Nos últimos anos, a expansão no cultivo e nas exportações de alfafa consolidou Córdoba, na
O destaque de Córdoba se deve tanto à área dedicada, atualmente com 610 mil hectares, quanto à estrutura produtiva e industrial articulada no chamado cluster da alfafa. Essa rede colaborativa, formada por mais de 100 instituições públicas e privadas, prepara uma missão à França e à Alemanha para o segundo semestre deste ano, com o objetivo de buscar parcerias e conhecimento técnico no 4º Congresso Mundial da Alfafa, em Reims, e na feira Agritechnica, em Hanover.
Mercado global em expansão
Mesmo com o otimismo, a Argentina ainda representa apenas 1,5% do comércio mundial de feno, conforme dados do setor. O país exporta em torno de 147 mil toneladas por ano, frente a um volume global de 9,8 milhões de toneladas, movimentado, sobretudo, pela demanda de fazendas especializadas em pecuária intensiva.
Em 2024, essas exportações geraram US$ 66 milhões (aproximadamente R$ 366,96 milhões), valor significativo, mas distante do potencial estimado por analistas e produtores.
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Córdoba na vanguarda da transformação
Plantação de Alfafa
Com a maior área plantada e quatro das sete usinas de recompactação de feno da Argentina, Córdoba se destaca como o maior polo exportador nacional. A província abriga ainda uma das duas plantas de desidratação existentes no país. Projeções do setor apontam que, com mais investimentos e expansão do parque industrial, a Argentina poderia exportar entre 800 mil e 1 milhão de toneladas de alfafa por ano, o que representaria cerca de US$ 250 milhões (aproximadamente R$ 1,39 bilhão) em receita anual.
Esse avanço dependerá não apenas da disponibilidade de terras, mas também da ampliação da infraestrutura e do uso de tecnologia. Para atingir os volumes projetados, seriam necessárias cerca de 50 usinas com capacidade de processar 20 toneladas por hectare ou o dobro disso com metade da capacidade. Esse salto exigiria investimentos significativos em unidades industriais, logística e armazenagem para garantir qualidade durante toda a cadeia de produção.
No ranking dos gigantes e uma oportunidade para crescer
O domínio global do mercado de feno está nas mãos dos Estados Unidos, que respondem por 58% das operações. Na sequência, aparecem Austrália (12%), Espanha (10%), Canadá (5%), e França e Itália com 2% cada. No lado da demanda, o Japão lidera como principal comprador, concentrando 26% das aquisições, seguido pela China (23%), Coreia do Sul (11%) e os Emirados Árabes Unidos (9%).
Diante desse cenário liderado por grandes potências, a presença ainda modesta da Argentina no comércio mundial tem incentivado líderes do setor a buscar mudanças estruturais. Córdoba assume papel central nesse processo, reunindo a maior parcela das exportações do país e funcionando como um núcleo de inovação no processamento industrial do feno.
Desafios estruturais para a expansão
Trator em campo agrícola
Para que a Argentina conquiste maior relevância no mercado internacional de alfafa, será preciso avançar significativamente no processo de industrialização. Segundo o cluster, é fundamental investir em tecnologias para desidratação, desenvolver centros de armazenagem e aprimorar a logística da cadeia produtiva.
O clima também representa uma barreira relevante. As regiões mais produtivas para a alfafa no país estão localizadas em zonas úmidas ou subúmidas, onde as chuvas coincidem com o período de crescimento da cultura. A secagem tradicional no campo exige uma sequência de 4 a 5 dias sem precipitações, condição nem sempre presentes, o que compromete a qualidade do produto.
Na prática, os produtores deixam de aproveitar dois dos seis cortes anuais por causa das chuvas, o que reduz substancialmente a quantidade de feno de alta qualidade disponível para consumo interno e exportação. Além disso, a umidade elevada do ambiente dificulta que o produto atinja o padrão internacional, com menos de 14% de umidade, necessário para o transporte em contêineres.
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O modelo espanhol como referência de inovação
A trajetória da Espanha é frequentemente mencionada como uma inspiração. No final dos anos 1990, o país tinha um desempenho parecido ao da Argentina atual, mas conseguiu inverter esse cenário ao investir de forma decisiva na industrialização. Hoje, são cerca de 60 unidades industriais de desidratação com tecnologia tipo tambor (tromel), responsáveis por processar aproximadamente metade da produção total do país.
Atualmente, a Espanha dedica 217 mil hectares ao cultivo de alfafa, dos quais cerca de 110 mil hectares passam por desidratação industrial. Essa mudança de escala permitiu que o país se tornasse um dos maiores exportadores de feno no mundo, superando diversos concorrentes tradicionais.
Córdoba concentra a maior superfície
Córdoba se consolidou como a principal produtora de alfafa da Argentina, reunindo a maior área cultivada e respondendo pelo maior volume de exportações do país. Essa posição reforça sua importância estratégica no desenvolvimento do setor e no cenário global do mercado de forragens.
Visão e expectativas do setor
O cluster da alfafa em Córdoba é composto por uma rede de instituições públicas e privadas empenhadas no fortalecimento da cadeia produtiva. Sob a coordenação de Gastón Urrets Zavalía, especialista do INTA Manfredi em forragens conservadas, o grupo promove alianças com o setor industrial, participa de missões técnicas e estimula a incorporação de experiências internacionais ao contexto argentino.
Os integrantes do setor acreditam que a expansão da capacidade industrial trará mais valor ao produto, além de superar gargalos logísticos, como a secagem inadequada, perdas causadas por chuvas e a escassez de centros de armazenagem. A médio e longo prazo, a instalação de novas plantas e o acesso a tecnologias modernas serão decisivos para posicionar a Argentina entre os principais fornecedores globais de feno de qualidade.
Um futuro condicionado pela infraestrutura
A fim de aproveitar integralmente o potencial oferecido pelo mercado global de alfafa, o setor reconhece a necessidade urgente de investir em infraestrutura e modernizar a cadeia. O caso espanhol mostra que um salto produtivo requer tanto vontade política quanto apoio financeiro e coordenação entre todos os envolvidos.
A experiência de Córdoba, marcada por sua organização e liderança nas exportações, serve de exemplo para outras regiões do país que pretendem ampliar suas áreas cultivadas e capacidades produtivas. A expectativa é multiplicar por cinco ou seis o volume exportável nos próximos anos e reposicionar a Argentina de forma significativa no cenário internacional do feno.