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Cacique Raoni cobra Lula contra instalação da Ferrogrão e pressiona por demarcação de terras indígenas

Ativista da causa indígena, cacique Raoni também pediu apoio a Lula e Macron para prêmio Nobel da Paz durante cerimônia na Ilha do Combu nesta terça-feira (26)

Cacique caiapó Raoni participou da cerimônia de posse do presidente Lula no ano passado

Belém. Aos 93 anos, o cacique caiapó Raoni Metuktire recebeu das mãos do presidente da França, Emmanuel Macron, a maior honraria concedida pelo país, a Legião da Honra, em cerimônia na Ilha do Combu. A entrega da medalha marca a primeira parada do mandatário europeu durante visita ao Brasil com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Foi para o petista que o ativista indígena dirigiu um discurso com forte cobrança.

Ao presidente brasileiro, com quem subiu a rampa do Palácio do Planalto na posse, o caiapó Raoni pediu que bloqueie a construção da Ferrogrão. “Presidente Lula, me escute. Eu subi a rampa com você na posse e quero pedir que não aprove a construção da ferrovia em Sinop, mais conhecida como Ferrogrão. Sempre defendi que não podemos aceitar desmatamento, exploração, garimpo”, disse.

A ferrovia de dimensões quilométricas no coração da Floresta Amazônica é uma proposta encampada pelo Governo Federal para ligar Sinop, no Mato Grosso, ao porto de Miritituba, no Pará. A malha ferroviária com 933 quilômetros de extensão substituiria o escoamento agrícola pela BR-163.

O projeto encontra resistências entre ambientalistas diante do impacto às áreas protegidas. Um estudo capitaneado pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) indicou que a construção da Ferrovia pode desmatar 49 mil quilômetros quadrados em 48 municípios, impactando cerca de 4,9 milhões de hectares de áreas protegidas.

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O cacique ainda cobrou o presidente brasileiro pela demarcação de territórios indígenas. “Quero pedir para que novamente trabalhe pelas demarcações. Precisa demarcar terras indígenas para as comunidades que ainda não têm terra. Quero pedir que apoie à Funai”, completou Raoni Metuktire.

A declaração da liderança indígena ocorre cerca de três meses após a promulgação da lei do marco temporal para terras indígenas pelo Congresso Nacional. A publicação da lei é fruto da intensa pressão exercida pela bancada ruralista na Câmara dos Deputados e no Senado Federal. O presidente brasileiro chegou a vetá-la, mas, o Congresso a promulgou. A tese do marco temporal, rejeitada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), mas convertida em lei, prevê que só podem ser demarcadas as terras que já estavam ocupadas ou eram disputadas pelos indígenas até 5 de outubro de 1988, data da promulgação da Constituição de 1988.

Enviada especial a Belém.

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Repórter de política em Brasília. Na Itatiaia desde 2021, foi chefe de reportagem do portal e produziu série especial sobre alimentação escolar financiada pela Jeduca. Antes, repórter de Cidades em O Tempo. Formada em jornalismo pela Universidade Federal de Minas Gerais.