O tenente-coronel Fabrício Moreira de Bastos, um dos réus por tentativa de golpe de Estado no Supremo Tribunal Federal, declarou em depoimento nesta segunda-feira (28) que recebeu ordens do Centro de Inteligência do Exército (CIE) para obter e repassar ao alto comando militar uma carta assinada por oficiais da ativa. O documento, segundo ele, seria apenas um desabafo e estava mal escrito.
Bastos é um dos nove integrantes do núcleo três da investigação conduzida pela Polícia Federal, que apura ações articuladas para manter Jair Bolsonaro no poder após a derrota nas eleições de 2022. Ele também faz parte dos chamados “kids pretos”, grupo composto por militares das forças especiais do Exército.
Durante o interrogatório, o tenente-coronel afirmou:
- Que a ordem partiu de seu superior direto no CIE, coronel De La Vega;
- Que o objetivo era “dissuadir” militares da ativa de aderirem à carta, e não incentivá-los;
- Que o coronel Bernardo Corrêa Neto, colega de turma da Aman, repassou o documento a pedido dele;
- Que entregou pessoalmente uma cópia do texto ao general responsável logo na manhã seguinte;
- Que o conteúdo da carta era “ingênuo” e expressava uma visão distorcida de alguns coronéis da ativa.
A Procuradoria-Geral da República, no entanto, aponta que a carta tinha como objetivo pressionar o alto comando do Exército a aderir ao movimento golpista. Há mensagens de Bastos compartilhando o documento com outros integrantes das forças especiais, o que, para os investigadores, caracteriza tentativa de articulação política dentro da estrutura militar.
Reunião suspeita e planejamento
Segundo a PGR, o conteúdo da carta foi discutido em uma reunião realizada em 28 de novembro de 2022, em um salão de festas de um condomínio na Asa Norte, em Brasília. Estavam presentes, de acordo com a denúncia:
- Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro;
- Bernardo Romão Corrêa Neto;
- Sérgio Cavaliere;
- Fabrício Moreira de Bastos, entre outros militares.
As investigações apontam que, além de discutir o documento, os participantes teriam elaborado planos de “ações coercitivas” contra autoridades da República para impedir a posse do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva. Entre os alvos estariam os ministros Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes, do STF, e o então presidente do Senado, Rodrigo Pacheco.
A defesa dos réus nega qualquer articulação para golpe e afirma que o encontro teve caráter de confraternização, sem qualquer tipo de planejamento formal.
Quem são os réus interrogados
O Supremo Tribunal Federal está ouvindo nesta semana os integrantes do chamado núcleo três da trama investigada. A maioria é composta por militares das forças especiais do Exército. São eles:
- Bernardo Romão Corrêa Neto (coronel);
- Estevam Cals Theophilo (general da reserva);
- Fabrício Moreira de Bastos (tenente-coronel);
- Sérgio Ricardo Cavaliere (tenente-coronel);
- Hélio Ferreira Lima (tenente-coronel);
- Márcio Nunes de Resende Júnior (coronel);
- Rafael Martins de Oliveira (tenente-coronel);
- Rodrigo Bezerra de Azevedo (tenente-coronel);
- Ronald Ferreira (tenente-coronel);
- Wladimir Matos Soares (agente da Polícia Federal).
As audiências ocorrem por videoconferência e fazem parte da etapa de instrução da ação penal que tramita no STF sob relatoria do ministro Alexandre de Moraes.