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Envelhecimento do cérebro é acelerado por desigualdade, poluição e instabilidade política, aponta estudo

Riscos de declínio cognitivo são maiores em países mais desiguais

Brasil é o 33º melhor melhor país para se aposentar, diz pesquisa; confira o ranking | CNN Brasil

Um estudo publicado na revista Nature Medicine revela que o envelhecimento cerebral pode ser acelerado por fatores sociais e ambientais, como instabilidade política, poluição do ar e desigualdade social. A pesquisa foi conduzida por 41 cientistas de diversos países — incluindo três brasileiros apoiados pelo Instituto Serrapilheira, organização privada sem fins lucrativos.

Foram analisados dados de 161.981 pessoas de 40 países, entre eles o Brasil. Usando inteligência artificial e modelagem epidemiológica, os pesquisadores avaliaram as chamadas “diferenças de idade biocomportamentais” (BBAGs) — uma métrica que compara a idade cronológica de uma pessoa com a idade estimada a partir de sua saúde, cognição, escolaridade, funcionalidade e fatores de risco como doenças cardíacas e deficiências sensoriais.

O estudo desafia a ideia de que o envelhecimento é determinado apenas por fatores individuais, como genética e estilo de vida. Segundo os autores, o ambiente em que vivemos tem um peso considerável no ritmo de envelhecimento do cérebro.

“Os resultados mostram, de maneira marcante, que o local onde vivemos pode nos envelhecer mais rapidamente, aumentando o risco de declínio cognitivo e funcional. Em um país desigual como o Brasil, esses achados são extremamente relevantes para políticas públicas”, afirma Eduardo Zimmer, professor da UFRGS e um dos autores da pesquisa.

Entre os fatores associados ao envelhecimento acelerado estão:

  • baixa renda;
  • má qualidade do ar;
  • desigualdade de gênero;
  • questões migratórias;
  • falta de representação política;
  • restrições à liberdade partidária;
  • limitações ao direito de voto;
  • e fragilidade democrática.

Países com altos níveis de corrupção e baixa qualidade institucional tendem a ter maiores índices de envelhecimento cerebral. O estudo também aponta que a confiança no governo está ligada a melhores condições de saúde, enquanto a desconfiança e a polarização aumentam a mortalidade e prejudicam a resposta a crises sanitárias.

A exposição prolongada a contextos de governança instável, segundo os autores, pode levar a um estado crônico de estresse, com impactos negativos sobre o sistema cardiovascular e a função cognitiva.

Os resultados mostram disparidades regionais: países europeus como França, Alemanha e Suíça, além de asiáticos como China, Coreia do Sul, Israel e Índia, apresentaram envelhecimento mais lento. Já nações africanas como Egito e África do Sul registraram envelhecimento mais acelerado. O Brasil ficou numa posição intermediária.

“O lugar onde nascemos e vivemos influencia de forma desigual o envelhecimento do cérebro. Europa, África e América Latina oferecem contextos muito distintos de acesso a recursos e saúde”, explica Wyllians Borelli, pesquisador da UFRGS.

“Mais do que focar apenas nos fatores individuais de risco, é urgente que autoridades priorizem a redução das desigualdades sociais e o desenvolvimento regional para promover um envelhecimento saudável da população”, reforça Lucas da Ros, também da UFRGS e coautor do estudo.

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