A retirada da vesícula biliar, cirurgia conhecida como colecistectomia, é uma das intervenções abdominais mais realizadas no Brasil, especialmente para tratar os cálculos biliares — popularmente chamados de “pedras” na vesícula.
Segundo levantamento publicado em 2024 no Brazilian Journal of Health Review, mais de 1,3 milhão de internações por esse problema foram registradas no Sistema Único de Saúde (SUS) entre 2019 e 2023, em pacientes com mais de 15 anos.
A pesquisa, baseada em dados do DATASUS e conduzida por universidades brasileiras e da Bolívia, apontou ainda que a colecistopatia calculosa atinge majoritariamente mulheres, com incidência 3,1 vezes maior em comparação aos homens. Do total de internações, 1.059.926 foram do sexo feminino e 328.213 do sexo masculino.
Apesar de frequente, o procedimento ainda levanta dúvidas sobre os impactos da ausência da vesícula no organismo. O órgão é responsável por armazenar a bile, substância produzida pelo fígado que auxilia na digestão de gorduras. No entanto, os especialistas garantem que a adaptação do corpo após a retirada costuma ser tranquila.
“Após a colecistectomia, a bile passa a escorrer continuamente para o intestino, mesmo fora dos períodos de alimentação. A recuperação, inclusive em casos de suspeita de câncer, pancreatite ou pólipos, é geralmente bem tolerada”, afirma o cirurgião Victor Edmond Seid, do Hospital Israelita Albert Einstein.
Por que surgem as pedras na vesícula?
Segundo o médico, os cálculos biliares se formam por conta de desequilíbrios nos componentes da bile e mau funcionamento da vesícula. Entre os fatores de risco está obesidade, alterações no colesterol, perda de peso rápida, idade acima de 40 anos, múltiplas gestações e cirurgias no sistema digestivo superior.
Mesmo assintomáticos, os cálculos podem causar complicações graves, como pancreatite ou colecistite, o que torna a cirurgia necessária. Entre os sintomas mais comuns estão dores no lado direito do abdômen, especialmente após refeições gordurosas, além de náuseas e má digestão.
Recuperação e vida pós-cirurgia
A maioria dos pacientes não sente diferença significativa na digestão após a retirada da vesícula. Em alguns casos, podem ocorrer fezes amolecidas ou episódios de diarreia nas primeiras semanas, principalmente após jejum ou consumo excessivo de gordura.
“O paciente geralmente sente alívio dos sintomas, pois a vesícula com cálculos já não estava funcional. A cirurgia, que é feita por laparoscopia na maior parte dos casos, é minimamente invasiva”, explica o cirurgião Hilton Libanori, também do Einstein.
Segundo Libanori, poucos pacientes relatam intolerância alimentar após a cirurgia. Pelo contrário, muitos experimentam melhora na digestão.
Durante o primeiro mês de recuperação, recomenda-se evitar alimentos gordurosos e atividades físicas intensas. Após esse período, a maioria das pessoas pode retomar a rotina sem restrições alimentares ou limitações funcionais.