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Do diabetes à hipertrofia: o uso preocupante da insulina como anabolizante nas academias

Com potencial anabólico elevado, insulina preocupa médicos ao entrar na mira de fisiculturistas

O uso de anabolizantes sem prescrição médica ou para fins estéticos é proibido no Brasil, desde 2023, pelo Conselho Federal de Medicina (CFM)

No mundo do fisiculturismo e da busca pela hipertrofia muscular, o uso da insulina para fins estéticos tem gerado preocupação entre especialistas da área da saúde. O hormônio, que deveria ser usado sob prescrição médica por pessoas com diabetes, tem sido injetado por praticantes de treinos intensos com o objetivo de acelerar o ganho de massa muscular.

A popularização dos chamados “sucos” anabolizantes entre bodybuilders e frequentadores das academias é impulsionada pelo desejo de alcançar, em pouco tempo, resultados mais rápidos na definição e volume muscular. As substâncias mais utilizadas nesse meio estão o hormônio do crescimento (GH), a testosterona, o durateston, o sulfato de DHEA (deidroepiandrosterona), a oxandrolona - um derivado sintético da testosterona e, mais recentemente, a insulina.

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Ação da insulina

A insulina é indicada para pessoas que têm diabetes tipo 1 e, dependendo dos casos, para pacientes com diabetes tipo 2. Além de ter um papel importante no metabolismo, ela atua facilitando a entrada da glicose nas células e estimulando o armazenamento de energia, além de favorecer a síntese proteica. No entanto, para aqueles que não são diabéticos, o uso da insulina pode representar sérios riscos à saúde.

O médico endocrinologista e professor da Faculdade Ciências Médicas de Minas Gerais, Levimar Araújo, explica que, “a insulina é o maior anabolizante que temos, mais potente até mesmo que a testosterona. Ela atua em todas as vias metabólicas, promovendo a síntese de proteínas, gorduras e glicogênio. Mas, usá-la com fins estéticos é extremamente perigoso.”

Riscos

Entre os riscos mais imediatos, está a hipoglicemia, uma queda brusca nos níveis de glicose no sangue, que pode provocar tontura, tremores, confusão mental, convulsões e, em casos mais severos, leva ao coma ou à morte.

Entretanto, o quadro do uso da insulina por pessoas não diabéticas, especialmente sem acompanhamento médico ou sem uma alimentação adequada que compense a ação, é mais grave.

Para pessoas com diabetes, o médico ressalta que o uso de anabolizantes como a testosterona pode ser indicado apenas em casos de deficiência hormonal comprovada, com o objetivo de repor os níveis que estão abaixo do normal.

Uso indiscriminado de hormônios

Porém, em pessoas não diabéticas, o endocrinologista alerta também para as consequências do uso indiscriminado de anabolizantes em geral. “O excesso de testosterona, por exemplo, nos homens, pode causar atrofia testicular, impotência sexual, infertilidade, aumento do risco de câncer de fígado e testículo, aumento nas espinhas, e insuficiência renal grave, exigindo a diálise ou transplante”, ressaltou.

Nas mulheres, o endocrinologista também explicou que os impactos são igualmente severos, “desde irregularidade menstrual, crescimento excessivo de pelos, surgimento de acnes, queda de cabelo e até a hipertrofia do clitóris.”

Além das consequências físicas, os impactos da superdosagem hormonal pode afetar o comportamento, deixando-os mais agressivos, impulsivos, irritados e com distúrbios do sono. A longo prazo, há ainda riscos de hipertrofia cardíaca.

“O uso indiscriminado de hormônios precisa ser avaliado a curto, médio e longo prazos. Com o tempo, o que parecia inofensivo pode levar a consequências graves, como insuficiência renal, infertilidade e até câncer”, alerta o endocrinologista.

Todo tratamento deve ser feito com acompanhamento de um endocrinologista, especialista responsável pelo equilíbrio hormonal do organismo. O ganho muscular saudável leva tempo, disciplina e orientação adequada, e atalhos hormonais podem até trazer resultados rápidos, mas colocam em risco a saúde.

Estudante de jornalismo na PUC Minas e estagiária da Itatiaia