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Opositores de Kalil à época da PBH podem dividir palanque com ex-prefeito na campanha de Tramonte

Vereadores denunciaram crimes na gestão de Kalil e agora estão do mesmo lado; parlamentares do Novo dizem que negariam a proposta

Ex-prefeito de Belo Horizonte Alexandre Kalil se filiou recentemente ao Republicanos

O ex-prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil, principalmente em seu segundo mandato, a partir de 2020, enfrentou turbulenta relação com a Câmara de Vereadores da cidade. Um reflexo disso foi a enxurrada de CPIs que tentaram, diretamente ou indiretamente, atingir a gestão do então prefeito ou de seus secretários. Sobrando inclusive para seu sucessor, Fuad Noman (PSD), que era vice-prefeito até Kalil deixar a prefeitura para tentar se eleger governador do estado em 2022.

Vários dos vereadores que naquela época atuaram na fiscalização e apontamento de atos possivelmente criminosos na gestão do ex-prefeito, hoje acabaram se vendo ligados a Kalil, que agora é filiado ao partido Republicanos, o que envolve também uma legenda que era oposição fiel ao então prefeito: o partido Novo. Neste ano, o Novo construiu chapa com a candidata Luísa Barreto como vice de Mauro Tramonte (Republicanos) na disputa pela prefeitura.

Cpi da BHTrans

Em maio de 2021, durante a segunda gestão de Kalil na prefeitura, e quando ele ainda era do PSD, foi instaurada a CPI da BHTrans, que apontou possíveis irregularidades em contratos com empresas de ônibus firmados em 2008, e que foram sustentadas contando com repasse de subsídios milionários para manutenção do sistema.

Na época, vereadores aprovaram um relatório que solicitava o indiciamento do ex-prefeito por peculato, prevaricação, condescendência criminosa e infrações político-administrativas.

Dentre os membros titulares da CPI da BHTrans, que sugeriu indiciamento de Kalil, estavam vereadores que atuaram em vários momentos na oposição, como Wanderley Porto (PRD), Reinaldo Gomes Preto Sacolão (DC), Gabriel Azevedo (MDB), Professor Claudiney Dulim (Avante), a ex-vereadora Bella Gonçalves (PSOL), Braulio Lara (NOVO), e Rubão (Podemos).

Nesta CPI, apenas o vereador Braulio Lara (NOVO) agora pode ser convidado a compartilhar palanque com Kalil, por pertencer ao mesmo partido que a vice de Tramonte nas eleições em BH, que conta com o apoio do ex-prefeito.

Durante a convenção do Republicanos em BH no último sábado (3), Bráulio afirmou que o foco agora é no futuro. “Kalil é uma página virada, a gente está aqui para escrever a página futura. A gente já sabe a quantidade de desafios que a cidade tem, e o que é necessário é de gente que esteja disposta a por a mão na massa e resolver problema.

CPI da Covid

No final de maio de 2021 foi instaurada na Câmara Municipal de Belo Horizonte a CPI da COVID, que pretendia apurar o uso de dinheiro público da prefeitura no enfrentamento à pandemia do coronavírus. Dentre vários pedidos de indiciamento e investigação, houve suspeita de emprego irregular de verbas ou rendas públicas e improbidade administrativa por parte do ex-prefeito Alexandre Kalil. A CPI teve dois relatórios que divergiam entre colocar ou não os infectologistas do Comitê de Enfrentamento à COVID e o ex-prefeito na lista de indiciados, o que causou uma troca na relatoria do tema na reta final da comissão.

O relatório final, que substituiu o relatório original que havia sido feito pelo então relator Irlan Melo (Republicanos), foi feito pela vereadora Flávia Borja (DC). Ele foi aprovado com os votos favoráveis dos vereadores José Ferreira (Podemos), Flávia Borja, Professor Juliano Lopes (Podemos), e o ex-vereador Nikolas Ferreira (PL).

Além destes vereadores, a comissão contava com outros três membros titulares: Jorge Santos (Republicanos), Irlan Melo (Republicanos) e Bruno Miranda (PDT).

No relatório de Irlan Melo, que foi substituído de última hora pelo relatório de Flávia Borja, não havia pedido de indiciamento a Kalil, mas sugeria investigação pelo crime de responsabilidade.

Por pertencer ao mesmo partido de Mauro Tramonte (Republicanos), Irlan esteve na convenção do último final de semana que contou com a presença Alexandre Kalil, que agora faz parte da mesma legenda do vereador.

CPI do Abuso de Poder

Em dezembro de 2022 a Câmara de Vereadores da capital abriu a CPI do Abuso de Poder. Nesta ocasião, Kalil já havia deixado a prefeitura para concorrer ao Governo do Estado.

A Comissão investigava o suposto uso da máquina pública e favorecimento pessoal da gestão de Kalil à frente do Executivo municipal.

Uma das supostas irregularidades seria a liberação do pagamento de dívidas do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) de imóveis ligados ao ex-prefeito.

Esta CPI terminou sem indiciamentos, e nem o próprio ex-prefeito foi indiciado. Porém, houve um extenso levantamento de indícios de crimes praticados pela prefeitura na gestão de Kalil, que foram enviados ao Ministério Público de Minas Gerais (MPMG).

Em sete meses, os vereadores realizaram diversas oitivas, incluindo pessoas ligadas a Kalil e servidores da Prefeitura de Belo Horizonte. Também investigaram o perdão de dívidas do ex-prefeito pelo Executivo municipal, como as relacionadas ao IPTU, além das contrapartidas impostas pela PBH à construção da Arena MRV.

Boa parte da investigação foi conduzida pela relatora da CPI, a vereador Fernanda Pereira Altoé (NOVO). Opositora de Kalil, a vereadora deixou claro várias vezes durante a comissão que havia irregularidades evidentes em relação ao não pagamento de IPTU de imóveis de Kalil enquanto ele era prefeito.

Hoje, Altoé vive a mesma situação de seus colegas de partido na bancada do NOVO na Câmara Municipal. Com a sua legenda integrando a chapa apoiada por Alexandre Kalil, a vereadora esteve na convenção municipal do Republicanos que oficializou Tramonte e Barreto na mesma chapa no último sábado.

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Subiriam no palanque com Kalil?

Questionada pela reportagem se em alguma circunstância fosse convidada para dividir palanque com Alexandre Kalil (Republicanos) durante a campanha de Tramonte e Barreto, a vereadora Fernanda Pereira Altoé (NOVO) foi categórica ao dizer que não.

“Não! A questão é a seguinte: A Luísa Barreto do Novo é a vice de Mauro Tramonte, do Republicanos. O Kalil é uma questão interna do Republicanos. Eu apoio a Luisa e o Tramonte, eu não tenho nenhuma relação com Alexandre Kalil, e muito menos dependo dele para ser vereadora”.

Já o vereador Bráulio Lara (NOVO), no seu mandato já atuou em cinco CPIs, duas delas durante a gestão Kalil, e outras três na gestão Fuad Noman (PSD). Ele também disse que não subiria no palanque com o ex-prefeito. “Eu não! Sem chances!”

A vereadora Marcela Trópia (NOVO) também afirmou que não subiria em palanque com Kalil em evento de campanha de Luisa Barreto. “Não subiria! Enquanto ele não fizer um compromisso público com as pautas que a gente defende com a nossa agenda, não tem como subir no palanque!

Porém, o vereador Irlan Melo (Republicanos), que chegou a ser relator da CPI da COVID na gestão Kalil em 2021, e que pediu investigação contra o ex-prefeito, vive uma situação diferente dos outros vereadores citados. Ele agora é do mesmo partido de Kalil, tendo se filiado meses antes do que o ex-prefeito. Irlan disse a reportagem que se o assunto for o projeto de governo de Mauro Tramonte, subiria.

“Por mais que eu tenha divergências com o ex-prefeito Alexandre Kalil, nós estamos falando do projeto Mauro Tramonte. Não estamos falando de direita ou esquerda. Eu entendo que quem está no foco é o Mauro. Não é o Kalil, não é o Zema, não é o Republicanos, não é o Novo, é o Mauro, as ideias dele, o que ele propõe para a cidade. Então neste sentido eu não vejo nenhuma dificuldade. Sempre aprendi a respeitar as diferenças, mas nas convergências a gente precisa caminhar juntos, e a convergência é Mauro Tramonte”.


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Jornalista graduado pela PUC Minas; atua como apresentador, repórter e produtor na Rádio Itatiaia em Belo Horizonte desde 2019; repórter setorista da Câmara Municipal de Belo Horizonte.