O que as tragédias de Brumadinho e Mariana, em Minas Gerais, da Boate Kiss, no Rio Grande do Sul, e da mina da Braskem, em Maceió têm em comum?
A pergunta feita pela Itatiaia reverbera entre representantes de vítimas dessas tragédias, que estiveram nesta segunda-feira (22), na cidade da região metropolitana de Belo Horizonte, para relatar e debater os sentimentos sobre a perda e a impunidade, já que em nenhum destes quatro casos, houve condenação pelo por parte do Poder Judiciário. Há quase cinco anos, uma barragem da mineradora Vale se rompeu na comunidade do Córrego do Feijão, em Brumadinho, provocando a morte de 270 pessoas - entre elas, duas mulheres grávidas.
A ausência da Justiça, a falha da Justiça e da fiscalização e o poderia que essas mineradoras detém
O que nos une é a luta na justiça e a impunidade
O que une é o amor aos filhos, pais e irmãos, que perderam a vida em tragédias evitáveis
A busca incessante por justiça
A impunidade é uma dor que ainda aflige os corações dos familiares das vítimas. Em nenhum destes quatro casos houve condenação pela Justiça aos responsáveis pelos desastres.
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Mônica dos Santos morava em Bento Rodrigues, distrito arrasado pela lama da Samarco em 2015. “Eu acho que já deu para a gente sentir, para perceber que, sozinho, a gente não vai chegar a lugar nenhum. Se tivesse havido uma punição quando a barragem de Fundão [em Mariana] se rompeu, não teria acontecido em Brumadinho. Então, a nossa busca é uma busca incessante por justiça e por punição, em memória às pessoas que se foram no dia dos crimes e que estão indo a cada dia nesses longos oito anos”, relata.
Paulo Carvalho perdeu o filho na tragédia da Boate Kiss casa de shows que pegou fogo em janeiro de 2013, deixando 242 mortos na cidade de Santa Maria, no Rio Grande do Sul.
“Ganância e omissão. A ganância porque, seja de pequenas ou grandes empresas, a busca pelo lucro de qualquer maneira e não privilegiando a vida é o que causa uma tragédia. E a omissão é porque essa tragédia, se ela tivesse a fiscalização que se paga aos órgãos públicos para que os locais sejam fiscalizados... se pagam aos órgãos públicos para que não permita que locais e barragens, prédios, boates, hospitais fábricas coloque em risco a vida das pessoas”, critica.
De Alagoas vieram duas representantes dos atingidos pelo colapso da mina de sal-gema da Braskem. A Itatiaia esteve em Maceió em novembro acompanhando de perto essa situação. Rikartiany Cardoso, lembra a responsabilidade do poder público nessas tragédias.
“Eu acho que a maior semelhança nesses casos é o protecionismo empresarial quando o Estado tem responsabilidade. Por que, à proporção que ele assegura a impunidade para a empresa privada ele também assegura a impunidade para si”, diz.
A anfitriã do encontro que emocionou os presentes em Brumadinho durante mais de três horas de depoimentos, Andreza Rodrigues, destaca a importância de reunir e ouvir os atingidos. Ela perdeu o filho Bruno, morto no rompimento da barragem da Vale no córrego do feijão em Brumadinho.
“A primeira coisa a ser dita é que nós seguiremos com eles e por eles. E que eles não serão esquecidos. As 272 jóias seguem vivas em nós e em nossas ações e, nesse contexto, o clamor pela Justiça e a certeza de que se a justiça não for feita, não haverá para nossas famílias reparação, não haverá alento”, afirma.
O seminário realizado em Brumadinho marca os cinco anos da tragédia da Vale e teve participação da jornalista mineira Daniela Arbex, autora de livros que contam a história de grandes tragédias do Brasil. Ela fez a ponte entre as vítimas de Minas e do Rio Grande do Sul.
“Foi emocionante, particularmente para mim, por ter sido a ponte que apresentou e que ligou as famílias do Rio Grande do Sul com as famílias de Minas Gerais. Eu acho isso muito emocionante, porque o jornalismo é ponte para o coração do outro, sim, mas é também um caminho potente para a busca da Justiça. Essas famílias precisam se fortalecer e precisam se unir para exatamente pra quem encontrem uma resposta para tudo que aconteceu”, relembra.
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