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Apesar da sensação de que a dor está dentro da cabeça, a ciência explica que o cérebro, curiosamente, não sente dor. Do ponto de vista biológico, o desconforto funciona como um alerta do organismo, sinalizando que algo não vai bem. No entanto, o tecido cerebral não possui estruturas capazes de registrar dor.
Segundo a especialista londrina em enxaqueca Anne MacGregor, essa aparente contradição tem uma explicação anatômica. O cérebro é responsável por processar a dor, mas só consegue fazer isso porque recebe sinais de outras partes do corpo.
Os sensores da dor, chamados nociceptores, estão presentes na pele, nos músculos, nos vasos sanguíneos e nas meninges, que são as membranas que envolvem o cérebro. É a ativação dessas estruturas que gera o sinal doloroso, posteriormente interpretado pelo sistema nervoso central.
Tipos de dor de cabeça
De acordo com a Organização Mundial da Saúde, o impacto da dor de cabeça ainda é subestimado pela sociedade. Estudos indicam que as cefaleias se dividem em três grandes grupos: primárias, secundárias e neuropatias cranianas. Em todas elas, a dor começa fora do cérebro, que apenas organiza e interpreta a informação recebida.
A cefaleia tensional é a mais comum. Está relacionada à contração dos músculos da cabeça e do pescoço e costuma estar associada ao estresse emocional e à falta de sono. Geralmente afeta os dois lados da cabeça e provoca uma sensação de pressão constante. Entre os fatores que podem desencadear esse tipo de dor estão o consumo de álcool, a desidratação e a permanência prolongada em más posturas.
Já a enxaqueca é caracterizada por crises de dor pulsátil intensa, mais frequentes em mulheres. Pode vir acompanhada de náuseas e sensibilidade à luz e ao som. Nesse caso, os nociceptores das meninges e dos vasos sanguíneos têm papel central, além de alterações em diferentes áreas do cérebro.
O neurologista Fernando Pérez Parra explica que, durante uma dor de cabeça, a origem do problema está nas meninges, nos vasos sanguíneos ou nos músculos do crânio e do pescoço. O cérebro atua como um centro de processamento, integrando os sinais por meio de conexões que envolvem o tálamo e o córtex somatossensorial.
Outro grupo importante é o das cefaleias autonômicas do trigêmeo. Elas incluem o chamado dor em salvas, conhecida pela intensidade capaz de acordar a pessoa durante o sono, e a hemicrania paroxística. Geralmente atingem apenas um lado da cabeça e podem causar sintomas como lacrimejamento e congestão nasal.
As cefaleias secundárias aparecem como consequência de outras condições de saúde, como infecções, lesões, problemas vasculares ou tumores. Casos como a neuralgia do trigêmeo mostram como danos em nervos periféricos podem provocar dores faciais intensas ou sensação de choque na região da cabeça.
Avanços da ciência e importância do diagnóstico
Como não existem nociceptores no cérebro, ele pode ser manipulado em cirurgias com o paciente acordado sem causar dor direta. Ainda assim, lesões em áreas centrais relacionadas ao processamento da dor, como o tálamo, podem provocar dores em outras partes do corpo, fenômeno conhecido como dor central, observado em alguns tipos de AVC e doenças neurológicas.
Pesquisas recentes avançam na compreensão do papel do ritmo biológico e de fatores genéticos na frequência e na gravidade das cefaleias. Novas abordagens terapêuticas, tanto medicamentosas quanto comportamentais, também estão em desenvolvimento, especialmente para a enxaqueca.
Estresse, alimentação, desidratação, distúrbios do sono e até infecções virais persistentes podem desencadear episódios de dor de cabeça. Por isso, manter um registro das crises e buscar avaliação médica é fundamental para um diagnóstico correto e um tratamento eficaz.
Especialistas reforçam que a dor de cabeça não deve ser ignorada, especialmente quando é persistente, frequente ou acompanhada de outros sintomas neurológicos. A atenção precoce pode fazer toda a diferença na qualidade de vida.