metros de altura. Era sábado (21) no horário local e a jovem caiu cerca de 300 m abaixo da trilha.

A jovem foi reconhecida pela irmã através de imagens de drones de turistas que a localizaram. Ela estava com uma calça jeans, camiseta, luvas e tênis, porém, não tinha um casaco e seus óculos (ela tem cinco graus de miopia).

Desde que soube do acidente, a família da jovem criou uma conta nas redes sociais onde faziam apelo para que ela fosse encontrada. Um grupo de turistas encontrou a família dela pelas redes sociais e começou a informá-los do que acontecia pelo WhatsApp.

Sábado, 21 de junho (horário de Brasília)

Socorristas chegaram ao local onde Juliana caiu por volta das 4h30 da manhã (14h30 do horário local). Eles tentaram oferecer água e comida, mas sem sucesso, e o resgate precisou ser pausado devido ao mau tempo e às condições ruins do terreno.

Domingo, 22 de junho (horário de Brasília)

Autoridades como a embaixada brasileira na Indonésia foram acionadas e o Governo Federal também monitorava o caso. As equipes chegaram a começar as buscas pela brasileira, mas logo pararam devido às condições climáticas do local. Havia muita neblina, o que impossibilitava o resgate.

Segunda-feira, 23 de junho (horário de Brasília)

O resgate foi retomado na segunda, com auxílio de drones térmicos. Segundo informações da organização do parque, ela foi vista por drones, a 500m de profundidade, aparentemente sem sinais de movimento.

Mais tarde, as buscas foram retomadas e a equipe desceu 400m, mas estavam a cerca de 650m de distância da jovem. “Ela estava bem mais longe do que estimaram”, escreveu a família. Helicópteros estavam sobreaviso, mas não foram utilizados devido ao mau tempo.

Terça-feira, 24 de junho (horário de Brasília)

As buscas por Juliana foram retomadas, com a participação de alpinistas e uma equipe de quase cinquenta pessoas. A escuridão dificultou o acesso à jovem e foi preciso ser montado um acampamento, segundo a administração do parque. O local também foi fechado para evitar curiosos e focar totalmente no resgate de Juliana.

Por volta das 11h, a família fez um comunicado nas redes sociais informando a morte de Juliana. Socorristas chegaram ao local onde ela estava e a encontraram morta. O Itamaraty lamentou a morte da jovem. “O governo brasileiro transmite suas condolências aos familiares e amigos da turista brasileira pela imensa perda nesse trágico acidente”, publicou.

Fernanda Rodrigues é repórter da Itatiaia. Graduada em Jornalismo e Relações Internacionais, cobre principalmente Brasil e Mundo.