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Dieta turbinada eleva em mais de 20% a produção de embriões bovinos

Descoberta da Embrapa com a Universidade de Brasília é um marco para a produção de bovinos de corte e de leite

Retorno financeiro é até 2,8 vezes maior em comparação com a dieta convencional

Uma pesquisa inovadora realizada pela Embrapa Cerrados (DF) em parceria com a Universidade de Brasília (UnB) revelou uma estratégia alimentar capaz de revolucionar a eficiência reprodutiva e a lucratividade na pecuária. Planos alimentares de alta densidade energética, aplicados em curto prazo, demonstraram aumentar em 21% a produção de embriões in vitro em novilhas pré-púberes.

A descoberta é um marco para a produção de bovinos de corte e de leite, garantindo um retorno financeiro até 2,8 vezes maior em comparação com a dieta convencional.

Aceleração da puberdade e retorno financeiro

O estudo focado em novilhas Nelore pré-púberes mostrou que a dieta, apesar de ser mais cara inicialmente, compensa o investimento ao antecipar a puberdade dos animais. A alimentação mais rica permitiu que as novilhas apresentassem maior peso e deposição de gordura na carcaça, alcançando mais cedo o peso ideal para a reprodução.

De acordo com Carlos Frederico Martins, pesquisador da Embrapa Cerrados, a eficiência reprodutiva precoce tem um impacto direto na economia do sistema: “Quanto mais jovens as novilhas ficarem prenhas e deixarem descendentes, mais compensador é para o sistema financeiramente”.

Martins explica que a redução da idade do primeiro parto é o grande motor da economia. “Tem sido demonstrado que se a primeira prenhez ocorrer aos 14 meses, em vez de aos 24 meses, que é a idade adulta, os custos de produção diminuem, mesmo com um manejo preparatório diferenciado para as fêmeas”.

Melhoramento genético acelerado

Além do ganho financeiro, a estratégia nutricional minimiza problemas de reprodução tardia em raças como a Nelore e acelera os programas de melhoramento genético ao reduzir o intervalo entre gerações.

Os testes comprovaram que a dieta de alta energia levou a um aumento na produção de ovócitos e embriões. O segredo está no aporte de energia: novilhas entre quatro e nove meses de idade são as mais sensíveis aos nutrientes, que promovem um melhor desenvolvimento corporal e a deposição de gordura crucial para o início da maturidade sexual.

“Nossa hipótese era de que o aumento na quantidade e na qualidade dos ovócitos em novilhas pré-púberes alimentadas com dietas de alta densidade energética está relacionado ao melhor desenvolvimento corporal e à deposição moderada de gordura,” afirma Martins.

A pesquisa sugere, ainda, que os resultados podem ser potencializados com o uso da melatonina, um hormônio natural que contribui para a melhoria da qualidade embrionária.

Plano NutricionalTipo de DietaEstação SecaEstação ChuvosaObjetivo de Ganho Diário
PN1 (Convencional)Pastagem + Concentrado de baixo consumoConcentrado médio de 1,4 kg/dia (0,7% do peso vivo)Concentrado médio de 650 g/dia (0,25% do peso vivo)400 g/dia (Seca) / 700 g/dia (Chuvosa)
PN2 (Alta Energia)Confinamento + Maior densidade energética11 kg de silagem de milho + 1 kg de concentrado (0,33% do peso vivo)Concentrado médio de 1,87 kg/dia (0,35% do peso vivo)800 g/dia (Seca) / 1 kg/dia (Chuvosa)

A dieta PN2 continha 26% mais energia metabolizável na seca e 19% a mais nas chuvas do que a PN1. O PN1 simulava o manejo comum para que as novilhas atingissem o peso mínimo de reprodução (280 a 300 kg) entre 12 e 14 meses, enquanto o PN2 buscou um desempenho superior e mais acelerado.

O pesquisador Eduardo Eifert, responsável pela elaboração das dietas, explica que os tratamentos refletem práticas observadas em fazendas do Cerrado, sendo o PN2 uma simulação de manejo com sequestro (confinamento na seca) que permite dietas mais calóricas e de maior performance.

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Formada em jornalismo pelo Centro Universitário de Belo Horizonte (UniBH), Giullia Gurgel é repórter multimídia da Itatiaia. Atualmente escreve para as editorias de cidades, agro e saúde