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Consumo de álcool, mesmo em pequenas quantidades, acelera envelhecimento cerebral

Pesquisa inédita com uso de inteligência artificial aponta que até o consumo leve ou moderado já impacta negativamente a saúde do cérebro

Consumo moderado de álcool acelera envelhecimento cerebral, aponta pesquisa

Um estudo conduzido por pesquisadores da Universidade da Carolina do Norte, nos Estados Unidos, indica que o consumo de álcool - em qualquer quantidade - pode provocar envelhecimento precoce do cérebro, mesmo entre adultos jovens. Os resultados, publicados no periódico Alcohol: Clinical & Experimental Research, mostraram que até pequenas quantidades de bebida alcoólica são suficientes para afetar a cognição.

A novidade do trabalho está na aplicação de uma ferramenta de inteligência artificial, que permitiu estimar a idade cerebral dos participantes com base em exames de imagem e testes cognitivos. A pesquisa envolveu 58 voluntários, com idades entre 22 e 40 anos, que relataram consumo leve a moderado de álcool. Eles passaram por avaliações cognitivas específicas, voltadas à chamada flexibilidade comportamental — a capacidade de adaptação a mudanças — além de exames de ressonância magnética.

“O álcool é sabidamente tóxico, ele deprime o sistema nervoso central e, cada vez que a pessoa bebe em excesso, morrem milhares de neurônios”, explica o neurologista Ivan Okamoto, do Hospital Israelita Albert Einstein.

A IA cruzou dados de desempenho, idade cronológica e histórico de consumo de álcool, revelando uma associação direta entre maior ingestão de bebida e aumento na idade estimada do cérebro. Os participantes que relataram maior frequência no uso do álcool apresentaram mais erros nos testes cognitivos, sinalizando um possível comprometimento precoce das funções cerebrais.

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Abusos

Embora os efeitos do abuso de álcool sobre o cérebro já sejam conhecidos, esta é a primeira vez que um estudo demonstra impactos detectáveis em adultos jovens e com hábitos considerados moderados de consumo. O neurologista Ivan Okamoto, do Hospital Israelita Albert Einstein, reforça que o álcool é neurotóxico e pode levar à morte de milhares de neurônios a cada episódio de consumo excessivo. “A longo prazo, o cérebro atrofia, o que pode resultar em um quadro irreversível de demência alcoólica”, alerta.

A pesquisa corrobora a orientação da Organização Mundial da Saúde (OMS), que afirma não haver nível seguro de ingestão alcoólica.

Segundo o Centro para Controle e Prevenção de Doenças (CDC), dos Estados Unidos, o consumo moderado é definido como até duas doses diárias para homens e uma para mulheres. No entanto, fatores como frequência, quantidade e sensibilidade individual influenciam diretamente nos efeitos da bebida.

“O alcoolismo é uma doença. Quanto mais cedo se inicia o consumo, maior o risco de dependência”, destaca Okamoto. “A tolerância ao álcool varia de pessoa para pessoa, e muitas vezes a percepção de alteração é sutil. Por isso, para quem dirige, a recomendação é de tolerância zero”, conclui o especialista.

Formada em jornalismo pelo Centro Universitário de Belo Horizonte (UniBH), já trabalhou na Record TV e na Rede Minas. Atualmente é repórter multimídia e apresenta o ‘Tá Sabendo’ no Instagram da Itatiaia.