As imagens são impressionantes. Um caminhão faz zigue-zague na pista da rodovia Rio-Santos, no litoral de São Paulo. Os motoristas que vêm atrás se assustam e ligam o pisca-alerta. Mais para frente, o caminhoneiro invade a pista contrária, aterrorizando quem estava na estrada.
Quem dirige é um homem embriagado e drogado com uma extensa ficha de infrações de trânsito. Neste dia, ele passou por cima de uma moto e acabou matando o metalúrgico Rafael da Silva Oliveira, de 33 anos. Em entrevista ao Fantástico neste domingo (29), Carolina Rebouças, namorada de Rafael, que estava na garupa e sobreviveu, falou sobre o momento do acidente.
“Rafael era o amor da minha vida”, disse ela Carolina.
Rafael tinha acabado de reformar a casa e planejava realizar diversos sonhos com a namorada. Segundo ela, eles já moravam juntos. “Enfim, aconteceu isso. Foi um sonho interrompido, um relacionamento interrompido. O que era para ser para sempre, acabou. O tempo todo a imagem volta na minha cabeça”, diz Carolina Rebouças.
Por pelo menos 5 km, o caminhão carregado com glicerina causou pânico em quem estava na rodovia. Após bater em uma viatura da polícia, o caminhão foi para a contramão. Assustado com um veículo enorme vindo na sua direção, Rafael foi com a moto para o acostamento. Segundo o depoimento dos policiais, o caminhão foi para cima dele. A batida foi em uma curva. O caminhão passou por cima de Rafael, que morreu na hora. Carolina foi arremessada e sobreviveu por pouco.
“Eu conseguia ver que ele estava vindo para cima da gente. Eu só consegui segurar nele, firmar mais minha perna no corpo dele. Falei: ‘Rafael, caminhão’”, conta Carolina.
Carolina ficou em estado grave e teve alta na última quinta-feira (26). “Eu perdi um dedo do pé. Eu estou com essa perna direita cheia de ponto, fraturada”, detalhou ela.
Rafael e Carolina haviam ido à praia encontrar alívio para uma dor recente. O pai dele sofreu um infarto e morreu em agosto.
Não existem imagens do momento em que o caminhão atropelou a moto de Rafael. Só há o registro dos minutos seguintes, de quando o caminhoneiro, ainda na contramão, atinge outros veículos. Bateu em nove, no total.
Um homem filmou o momento em que o caminhão finalmente parou. O caminhoneiro foi preso em flagrante. Roberval José Sebastião é motorista profissional há 15 anos. O exame do IML apontou que ele havia bebido e usado drogas. Roberval tem 36 anos, está preso e vai responder por vários crimes. Entre eles, o assassinato de Rafael.
“Uma carreta muito pesada. Mais de 40 toneladas. Ele está inclusive com uma carga. Ou seja, ele vira uma arma”, diz o delegado Jorge Álvaro Gonçalves Cruz.
A polícia tentou ouvi-lo, mas Roberval se manteve em silêncio e não contratou um advogado.
Histórico de infrações
Conforme a reportagem, Roberval tem um longo histórico de infrações graves no trânsito. Entre janeiro de 2020 e outubro de 2023, ele foi multado 25 vezes. Os principais motivos:
- Dirigir em alta velocidade
- Dirigir sob efeito de drogas e álcool
- Avançar o sinal vermelho.
E por que as punições pararam em outubro de 2023?
Em outubro de 2023, Roberval já tinha, em alta velocidade, desafiado a polícia. Ele também não obedeceu à ordem de parar o caminhão. Passou correndo pelo pedágio e ainda fez zigue-zague na rodovia Anhanguera, uma das mais movimentadas do estado de São Paulo. Dessa vez, não houve nenhuma vítima. Roberval acabou preso em flagrante, na cidade de Cosmópolis.
Na época, ele confessou o consumo de cocaína e disse que dirigiu tendo alucinações. O caminhoneiro alegou que “a mãe tinha falecido naquele ano” e que “a esposa o deixou devido ao uso de entorpecentes”. Ele pôde responder em liberdade e ficou com a habilitação suspensa até agosto, depois que a defesa fez um acordo com o Ministério Público. Roberval pagou R$ 600 de multa e o processo foi extinto, sem punição.
Em outubro de 2023, Roberval já tinha, em alta velocidade, desafiado a polícia.
Em 9 de setembro, recebeu a habilitação de volta. Treze dias depois, dirigiu de forma ainda mais perigosa e matou o metalúrgico Rafael da Silva Oliveira.
Rafael deixou uma filha, de 9 anos, de um relacionamento anterior.