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Coronel nega envolvimento em minuta golpista e diz que só soube de documento pela imprensa

Reginaldo Abreu é acusado de atuar na desinformação sobre o processo eleitoral e teria tentado influenciar relatório das Forças Armadas sobre as eleições de 2022

Supremo Tribunal Federal

O coronel do Exército Reginaldo Vieira de Abreu, ex-chefe de gabinete de Mário Fernandes na Secretaria-Geral da Presidência, negou ao Supremo Tribunal Federal (STF), nesta quinta-feira (24), qualquer envolvimento com a chamada “Gab_Crise_GSI.doc”, documento supostamente relacionado à criação de um gabinete de crise para contestar o resultado das eleições presidenciais de 2022.

Réu no inquérito que apura a tentativa de golpe de Estado e integrante do núcleo quatro da trama — responsável, segundo a Procuradoria-Geral da República (PGR), por disseminar desinformação — Abreu afirmou que tomou conhecimento da existência do documento apenas pela imprensa. “Eu vi o meu nome primeiro na imprensa, nesse documento vazado, e depois eu vi no relatório da Polícia Federal. E, para minha surpresa, eu fazia parte da inteligência”, declarou.

Segundo a PGR, o coronel teria impresso seis cópias do documento classificado como sigiloso, além de tentar interferir no conteúdo dos relatórios elaborados pelas Forças Armadas sobre a segurança do processo eleitoral. Abreu, no entanto, negou as acusações e disse que jamais teve acesso a documentos de tal nível de classificação. Reforçou também que sua função no gabinete era meramente administrativa, sem envolvimento direto em decisões políticas.

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“Eu não tinha poder de decisão. A minha principal função ali era administrativa”, afirmou, ao se referir à relação com Mário Fernandes, general da reserva e então número dois da Secretaria-Geral da Presidência, também réu no mesmo processo.

A Polícia Federal aponta que mensagens atribuídas a Abreu sugerem uma tentativa de alinhar o conteúdo do relatório militar a dados falsos divulgados pelo influenciador argentino Fernando Cerimedo, também investigado por participar da ofensiva golpista. Numa das mensagens, Abreu menciona: “Essa apresentação do pessoal da Argentina... nosso relatório do Exército tem que estar, no mínimo, alinhado com eles, pra dar veracidade ao nosso”.

Questionado sobre essa fala, o coronel alegou que nunca teve acesso à tal apresentação e voltou a afirmar que não participou da elaboração de nenhum conteúdo relacionado à contestação das eleições. “Estou sendo julgado por uma impressão que não fiz e por áudios que não saíram do meu telefone”, declarou ao final do depoimento.

As investigações seguem em curso no STF, sob relatoria do ministro Alexandre de Moraes, com foco nos diferentes núcleos envolvidos na tentativa de subversão da ordem democrática após a derrota de Jair Bolsonaro (PL) nas urnas.

Aline Pessanha é jornalista, com Pós-graduação em Marketing e Comunicação Integrada pela FACHA - RJ. Possui passagem pelo Grupo Bandeirantes de Comunicação, como repórter de TV e de rádio, além de ter sido repórter na Inter TV, afiliada da Rede Globo.