As mulheres que têm histórico e predisposição a trombose podem encontrar no uso do Dispositivo Intrauterino (DIU) hormonal uma solução para prevenir uma gravidez indesejada, sem riscos adicionais. Isso porque o DIU hormonal não aumenta as chances de uma trombose e ainda ajuda na redução do fluxo menstrual, segundo um estudo realizado pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
O assunto foi tema da tese de mestrado em Saúde da Mulher da ginecologista Júnea Chagas. Em entrevista à Itatiaia, a médica contou que enfrenta a resistência das pacientes, especialmente aquelas já tiveram algum episódio de tromboembolismo, em usar o DIU hormonal.
“Ainda existe muito tabu e desconhecimento sobre métodos contraceptivos hormonais. Se já é difícil falar sobre eles com mulheres saudáveis, com aquelas que já tiveram trombose é ainda mais complicado”, revela.
A pesquisa de Júnea mostrou que como o DIU hormonal tem apenas um tipo de hormônio, o progestagênio (progesterona) isolado, ele não aumenta o risco de trombose. O que faz com que esse risco aumente é o hormônio etinilestradiol (estrogênio), comumente usado em pílulas anticoncepcionais.
“A mulher que já teve um episódio de trombose não pode usar nunca mais o estrogênio. Hoje, a grande maioria das pílulas disponíveis usam hormônios combinados (progesterona + estrogênio), por isso não são indicadas. Já existem pílulas só de progesterona, mas ainda são poucas”, explica.
Método diminui sangramento e melhora qualidade de vida das pacientes
A saída, então, é considerar o uso do DIU hormonal, que além de prevenir uma gravidez indesejada, também não aumenta o fluxo sanguíneo nas pacientes. Mas, mesmo sendo a opção mais segura, muitas mulheres ainda temem usá-lo.
“A mulher que já teve trombose tem pavor de hormônio. Muitas delas também precisam tomar remédios anticoagulantes, e 70% de quem toma tem um sangramento intenso. Se essa mulher coloca um DIU de cobre, ele pode aumentar o fluxo menstrual em até 40%. Então, imagina isso. Com o DIU hormonal, que não aumenta o risco de trombose, ela tem uma diminuição desse sangramento e mais qualidade de vida. A gente tenta mostrar que elas vão ter menos problemas com anemia, menos chance de ir a uma urgência ou se afastar do trabalho, por exemplo, em caso de hemorragia, e vão ter mais disposição”, afirma.
Porém, mesmo com todos os benefícios comprovados, a desinformação sobre o tema ainda acomete pacientes e médicos de outras áreas.
“Eu tenho uma paciente com endometriose, com histórico de trombose, que não colocou o DIU hormonal porque um médico de outra especialidade disse que ela não podia. Ela não tratou a doença e acabou piorando, tendo que voltar ao meu consultório. Então, enfrentamos barreiras inclusive de outras especialidades médicas”, conta.
Como o DIU hormonal funciona?
Segundo Júnea, o DIU hormonal não interrompe completamente o ciclo menstrual da mulher, que continua inclusive ovulando na maior parte dos meses. O que acontece é que 80% do hormônio fica retido no útero, deixando o muco bastante espesso para dificultar a movimentação dos espermatozoides e, consequentemente, a fecundação do óvulo.
Os outros 20% caem na corrente sanguínea e interrompem parcialmente o ciclo. Por isso, o DIU hormonal inibe somente cerca de 25% das ovulações.
Além disso, o sangramento é reduzido com o uso do DIU hormonal, alcançando um padrão considerado bom pelos médicos. Isso que dizer que as mulheres que utilizam o método podem menstruar pouco uma vez no mês, uma vez a cada dois ou três meses, ou até não sangrar.
O método também é considerado reversível, ou seja, não prejudica a fertilidade da mulher. Então, a paciente consegue engravidar normalmente se tirar o contraceptivo. “Estudos já mostraram que quando há a suspensão do método anticoncepcional, independentemente de ser pílula, DIU de Cobre, DIU hormonal, ou outro, a taxa de concepção fica, em até um ano, a mesma de quem nunca usou nenhum método”, pontua a médica.
DIU é um dos contraceptivos mais eficazes
Ainda segundo a pesquisa, 80% das mulheres brasileiras utilizam algum tipo de método anticoncepcional, porém 55,5% das gravidezes ainda acontecem de forma não planejada no país. A pesquisadora comenta que isso acontece devido aos tipos de contraceptivos escolhidos pela população.
“A maioria das brasileiras utiliza métodos que dependem de uma certa disciplina para funcionarem (como a pílula anticoncepcional). Mas, com a vida corrida, é normal que elas se esqueçam de tomar o remédio algum dia, o que impacta nessa eficácia. Só 2% das mulheres brasileiras usam DIU ou implante, métodos que não precisam de disciplina. Eles vão continuar funcionando mesmo que você não se lembre que eles estão ali”, comenta.