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Tarifaço de Trump pode custar R$ 180 milhões à indústria do cacau no Brasil

Estados Unidos são o segundo principal destino dos derivados brasileiros, sendo responsável por 18% das exportações do setor

Setor possa perder pelo menos US$ 36 milhões apenas em 2025

Além da carne bovina e o café, o setor do cacau é um dos grandes afetados pela tarifa de 50% imposta pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

A Associação Nacional das Indústrias Processadoras de Cacau (AIPC) calcula que, caso a tarifa seja mantida, o setor possa perder pelo menos US$ 36 milhões apenas em 2025, o equivalente a cerca de R$ 180 milhões.

O mercado norte-americano é o segundo principal destino dos derivados brasileiros, sendo responsável por 18% das exportações do setor. Em 2024, as exportações de derivados de cacau para os EUA somaram US$ 72,7 milhões (R$ 363 milhões). Somente no primeiro semestre de 2025, os embarques já alcançaram US$ 64,8 milhões (R$ 325 milhões), mais de 25% do total exportado no período.

“A medida, que inclui uma sobretaxa adicional de 40% somada aos 10% já anunciados em abril, passa a valer a partir de 7 de agosto e ameaça diretamente a competitividade do setor, com efeitos que extrapolam o campo das exportações”, afirma o setor.

“Mais do que prejuízo comercial, a medida ameaça o funcionamento da indústria nacional de processamento de cacau. Isso porque a estrutura produtiva do setor depende da moagem das amêndoas, cujo subproduto principal é a manteiga de cacau — derivado fortemente demandado pelo mercado americano, que concentra praticamente 100% das exportações brasileiras desse item”, afirma a AIPC em nota.

Além disso, a associação destaca que sem a possibilidade de escoamento, as empresas ficam impossibilitadas de manter a produção em pleno funcionamento, o que amplia significativamente a ociosidade industrial e compromete empregos e investimentos nas regiões produtoras, especialmente na Bahia, no Pará e em São Paulo.

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Estimativas da AIPC apontam que a ociosidade média da indústria processadora, que já é elevada devido à escassez de amêndoas, pode saltar para 23,83%, podendo atingir até 37%, se considerados os dados consolidados de 2024. Esse cenário agrava a crise já enfrentada por um setor pressionado por quebras de safra e alta nos preços das amêndoas no mercado interno.

A AIPC defende a que o cacau e derivados sejam inseridos na lista de exceção da sobretaxa de 50%, como o suco de laranja.

"É fundamental evitar o fechamento de plantas industriais e a perda de milhares de empregos diretos e indiretos em regiões que dependem fortemente da cacauicultura para seu sustento. A cacauicultura brasileira é responsável por cerca de 200 mil empregos diretos e indiretos”, afirma em nota.

Formada em jornalismo pelo Centro Universitário de Belo Horizonte (UniBH), Giullia Gurgel é repórter multimídia da Itatiaia. Atualmente escreve para as editorias de cidades, agro e saúde