Dois novos processos industriais prometem transformar o controle de qualidade do
Os protocolos operacionais desenvolvidos no estudo respondem a uma lacuna histórica da legislação brasileira, que ainda não dispõe de abordagens específicas para garantir a origem e a pureza do mel nativo. A inovação representa um marco para a profissionalização da meliponicultura e para a proteção do consumidor final.
O uso combinado das duas tecnologias promete impactar diretamente a cadeia produtiva, uma vez que deve beneficiar entrepostos e produtores, facilitando a implantação de sistemas de controle de qualidade e rastreabilidade com baixo custo operacional.
O equipamento utilizado, de fabricação chinesa, custa R$ 30 mil (com taxas de importação) e pode ser compartilhado entre cooperativas ou associações de produtores. Além de reduzir custos, o método tem potencial para substituir análises físico-químicas tradicionais, que exigem reagentes e geram resíduos.
Os resultados foram obtidos em um projeto coordenado pelos pesquisadores da Embrapa Aline Biasoto e Cristiano Menezes, com participação da parceria científica de Edson Rezende, proprietário do Entreposto Vida Natural, e de Carolina Santos Silva, pesquisadora da Technical Research Centre of Finland – VTT, Finlândia.
Identificação de adulterações e da espécie produtora
O primeiro processo foi desenvolvido para detectar adulterações no mel da espécie Scaptotrigona depilis (popularmente conhecida como Mandaguari). Foram analisadas 60 amostras coletadas de colmeias instaladas na sede da Embrapa, em Jaguariúna (SP).
A análise foi realizada por meio da espectroscopia NIR acoplada à técnica estatística PLS-DA (Partial Least Squares Discriminant Analysis, método que utiliza regressão multivariada para classificar amostras). O modelo apresentou resultados com alto grau de acurácia, sensibilidade e especificidade, identificando corretamente todas as amostras adulteradas e não adulteradas, mesmo em casos de diluição parcial.
Segundo Aline Biasoto, o principal diferencial do método é a simplicidade de uso e o potencial de aplicação direta em entrepostos de mel. “A técnica é rápida, não destrutiva e pode ser operada diretamente por cooperativas e produtores, sem necessidade de reagentes químicos ou processos demorados”, explicou.
O segundo processo, também baseado em espectroscopia NIR, permite identificar a espécie de abelha responsável pela produção do mel. Foram analisadas amostras de mel das espécies Apis mellifera, Tetragonisca angustula (Jataí) e Melipona quadrifasciata (Mandaçaia), coletadas de produtores do estado de São Paulo e de colônias mantidas pela Embrapa, em Jaguariúna, SP.
Os modelos estatísticos alcançaram 100% de precisão, distinguindo de forma inequívoca as espécies de origem, em metodologia rápida, não destrutiva e sustentável.
Potencial para certificação e exportação
Cristiano Menezes ressaltou a biodiversidade do Brasil, país que abriga a maior diversidade de abelhas sem ferrão do mundo, com centenas de espécies conhecidas, e destaca que o mercado internacional demonstra interesse crescente por produtos sustentáveis e de origem comprovada. Nesse contexto, as novas tecnologias desenvolvidas pela Embrapa se alinham às metas de inclusão produtiva e agregação de valor da meliponicultura brasileira.
A implementação de protocolos de verificação de pureza e origem é vista como um passo decisivo para a internacionalização dos produtos nativos e para o fortalecimento de políticas públicas voltadas à rastreabilidade e à valorização dos saberes tradicionais associados às abelhas nativas.
“É um caminho promissor para profissionalizar a atividade, proteger o consumidor e consolidar a reputação do mel brasileiro como um produto de excelência”, resumiu o pesquisador da Embrapa.