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Tecnologia de anticorpos monoclonais completa 50 anos e consolida espaço no agro

Tecnologia que revolucionou a medicina é aplicada pela pesquisadora Keila Roncato no diagnóstico de doenças de plantas e animais

Doutora em microbiologia agrícola, Keila Maria Roncato Duarte

A descoberta de uma revolução na medicina que transformou o diagnóstico e o tratamento de diversas doenças, incluindo cânceres, doenças autoimunes e infecções crônicas está completando meio século em 2025. Os primeiros resultados das pesquisas com anticorpos monoclonais ganham um brilho especial no Brasil com o trabalho da doutora em microbiologia agrícola, Keila Maria Roncato Duarte, que se tornou a primeira cientista brasileira a aplicar o método para diagnóstico de doenças de plantas.

O estudo que revolucionou a ciência biomédica foi publicado por Georges Köhler e César Milstein na revista Nature, em 7 de agosto de 1975. Eles apresentaram ao mundo os anticorpos monoclonais, moléculas produzidas em laboratório com alta precisão para detectar e combater agentes específicos no organismo.

A pesquisadora Keila está há 25 anos nesta linha de pesquisa e foi pioneira no uso de anticorpos monoclonais na agricultura paulista, cujo trabalho foi possível graças à parceria com a Unifesp, local onde já se produziam anticorpos voltados à medicina.

Atualmente, pesquisadora da Apta Regional, vinculada à Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, ela lidera estudos que utilizam essa tecnologia para desenvolver soluções inovadoras na agropecuária brasileira. “Os anticorpos monoclonais também estão cada vez mais ganhando espaço na agropecuária, com aplicações voltadas para o diagnóstico precoce de doenças em plantas e animais”, destacou.

Pesquisadora abriu caminho para aplicação dos anticorpos no campo

Com trabalhos iniciados nos anos 1992, terminou o mestrado em 1996 e o doutorado em 2000. No mesmo ano, liderou uma pesquisa inovadora voltada à identificação do vírus do mosaico do tomateiro (ToMV), uma das viroses mais agressivas que afetavam a cultura do tomate. Em parceria com pesquisadores da Unifesp e USP/Esalq, desenvolveu o anticorpo monoclonal MAb 10.H1, capaz de detectar o ToMV sem reações cruzadas com o vírus do mosaico do tabaco (TMV). A técnica, aplicada via PTA-ELISA e immunoblotting, permitiu o diagnóstico precoce ainda na fase de plântulas, evitando a disseminação da doença no campo.

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Keila realizou seu pós-doutorado no Centro de Energia Nuclear na Agricultura (Cena/USP), com foco na produção de anticorpos monoclonais e policlonais para detectar anabolizantes em carnes, com apoio da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA).

Entre 2003 e 2005, Keila participou de outro Pós-doutorado na Esalq/USP voltadas à imunomarcação de esporos de doenças cítricas, como Guignardia citricarpa (Phyllosticta citricarpa) (mancha preta) e Moniliophthora perniciosa (vassoura de bruxa), aplicando anticorpos e immunolocalização para diagnóstico e monitoramento de fungos no campo.

A trajetória da pesquisadora Keila exemplifica como uma tecnologia originalmente voltada à saúde humana pode ser adaptada com excelência para enfrentar os desafios da agricultura tropical. “Esses avanços consolidam o uso da imunotecnologia na sanidade vegetal e reforçam o papel estratégico da ciência brasileira na proteção de cultivos e na segurança alimentar”, afirmou.

*Giulia Di Napoli colabora com reportagens para o portal da Itatiaia. Jornalista graduada pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), participou de reportagem premiada pela CDL/BH em 2022.