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ALMG: oposição a Zema diz ter votos para barrar Recuperação Fiscal; governistas querem esperar STF

Debates sobre solução para a dívida de Minas passam por projeto em pauta no Legislativo mineiro e por conversa em Brasília (DF)

Assembleia tem sessão marcada para votar projeto que cria teto de gastos em Minas Gerais

Os corredores da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) testemunham uma espécie de inversão de papéis nesta semana. A oposição a Romeu Zema (Novo), que adotou postura de obstrução em diversos projetos apresentados pelo governador neste ano, como a reforma administrativa e o aumento nos salários do primeiro escalão do Executivo, agora quer votar a adesão ao Regime de Recuperação Fiscal (RRF). A avaliação é que o Palácio Tiradentes não tem os apoios necessários para viabilizar a aprovação da proposta.

Do outro lado, a base governista, dona da maioria dos 77 assentos do plenário, adota compasso de espera. Aliados de Zema entendem que o RRF não deve ser votado até que o Supremo Tribunal Federal (STF) decida se vai estender, ou não, o prazo de carência da dívida do estado com a União, que gira em torno dos R$ 160 bilhões.

As parcelas da dívida de Minas estão suspensas até 20 de dezembro. Nos atuais termos estabelecidos pelo STF, caso o estado não ingresse na Recuperação Fiscal até lá, terá de desembolsar cerca de R$ 18 bilhões no ano que vem.

A ideia é estender essa carência por 120 dias e, assim, dar prazo para que o Ministério da Fazenda examine uma alternativa ao RRF. A opção ao plano de ajuste fiscal é encampada pelo presidente do Congresso Nacional, o senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG).

Nesta quinta-feira (7), a primeira reunião plenária chamada para debater, em primeiro turno, a Recuperação Fiscal, terminou após 43 minutos. Não houve quórum para votar a proposta. O pedido de encerramento do encontro foi feito por Carlos Henrique (Republicanos), um dos líderes da coalizão de deputados que apoia Zema.

“Chegou a hora de votar (a Recuperação Fiscal) porque temos a convicção de que o projeto apresentado pelo governo não resolve o problema da dívida, prejudica apenas um setor, que são os servidores – e, consequentemente, a população. A decisão de votar é pela convicção de que conquistamos a opinião pública e a maioria dos votos aqui”, diz o líder da oposição ao governo, o deputado Ulyssea Gomes (PT).

Líder do bloco governista, Cássio Soares (PSD) tem convicção de que o STF vai estender a carência da dívida.

“Teremos os votos (para aprovar o Regime de Recuperação Fiscal) caso seja necessário. Só que a responsabilidade nos impõe não trazer prejuízos aos servidores públicos mineiros e, também, ao estado de Minas, com as amarras que o RRF, infelizmente, impõe ao estado”, aponta.

Mais duas reuniões nesta quinta

Nos derradeiros instantes da primeira reunião plenária desta quinta, 25 parlamentares estavam no plenário. Por isso, o debate foi encerrado. Foram convocados mais dois encontros para hoje, à tarde e no início da noite.

A votação em primeiro turno pode ocorrer a qualquer tempo, mas deputados que não quiserem analisar formalmente a proposta têm a prerrogativa de fazer discursos e debates por seis reuniões seguidas. Depois disso, o texto terá de ser votado.

“Vamos dar sequência à discussão sem a intenção de votarmos de forma imediata esse projeto enquanto não tivermos a solução de Brasília dada”, explica Cássio Soares.

Entre os líderes governistas, há o sentimento de que, em breve, o STF vai prorrogar a suspensão da dívida. Ainda nesta quinta, Rodrigo Pacheco vai conversar sobre o assunto com o ministro Kassio Nunes Marques, do Supremo.

“Temos o entendimento de que votar na ausência de outra alternativa é (ter) responsabilidade com Minas Gerais. Só que, hoje, é unânime que não queremos votar esse projeto enquanto não tivermos o desfecho da proposta construída em Brasília pelo senador Rodrigo Pacheco e acatada pelo governador Romeu Zema. É uma saída que traz muito mais soluções do que qualquer outro tipo de problema e amarra que não o RRF”, completa o deputado do PSD.

Oposição traça estratégia

Nesta quinta-feira, Pacheco se reuniu com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, para debater as saídas para o rombo nos cofres públicos mineiros.

O senador defende, por exemplo, federalização de estatais mineiras, como a Codemig e a Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig).

O governador chegou a dizer que estava “de acordo” com o possível repasse das estatais à União. Mas, entre os deputados de oposição a Zema, há a avaliação de que o Palácio Tiradentes não se empolgou com a saída apontada por Pacheco.

“Compreendemos que só há uma maneira de o governador se dedicar à alternativa que está sendo construída: ser derrotado na Assembleia, já que ele não foi capaz de retirar o projeto (da Recuperação Fiscal), aponta Ulysses Gomes.

Para amortizar a dívida bilionária, o plano de Pacheco contempla, também, a utilização de créditos judiciais que o estado poderia acessar, bem como a criação de um programa de refinanciamento de débitos voltado a entes federados.

Em outra frente, o Regime de Recuperação Fiscal cita, a privatização da Codemig. Além da venda da estatal, o pacote para renegociar a dívida sugere a venda, a uma instituição financeira, da folha de pagamento dos servidores.

A princípio, o RRF não trata de aumento real ao funcionalismo público, mas de duas recomposições de perdas inflacionárias.

Graduado em Jornalismo, é repórter de Política na Itatiaia. Antes, foi repórter especial do Estado de Minas e participante do podcast de Política do Portal Uai. Tem passagem, também, pelo Superesportes.