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Fux diverge de Moraes e vota contra tornozeleira eletrônica para Bolsonaro

Ministro foi o único a discordar das medidas cautelares impostas ao ex-presidente no inquérito sobre atentado à soberania nacional

Fux vota para aceitar denúncia contra seis integrantes do “núcleo 2“ | CNN Brasil

O ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal (STF), votou contra a imposição de tornozeleira eletrônica e outras medidas cautelares a Jair Bolsonaro (PL), no inquérito que investiga a articulação do ex-presidente e de seu filho, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), contra instituições e autoridades brasileiras. A manifestação de Fux foi registrada nos últimos minutos da segunda-feira (21), próximo ao prazo final do julgamento da Primeira Turma da Corte, realizado em plenário virtual.

Apesar da divergência, a maioria dos ministros - Flávio Dino, Cristiano Zanin e Cármen Lúcia - acompanhou o relator do caso, Alexandre de Moraes, e formou maioria de 4 votos a 1 pela manutenção das restrições.

Em seu parecer, Fux afirmou que, no momento, não há justificativa suficiente para limitar as liberdades do ex-presidente. Segundo o ministro, as medidas impostas restringem “desproporcionalmente direitos fundamentais, como a liberdade de ir e vir e a liberdade de expressão”, sem que haja uma demonstração concreta e atual da necessidade das cautelares.

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“Mesmo para a imposição de cautelares penais diversas da prisão, é indispensável a demonstração concreta da necessidade da medida para a aplicação da lei penal”, escreveu.A posição do ministro diverge da decisão tomada por Moraes na semana passada, quando o relator atendeu a um pedido da Polícia Federal e determinou o uso de tornozeleira eletrônica por Bolsonaro, além de recolhimento domiciliar entre 19h e 7h nos dias úteis, e em tempo integral nos fins de semana e feriados.

O ex-presidente também está proibido de manter contato com autoridades e representantes estrangeiros, assim como de se aproximar de embaixadas e consulados. As medidas cautelares foram referendadas pela Procuradoria-Geral da República (PGR).

A decisão foi tomada no âmbito da investigação que apura se Bolsonaro incentivou ações que colocam a soberania nacional em risco, ao colaborar com agentes políticos dos Estados Unidos contra instituições brasileiras - especialmente o STF.

Operação e apreensões

As medidas foram adotadas após autorização de Moraes para que a Polícia Federal cumprisse mandados de busca e apreensão na casa de Bolsonaro e na sede do PL, em Brasília. Durante a operação, os agentes apreenderam um celular, um pendrive e cerca de US$ 14 mil em espécie.

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A investigação teve início após declarações do presidente norte-americano Donald Trump, que anunciou uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros. Na ocasião, Trump afirmou que a medida foi motivada, entre outros fatores, pela suposta postura do STF em relação a Bolsonaro.

Em sua decisão, Moraes apontou que Bolsonaro e seu filho, o deputado Eduardo Bolsonaro, teriam atuado para instigar e auxiliar o governo estrangeiro na prática de “atos hostis ao Brasil” e na tentativa de “submeter o funcionamento do Supremo Tribunal Federal aos Estados Unidos da América”.

Defesa fala em “suprema humilhação”

A defesa do ex-presidente afirmou, em nota, que recebeu com “surpresa e indignação” a imposição das medidas. Em entrevista após a instalação da tornozeleira, Bolsonaro negou qualquer intenção de deixar o país e classificou a decisão como uma “suprema humilhação”.

Supervisor da Rádio Itatiaia em Brasília, atua na cobertura política dos Três Poderes. Mineiro formado pela PUC Minas, já teve passagens como repórter e apresentador por Rádio BandNews FM, Jornal Metro e O Tempo. Vencedor dos prêmios CDL de Jornalismo em 2021 e Amagis 2022 na categoria rádio