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Influenciadora que subiu o mesmo vulcão que Juliana Marins relata experiência: ‘maior furada’

Experiente em viagens, Letícia Mello relatou que a trilha do vulcão indonésio foi a única atividade em que se sentiu em real perigo; ela fez um alerta para outros turistas

Casal de brasileiros subiu o Monte Rinjani em julho de 2017

Após a morte da brasileira Juliana Marins, de 26 anos, em um vulcão na Indonésia, diversos turistas compartilharam suas experiências no local. Entre eles está a influenciadora e mochileira Letícia Mello. A jovem contou em seu perfil no Instagram, que acumula quase 50 mil seguidores, que o Monte Rinjani foi a “maior furada da vida dela”.

“Já cruzei os Estados Unidos pilotando uma moto 650cc, já subi sozinha o vulcão mais alto da América Central, na Guatemala, subi outros vulcões e montanhas, mochilei pelo Sudeste Asiático e vivi infinitas aventuras! Dentre tudo que já fiz, o Monte Rinjani foi a única atividade em que me senti em perigo real”, disse.

    A influenciadora fez a trilha do vulcão indonésio em junho de 2017. Ela afirma que resolveu compartilhar a própria experiência após a morte de Juliana para alertar outros turistas brasileiros e evitar novas tragédias.

    “Essa foi a única experiência que vivi pelo mundo da qual saí pensando que não deveria ser aberta ao público. Principalmente por estar na Indonésia, que é um país conhecido pela exploração do turismo a todo custo”, completou.

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    Veja o relato ponto a ponto dos momentos de tensão vividos pela influenciadora

    1- Tudo começa na venda

    “A subida ao vulcão é vendida como um ‘passeio’ que não precisa de nenhum preparo ou equipamento. 'É só subir’. Geralmente, quem está mochilando pelo Sudeste Asiático não tem roupas de frio e/ou equipamentos. O vendedor nos convenceu ao dizer que tanto o bastão quanto a jaqueta estavam incluídos no valor do pacote, que custava 100 dólares por pessoa - um preço bem atrativo para quem está viajando com orçamento apertado há meses. Provavelmente, subimos com a pior empresa possível”.

    2- No primeiro dia, metade do grupo desistiu

    “Nos entregaram um “corta-vento” todo mofado, que não nos esquentaria, alegando que seria suficiente. Quando questionamos sobre os bastões, o guia entrou no mato e voltou com uns pedaços de galhos longos que limpou com um facão - achei graça, pq faria o trabalho. As condições eram extremamente precárias, ao ponto de a tenda das meninas que estavam conosco não ter aguentado ficar de pé, e elas dormirem com a tenda completamente caída sobre elas. A nossa tenda ficou em pé com a ajuda do galho/bastão. Assim que amanheceu, metade do grupo desistiu e desceu a montanha. Nós continuamos com um grupo de canadenses que eram os únicos bem preparados, mas com zero espírito de equipe”.

    3- O Monte Rinjani não é uma fácil

    “O Monte Rinjani está muito longe de ser uma montanha fácil: são cerca de 30 km em 3 dias - de 2.500m a 3.300m de ganho de elevação, dependendo da rota. É exaustivo, e o público é, em sua maioria, formado por backpackers que estão viajando sem preparo físico e sem equipamento, além de um orçamento apertado (nosso caso, na época). A comida era muito básica, ao ponto de nem nos alimentar direito. Os guias/porters eram esforçados e extremamente simpáticos, mas muito mal equipados e preparados”.

    4- Falta de preparo em todos os envolvidos

    “Acordamos às 2h da manhã no terceiro dia para chegar ao cume e ver o sol nascer. Mas na noite anterior houve uma tempestade fortíssima e ninguém chegou ao cume. Com o mau tempo e frio pela falta de roupas adequadas, questionei nosso guia se, pela experiência dele, havia condições para subir. A resposta foi “you go, I go”, querendo dizer que, se eu decidisse subir, ele iria comigo. A função dele era fazer o seu trabalho, acompanhando o turista em sua decisão. É complicado estar no topo da montanha e não poder contar com o conhecimento do guia ou com tecnologia para nos guiar - pior ainda, mal tínhamos um idioma em comum, já que seu inglês era extremamente básico para a função”.

    “Ainda assim, optamos por seguir, e, faltando cerca de 300m para o topo, meus pés congelados me impediam de continuar e comecei a chorar de frio/desconforto. A montanha estava completamente fechada e eu não via razão para subir, já que não haveria nascer do sol. O Philippe (marido) me convenceu de que seria melhor subirmos com o grupo para nos mantermos em movimento/aquecidos - e foi o que fiz! Tiramos foto no topo a 3.726m de altitude para registrar o perrengue - cangas tinham virado cachecol, blusa foi pra cabeça, saco de dormir virou casaco - tudo isso diante da paisagem totalmente encoberta. Estava feliz por ter dado tudo certo e, como sempre, tirando o melhor da situação e me mantendo animada”.

    5- Abismo e terreno arenoso

    “Foi somente na descida do cume, com o dia amanhecendo, que tive noção do tamanho do penhasco que existe para ambos os lados. E olha que não me assusto com pouco - fiquei bem perplexa por termos subido no escuro, sem equipamento, com frio e com guias que, apesar de permanecerem conosco, não tinham preparo. Nos vídeos da descida, já de dia, dá para ter noção da dificuldade do terreno - na subida, dávamos dois passos pra frente e um pra trás. Exige bastante esforço! A descida foi feita escorregando mesmo”.

    6- Se reclamar, eles perdem o emprego

    “Quando conversei com nosso guia, dizendo que faria uma reclamação formal sobre as condições de trabalho e do que a empresa estava oferecendo de forma enganosa, ele implorou para que eu não falasse nada, pois perderia seu emprego e tinha família para cuidar. Ficou com tanto medo que eu optei por não falar nada. No fim, o Philippe lhe deu uma roupa ou tênis, não lembro ao certo”.

    Fernanda Rodrigues é repórter da Itatiaia. Graduada em Jornalismo e Relações Internacionais, cobre principalmente Brasil e Mundo.