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Produção de leite no outono no Rio Grande do Sul é impactada por estresse térmico

Março teve a maior média de calor no trimestre, com perdas estimadas na produção em até 24%

Produção diária de leite pode ter caído até 24% nas vacas de maior rendimento

A produção leiteira no Rio Grande do Sul enfrentou impactos significativos durante o outono de 2025 devido às condições climáticas adversas em março.

O estudo utilizou o Índice de Temperatura e Umidade (ITU) para avaliar o conforto térmico dos bovinos leiteiros e estimar as perdas na produtividade associadas ao estresse térmico, entre março e maio deste ano.

Segundo o levantamento, março foi marcado por uma intensa onda de calor, com temperaturas médias diárias acima de 30°C em várias regiões do Estado. A pesquisadora e médica veterinária Adriana Tarouco, uma das autoras do estudo e integrante do DDPA/Seapi, destaca que “essa combinação de calor e umidade acionou mecanismos fisiológicos de termorregulação nas vacas, desviando energia da produção de leite para a manutenção da temperatura corporal”.

O ITU médio em março ficou em 71,6, valor que já indica estresse térmico leve, e ultrapassou o limite crítico (ITU > 84) em quase um quinto dos municípios analisados, mesmo que por poucas horas. Nas cidades de Uruguaiana e Maçambará, o estresse térmico severo se manteve por mais de 13% do tempo. No total, 76% dos 25 municípios monitorados apresentaram situações críticas de calor, neste mês.

Queda na produção

As estimativas do comunicado apontam que, em março, a produção diária de leite pode ter caído até 24% nas vacas de maior rendimento, especialmente nas regiões mais atingidas pela onda de calor. Em contrapartida, o município de Vacaria, na Serra do Nordeste, não apresentou perdas em maio, refletindo temperaturas mais amenas e condições de umidade favoráveis.

Já com a chegada de massas de ar frio em abril e maio o cenário melhorou, as temperaturas oscilaram entre 15°C e 25°C, e a umidade relativa variou entre 64% e 91%. Os bovinos permaneceram, em média, 89,5% do tempo em conforto térmico em abril e 92% em maio, segundo o ITU. “Essas condições climáticas foram mais compatíveis com o bem-estar dos animais, permitindo recuperação gradual da produtividade leiteira”, analisa Adriana.

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A umidade relativa do ar teve os menores índices em março, com destaque para Santiago, que registrou mínima de 19%. Os valores máximos, por outro lado, mantiveram-se entre 95% e 100% na maioria das localidades ao longo da estação.

Estratégias contra o estresse térmico

Diante dos efeitos do clima, a Seapi recomenda a adoção de práticas de manejo que priorizem o bem-estar térmico dos rebanhos. Entre as principais orientações estão:

  • Implantação de sombreamento e ventilação nas instalações;
  • Oferta constante de água de qualidade;
  • Ajuste nutricional adequado ao período.
*Giulia Di Napoli colabora com reportagens para o portal da Itatiaia. Jornalista graduada pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), participou de reportagem premiada pela CDL/BH em 2022.