Na manhã desta quinta-feira (19) o valor do dólar chegou a R$ 6,30 - o maior desde a implementação do real. Agora, no período da tarde, o preço abaixou graças aos leilões de dólar feitos pelo Banco Central e está em R$ 6,11. O cenário que pode ser preocupante para muitos brasileiros, para outros, em meio a termos técnicos de economia pode ser muito confuso. Entenda abaixo os principais aspectos que influenciaram a alta da moeda americana.
Desconfiança do mercado em relação ao governo brasileiro
Segundo o especialista, um dos fatores que contribuem para o aumento do preço do dólar em relação ao real é a desconfiança do mercado devido à trajetória de endividamento do governo brasileiro. “Hoje, o Governo tem uma dívida equivalente a 78,2% do PIB [Produto Interno Bruto], e em trajetória crescente, sem sinal de estabilização. Para que houvesse uma melhora nessa tendência, seria necessário que o governo gastasse menos do que arrecada”, afirma.
Contudo, para os economistas, apesar do Governo brasileiro ter sido bem-sucedido no aumento da arrecadação, ainda não diminuiu o suficiente os gastos públicos.
“Os gastos públicos cresceram acima da arrecadação, gerando esse rombo nas contas públicas que tem sido preenchido por maior endividamento. Mais endividamento e gasto público, em última instância, implica em uma inflação maior, que por sua vez desvaloriza o real”, informa o economista.
Diante desse cenário, com o mercado inseguro em relação à situação econômica do Brasil, há uma pressão de desvalorização do real.
Corte de gastos do Governo
Para diminuir a quantidade de gastos públicos o Governo Brasileiro quer implementar o pacote de corte de gastos que prevê a análise anual das despesas do governo antes criar ou prorrogar novos benefícios de seguridade social. Nesse caso, eles serão limitados conforme a regra de crescimento real do marco fiscal - que estabelece que as despesas do governo cresçam entre 0,6% e 2,5% acima da inflação.
“Tal pacote até veio dentro do esperado, prevendo cortes de R$ 70 bilhões até 2026, sendo R$ 30 bilhões em 2025 e R$ 40 bilhões em 2026. O problema é que o governo anunciou esse pacote juntamente com a isenção do Imposto de Renda para quem recebe até R$ 5 mil por mês, a partir de 2026, o que deve ter um impacto de R$ 40 bi na arrecadação, efetivamente zerando o esforço fiscal para 2026", aponta.
Na manhã desta quinta-feira (19), quando o dólar teve o valor recorde, o projeto de corte de gastos ainda estava sendo discutido na Câmera dos Deputados. E, esse cenário também aumentou a incerteza do mercado e, novamente influenciou no valor da moeda.
“Especialmente porque existe a chance de o Congresso desidratar um pacote que já é visto como sendo insuficiente para o tamanho do atual desafio fiscal”, esclarece.
Na parte da tarde, a Câmara aprovou trechos do projeto, com algumas alterações incluídas pelos deputados, o dólar voltou a um cenário de menos instabilidade.
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Aumento da valorização do dólar
Ao mesmo tempo, em que as questões políticas do Brasil influenciam no valor da moeda, existem fatores internacionais que também impactam nessa dinâmica. “O dólar, por si só, tem se valorizado de maneira intensa frente às principais moedas do mundo, movimento que foi exacerbado no dia de ontem devido à decisão de política monetária do banco central americano”, finaliza o economista.