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A curiosa história da cápsula do tempo perdida da Câmara de BH

Cápsula do tempo com documentos, cartas, memórias e imagens deverá ser aberta apenas em 2036, mas seu paradeiro é um mistério

Capsula do Tempo traz cartas, sugestões e documentos da capital mineira, que registrou rápido crescimento e desenvolvimento entre os anos 1970 e 1980

Pouca gente ouviu falar e quase ninguém sabe achar, mas em algum lugar nos arredores da Câmara Municipal de Belo Horizonte está escondida uma cápsula do tempo.

A urna, lacrada há cerca de 40 anos no Legislativo Municipal, no Bairro Santa Efigênia, Região Leste da capital, deverá ser aberta em 2036, meio século depois de ser colocada junto à pedra fundamental do prédio da Câmara.

A Itatiaia teve acesso à um documento histórico, que narra o dia em que começaram as obras do prédio.

Naquela época, em 12 de outubro de 1987, toda a classe política municipal, além de jornalistas, lideranças e moradores, acompanharam a colocação da pedra fundamental do prédio da câmara, que marcava simbolicamente a construção do edifício. O então governador de Minas, Newton Cardoso, além do prefeito da capital, Sérgio Ferrara, estiveram na cerimônia. O ato também contou com o presidente da Câmara naquele ano, o vereador Paulo Portugal.

Segundo o documento em que a reportagem teve acesso, foram colocados na urna documentos como cartas de cidadãos da cidade, um álbum de fotos da história da Câmara, sinopse da reforma orgânica estrutural do legislativo, documentos arquitetônicos, retratos de políticos, mensagens, relação de servidores da época, jornais do dia do evento, moedas e notas, e mensagens redigidas por estações de rádio e TV. Tudo isso só poderia ser revisitado em 50 anos.

A pedra foi colocada, enquanto eram hasteadas as bandeiras do Brasil, de Minas Gerais, e de Belo Horizonte. O hino nacional era entoado pela Banda da Polícia Militar, e os vereadores vivos que eram fundadores do Legislativo, foram homenageados.

Capsula do tempo foi enterrada durante a inauguração da Câmara Municipal de BH

Nomes da Itatiaia, como os jornalistas e apresentadores Acir Antão, e Eduardo Costa, testemunharam a colocação da urna. Eduardo, inclusive, deixou uma carta na cápsula do tempo, para ser lida 50 anos depois.

Aviões da Força Aérea Brasileira (FAB), fizeram manobras no céu da capital, e pombas brancas foram soltas para um revoada que marcou o encerramento da cerimônia.

Hoje, poucos servidores sabem da existência da urna, tendo em vista que não há nenhuma identificação dela. A conservação da cápsula também não é sabida, mas fontes afirmam que ela permanece lacrada.

Mudança de local e ‘quase abertura’ da cápsula

O atual prédio da Câmara Municipal passou por anos por intensas reformas. Logo na inauguração do prédio, em 1988, diversos problemas com transferência de mobiliário, instalação de cabos de telefonia e ventilação, foram relatados e são lembrados por jornalistas que cobriram o legislativo naquela ocasião.

A última reforma mais intensa, terminada em 2023, foi a da recriação da Praça do Constituinte, que integra a entrada principal do prédio, e é vista pela Avenida dos Andradas. Era naquele espaço que ficava a pedra fundamental, e a placa estrutura que protegia a cápsula do tempo, mas acabou sendo retirada dali, e afixada na entrada do estacionamento da Câmara.

Correm informações nos bastidores que durante as obras, quase que foi autorizada a abertura antecipada da cápsula, mas o alto escalão da Câmara preferiu não correr o risco de causar mais uma polêmica, diante do contexto já conflituoso que já existia naquela época, com clima quase bélico entre vereadores, e má relação com a prefeitura.

Vale lembrar que antes de ocupar o prédio no Santa Efigênia, o legislativo já funcionou na Rua dos Tamoios, e na Rua da Bahia, onde hoje é o Museu da Moda.

Atualmente, não há uma placa que indique a presença da cápsula do tempo no local onde a reportagem apurou que está. Porém, há escritos que identificam o local da pedra fundamental, no mesmo local onde a cápsula foi colocada, e não há menção sobre objeto.

Espera até 2097

Uma outra capsula do tempo foi instalada na capital mineira, mas essa tem local certo e data para ser desenterrada. A outra cápsula do tempo que se tem conhecimento em Belo Horizonte, fica instalada no Parque Municipal Américo René Gianetti, enterrada em 1997 pelo então prefeito Célio de Castro, e que será aberta só em 2097. Com isso, a urna do Legislativo é a mais antiga.

Diferente da cápsula da Câmara, a urna do Parque Municipal tem local de destaque, cercada pelos bustos de Aarão Reis, Afonso Pena, Amynthas de Barros, Augusto de Lima e Bias Fortes, nomes ligados à fundação da capital. Uma placa indica a presença da urna, que abriga documentos e cartas da época.

Historiadores afirmam que há registros de uma outra urna do tempo enterrada na capital em 1947, mas não há evidências de onde ela estaria.

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Jornalista graduado pela PUC Minas; atua como apresentador, repórter e produtor na Rádio Itatiaia em Belo Horizonte desde 2019; repórter setorista da Câmara Municipal de Belo Horizonte.