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‘Tarifaço’ de Trump: economista explica quais os impactos da medida para o real e o dólar

Donald Trump anunciou nesta quarta-feira (2) que irá taxar os produtos brasileiros em 10%

O Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou nesta quarta-feira (2) que irá cobrar uma taxa de 10% para todos os produtos brasileiros. A medida faz parte do “tarifaço”, criado como uma retaliação aos países que taxam os produtos americanos. Com isso, a China será taxada em 34%, por exemplo, e a União Europeia em 20%.

Para o economista sênior do Banco Inter, André Valério, o anuncio terá pouco impacto sobre a moeda brasileira, já que o fluxo comercial do Brasil com os Estados Unidos não é o mais relevante.

“O real, em meio a isso, deve sofrer pouco. Apenas alguns setores específicos devem sofrer mais, mas eles não são altamente representativos na balança comercial. Além disso, o fato de o Brasil ter sido menos taxado, tornará os nossos produtos relativamente mais competitivos em relação aos outros países, o que pode permitir maiores exportações aos Estados Unidos”, explica.

O economista ainda chama atenção para o fato de o Brasil poder ganhar novos mercados no agro. “O Brasil tende a ganhar market share de suas exportações, à medida que essas regiões direcionem suas demandas para outro lugar, particularmente o agro, que sofre grande competição com o agro americano”, diz.

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Impacto do “tarifaço” na economia americana ainda é incerto

Valério explica que ainda não é possível saber como as tarifas retaliatórias irão impactar a economia americana. Segundo ele, há dois caminhos possíveis: o da alta do dólar e impacto nulo na balança comercial; ou a recessão.

“Um estudo do FMI, analisando 151 países entre 1963 e 2014, encontrou evidências de que aumentos nas tarifas levam, na maioria das vezes, a um aumento na taxa real de câmbio. Por conta disso, o impacto sobre a balança comercial tende a ser nulo. Ou seja, as tarifas iriam limitar as importações, tornando-as mais caras, mas a valorização do dólar também tornaria as importações mais baratas”, comenta.

No entanto, apesar da tendência, o mercado internacional teme que a economia dos EUA entre em uma recessão.

“A condução errada do governo, aliada à visão de que a política tarifária seria universal, fez o mercado passar a crer em uma maior chance de que a economia americana entre em recessão nos próximos meses. Também prevalece a visão de que o resto do mundo irá se descolar da economia americana, o que levará a uma realocação de capitais saindo do Estados Unidos em direção aos outros países, em especial à Europa e China. Isso fez com que o dólar desvalorizasse 4,7% desde a posse de Trump”, afirma.

Então, o que irá acontecer com a moeda americana? Ela irá valorizar ou desvalorizar? Para o economista, só o tempo dirá como as tarifas vão de fato se comportar na economia dos EUA.

“Daqui para frente, a dinâmica do dólar vai depender de qual fator irá prevalecer em resposta às tarifas. Se a economia americana absorver bem o choque, a tendência é vermos o dólar valorizar de maneira global. Por outro lado, se o impacto das tarifas for extenso, criando incertezas e desaceleração da economia, ao passo em que os Estados Unidos se isolem do resto do mundo, a tendência é observar a continuidade do movimento de queda do dólar”, explica.

Fernanda Rodrigues é repórter da Itatiaia. Graduada em Jornalismo e Relações Internacionais, cobre principalmente Brasil e Mundo.
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