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Artrite e o clima: por que a dor parece piorar nos dias frios?

Especialista explica a sensação de aumento das dores articulares em dias frios

Doença é caracterizada por dores nas articulações

Durante muito tempo, pessoas com condições musculoesqueléticas —como artrite reumatoide, osteoartrite, gota e dores lombares — relataram aumento da dor em dias frios ou úmidos. Embora essa percepção seja comum, pesquisas recentes indicam que a relação entre o clima e as crises dolorosas pode ser menor do que se imaginava.

A médica Ashlesha Shukla destaca uma ampla revisão de 11 estudos internacionais, que reuniu mais de 15 mil participantes, e apontou evidências limitadas de que fatores climáticos, como temperatura, umidade, pressão atmosférica ou chuva, estejam diretamente associados ao agravamento das dores articulares. As pesquisas utilizaram o modelo de caso cruzado, método em que cada indivíduo é comparado a si mesmo em diferentes condições, o que contribui para a redução de possíveis distorções nos resultados.

Entre todas as condições avaliadas, a gota aparece como possível exceção. Em dias quentes e secos, o risco de desidratação aumenta, o que favorece o acúmulo de cristais de ácido úrico nas articulações, podendo desencadear episódios de dor. No entanto, para a maioria das doenças articulares crônicas, a relação entre o clima e os sintomas ainda é inconsistente.

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Pesquisas mais recentes sobre osteoartrite no joelho, uma das doenças articulares mais frequentes, sugerem que os sintomas variam conforme as condições climáticas e o horário do dia. As manhãs frias no inverno tendem a provocar maior rigidez e dor, enquanto, à noite, em ambientes mais aquecidos, muitos relatam melhora na mobilidade.

Exceções observadas

Esse cenário indica uma interação entre fatores externos, como a temperatura, e mecanismos internos do organismo, incluindo o relógio biológico e os ciclos hormonais. De acordo com cientistas, algumas hipóteses ajudam a explicar essa relação, entre elas:

  • Alterações na pressão atmosférica, que poderiam afetar a pressão nos líquidos das articulações, ativando terminações nervosas;
  • O frio, que reduz o fluxo sanguíneo e causa contração muscular, deixando os músculos mais enrijecidos;
  • O calor, que estimula a circulação, relaxa os músculos e costuma promover sensação de alívio.

Apesar dessas possibilidades, o impacto do clima sobre a dor ainda é difícil de isolar, pois diversos fatores interferem na forma como ela é percebida, como o estado emocional, a prática de exercícios, o nível de estresse e os processos inflamatórios.

Para quem convive com dores articulares, a recomendação é monitorar os próprios sintomas e adotar estratégias de cuidado personalizadas. Entre as ações mais indicadas estão realizar atividades físicas nos horários mais quentes, aplicar calor local para reduzir a rigidez, manter uma alimentação anti-inflamatória e cuidar do peso corporal.

Mesmo que o clima possa exercer alguma influência sobre as dores, ele representa apenas uma parte do quadro clínico. O avanço das pesquisas e o uso de tecnologias digitais, como aplicativos de rastreamento de sintomas, abrem caminho para tratamentos mais direcionados, adaptados ao perfil individual de cada paciente.

Jornalista pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Atualmente, é repórter multimídia no Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG). Antes passou pela TV Alterosa. Escreve, em colaboração com a Itatiaia, nas editorias de entretenimento e variedades.