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Defesa de Braga Netto acusa Mauro Cid de mentir em acareação no STF

‘Uma pessoa que presta dez depoimentos e nunca tem prova de nada’, diz advogado do general após réus por tentativa de golpe ficaram frente à frente em audiência nesta terça

Braga Netto, preso no Rio de Janeiro, participa da fase de interrogatório do julgamento por videoconferência

O advogado do general da reserva Walter Braga Netto, José Luis de Oliveira Lima, afirmou nesta terça-feira (24) que o tenente-coronel Mauro Cid mentiu durante a acareação entre os dois no Supremo Tribunal Federal. Segundo o defensor, Braga Netto chegou a chamar Cid de “mentiroso” duas vezes ao longo da audiência, sem que houvesse reação por parte do ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro.

“O senhor Mauro Cid permaneceu o tempo todo de cabeça baixa. O general o chamou de mentiroso, e ele não retrucou quando teve a oportunidade de falar”, relatou Juca, como é conhecido o advogado. Para ele, Cid se contradisse ainda mais no depoimento desta terça. “Uma pessoa que presta dez depoimentos e nunca tem prova de nada. Ele mente aqui, mente ali”, disse à imprensa.

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A acareação foi conduzida pelo ministro Alexandre de Moraes, relator do processo que investiga uma tentativa de golpe de Estado em 2022, com a presença do ministro Luiz Fux. O encontro durou quase duas horas e ocorreu em uma sala de audiências no STF, a portas fechadas. Não houve gravação em áudio ou vídeo, apenas o registro em ata - o que também foi alvo de críticas por parte da defesa de Braga Netto.

Entre as contradições apontadas, está o local em que o dinheiro do suposto financiamento do plano golpista teria sido entregue. Cid mencionou três locais diferentes: uma garagem, um estacionamento e, por fim, a “sala de ajuda de ordens” no Palácio da Alvorada. Segundo a defesa, Cid não apresentou nenhuma prova da entrega do dinheiro e chegou a afirmar que o pacote estava lacrado - o que, segundo o advogado, inviabiliza a descrição do conteúdo, como ele havia feito anteriormente.

A defesa também contestou o relato de Cid sobre uma reunião ocorrida na casa de Braga Netto, em novembro de 2022. O tenente-coronel diz que foi um encontro em que se discutiu o resultado das eleições e a atuação das Forças Armadas. Braga Netto, por outro lado, classificou a ocasião como uma “visita de cortesia”, e afirma que Cid permaneceu o tempo inteiro no local, ao contrário do que ele disse à Polícia Federal. A defesa de Cid não se manifestou após a acareação.

Braga Netto está preso preventivamente desde dezembro do ano passado e foi autorizado a deixar a unidade militar onde está detido, no Rio de Janeiro, para comparecer presencialmente à acareação. Essa foi a primeira vez que o general deixou o local desde sua prisão.

Após o encontro entre Cid e Braga Netto, Moraes também conduz a acareação entre o ex-ministro da Justiça, Anderson Torres, e o ex-comandante do Exército, Marco Antônio Freire Gomes, sobre reuniões no Palácio da Alvorada nas quais o ex-presidente Jair Bolsonaro teria apresentado medidas para tentar reverter o resultado eleitoral.

As acareações foram solicitadas pelas próprias defesas, com o objetivo de esclarecer divergências entre os depoimentos. As atas com os registros serão juntadas ao processo.

Supervisor da Rádio Itatiaia em Brasília, atua na cobertura política dos Três Poderes. Mineiro formado pela PUC Minas, já teve passagens como repórter e apresentador por Rádio BandNews FM, Jornal Metro e O Tempo. Vencedor dos prêmios CDL de Jornalismo em 2021 e Amagis 2022 na categoria rádio