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Brasil pode se destacar na agricultura espacial, aponta engenheiro da Nasa em simpósio

Evento em São José dos Campos debateu desafios da produção de alimentos fora da Terra e impactos na vida dos astronautas

Brasil possui excelência na área de produção de alimentos

O I Simpósio Internacional em Agricultura Espacial (SIAE) foi realizado nesta semana, entre os dias 14 e 16, no Parque de Inovação Tecnológica São José dos Campos (PIT). A exploração fora da Terra ainda apresenta muitos desafios que exigem soluções complexas, segundo o engenheiro da Nasa e especialista do Laboratório de Propulsão a Jato da Nasa (EUA), Ivair Gontijo. A superação desses obstáculos abre oportunidades para o Brasil se firmar em uma posição de liderança no setor aeroespacial.

Para Gontijo, os principais desafios incluem a sobrevivência humana em ambientes extraterrestres. Para isso, é indispensável a produção de alimentos e de oxigênio. “Além das necessidades básicas de suporte à vida, a exploração de longo prazo, como uma viagem a Marte, que leva de seis a nove meses, enfrenta questões tecnológicas e médicas. Outro ponto é que colocar pessoas em um espaço confinado e pequeno por um período muito longo pode gerar sérios problemas psicológicos”, explicou.

A comunidade científica mundial tem buscado soluções para esses desafios, visando missões futuras e a habitação permanente na Lua e, posteriormente, em Marte, permitindo viagens e estadias mais longas.

O Brasil possui excelência na área de produção de alimentos. Esse conhecimento é uma oportunidade para o ingresso na exploração espacial e na busca de soluções para alguns problemas. Segundo Gontijo, se o país, juntamente com a Rede Space Farming Brazil, investir no programa, haverá grande desenvolvimento no setor aeroespacial brasileiro.

Segundo Alessandra Fávero, coordenadora da Rede, a solução dos problemas de adaptação em um ambiente inóspito pode contribuir para resolver também os desafios enfrentados na Terra em relação às mudanças climáticas. A mesma ideia é compartilhada por Gontijo. “Realizar pesquisas e descobrir novas variedades de plantas, talvez novas espécies ou animais que sobrevivam em um ambiente extremo, como o marciano, onde a quantidade de CO2 na atmosfera é muito grande, serão de grande utilidade para mitigar as mudanças climáticas”, observou.

Plantas afetam o psicológico de astronautas

As plantas têm um efeito positivo proporcionado aos astronautas em ambientes extremos, como fora da Terra. O pesquisador aposentado da Nasa, Jim Green, apresentou alguns benefícios como dieta mais diversa, vantagens nutricionais e psicológicas para os astronautas, conexão com o planeta Terra, sentimento de estar cumprindo com os objetivos, etc. Green também falou sobre os desafios para que isso aconteça.

O cientista ressalta que o astronauta consegue ver a planta e observar seu crescimento, indicando o progresso. Pode-se sentir o cheiro das plantas. “Não é apenas o visual do verde, são os aromas. E, na verdade, há nutrientes que a planta emite em seu aroma, o que contribui para um bom humor. Isso é muito importante. E, evidentemente, pode-se colher as plantas e consumi-las. Ou seja, há muitos sentidos envolvidos: a visão, o olfato e o paladar. E isso é denominado o ‘efeito verde’”, destacou Green.

No entanto, cultivar em Marte implica grandes desafios. Apesar do solo conter minerais essenciais, também possui toxinas. A superfície marciana contém minerais, carbono, hidrogênio, nitrogênio, oxigênio, fósforo, enxofre e toxinas. “É preciso ser capaz de identificar o material tóxico no solo, para que, quando houver cultivo de plantas, não haja consumo de toxinas. Então, é preciso preparar esse material de superfície para o cultivo. Isso é um grande desafio. Mas faremos isso. Estamos aprendendo a fazer isso”, concluiu.

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*Giulia Di Napoli colabora com reportagens para o portal da Itatiaia. Jornalista graduada pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), participou de reportagem premiada pela CDL/BH em 2022.