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Estudo com 50 mil exames mostra que IA pode prever saúde cerebral no futuro, diz estudo

Apesar do avanço promissor, especialistas alertam que o uso clínico da tecnologia ainda é limitado

Estudo com 50 mil exames mostra que IA pode prever saúde cerebral no futuro, diz estudo

Um estudo conduzido por pesquisadores da Universidade Duke, nos Estados Unidos, mostrou que é possível prever o ritmo do envelhecimento cerebral a partir de um único exame de ressonância magnética. Utilizando inteligência artificial, a pesquisa analisou cerca de 50 mil exames de imagem e identificou padrões estruturais relacionados à perda de memória, atrofia cerebral e até risco de morte precoce.

Publicado na revista científica Nature Aging, o estudo aponta que alterações na espessura do córtex cerebral e no volume da massa cinzenta podem funcionar como marcadores para estimar o estado de saúde do cérebro ao longo do tempo. A ferramenta desenvolvida pelos cientistas, chamada DunedinPACNI, baseia-se em dados do Estudo Dunedin, que acompanha há mais de 50 anos mil voluntários na Nova Zelândia.

“O modelo consegue identificar o envelhecimento do cérebro por meio de sinais estruturais, como redução da substância branca e cinzenta e atrofia do hipocampo”, explica o neurologista Marco Túlio Pedatella, do Hospital Israelita Albert Einstein, em Goiânia. “Isso permite detectar o declínio cognitivo mesmo em pessoas sem sintomas.”

Diagnóstico precoce, mas com ressalvas

Apesar do avanço promissor, especialistas alertam que o uso clínico da tecnologia ainda é limitado. O neurologista Eduardo Zimmer, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), ressalta que o modelo foi desenvolvido com base em dados de uma população específica — neozelandeses —, o que exige validação local antes de ser incorporado à prática médica no Brasil.

Outro obstáculo é o acesso restrito aos exames de imagem no país. Mesmo na rede privada, a ressonância magnética ainda é um procedimento caro e pouco acessível. “Atualmente, só se recomenda o exame quando há queixas cognitivas relevantes”, afirma o neurologista Victor Calil, membro da Academia Brasileira de Neurologia (ABN). “Fazer ressonância em pessoas assintomáticas pode gerar ansiedade desnecessária.”

Na rede pública, o rastreio de alterações cognitivas é feito com base em testes simples aplicados por agentes comunitários de saúde, que avaliam habilidades motoras e de memória. Segundo especialistas, a falta de protocolo oficial para o uso de ressonância magnética no acompanhamento do envelhecimento cerebral impede uma resposta mais estruturada do Sistema Único de Saúde (SUS).

“Seria necessário treinar profissionais da atenção primária para identificar os casos suspeitos, criar fluxos de encaminhamento e garantir estrutura diagnóstica adequada, o que ainda não ocorre na prática”, aponta Pedatella.

Hábitos saudáveis ainda são a principal forma de prevenção

Enquanto a tecnologia não avança para o uso cotidiano, médicos reforçam que os melhores caminhos para preservar a saúde cerebral continuam sendo os cuidados com o estilo de vida. Controlar doenças crônicas, manter uma boa rotina de sono, praticar exercícios físicos, alimentar-se bem e estimular o aprendizado contínuo são atitudes que reduzem significativamente os riscos de declínio cognitivo com o avanço da idade.

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Formada em jornalismo pelo Centro Universitário de Belo Horizonte (UniBH), já trabalhou na Record TV e na Rede Minas. Atualmente é repórter multimídia e apresenta o ‘Tá Sabendo’ no Instagram da Itatiaia.