Alvo de pedido de indiciamento no relatório da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do 8 de Janeiro, a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) compareceu à sessão desta quarta-feira (18) e aguardou ter o nome citado para solicitar à presidência de Arthur Maia (União-BA) o direito de resposta. Em três minutos corridos no cronômetro do plenário do Senado Federal, Zambelli criticou o parecer produzido pela senadora Eliziane Gama (PSD-MA) — que propôs seu indiciamento — e leu comentários que a atacam nas redes sociais.
“Ontem, depois de meu indiciamento, coloquei [uma resposta] no meu Twitter e os primeiros três comentários foram os seguintes: ‘Tchau, pistoleira’, ‘vai para cadeia mamar a r*** do seu genocida’...”, começou Zambelli. A parlamentar acabou interrompida por Maia, que pediu a ela para não tecer comentários pornográficos na Casa. “Se eu ler um comentário te ofendeu, imagina meu filho ler, meu marido, imagina meu pai que está ali. Se coloque no lugar dos meus familiares”, prosseguiu após apontar com o indicador para o fundo, onde o pai João Hélio Salgado a aguardava sentado.
Nos minutos que se seguiram, Zambelli afirmou que a comissão propôs seu indiciamento sem ouvi-la e respondeu às acusações sobre a relação que ela manteve com o hacker Walter Delgatti Neto. “Me coloquei à disposição dessa CPMI para ser acareada, para ser ouvida como convidada ou convocada, mas não pude me defender. Fui indiciada sem direito à defesa”, disse. Zambelli concluiu afirmando que irá acionar a Justiça contra Eliziane Gama pelo vazamento de informações particulares a portais de notícias. “A relatora vazou fotos particulares do meu celular para o Brasil 247 e para o Diário do Centro do Mundo. Vocês vão responder!”, pontuou.
“Significa [o pedido de indiciamento] uma medalha que carrego no peito. Vindo de vocês é só mais uma medalha de honestidade. Sou extremista, sim, extremista a favor da vida, contra as drogas, a favor do Estado de Israel. Sou extremista, extremamente honesta, ética e coerente”, concluiu.
O relatório apresentado em sessão nessa terça-feira (18) pela senadora Eliziane Gama propõe o indiciamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) por associação criminosa, violência política, abolição violenta do Estado de Democrático de Direito e golpe de Estado. A expectativa é que o parecer seja aprovado sem dificuldade; isto porque a ala governista, maioria na comissão, é favorável a ele. Ocorrendo a aprovação, o documento será remetido à Procuradoria-Geral da República (PGR), à Advocacia-Geral da União (AGU) e ao Supremo Tribunal Federal (STF).
O documento não propõe apenas o indiciamento de Bolsonaro, indicado como o grande responsável pelos atos golpistas do 8 de Janeiro. O relatório pede ainda que sejam indiciados 60 aliados do ex-presidente. Entre eles estão o ex-ministro da Justiça Anderson Torres, a deputada Carla Zambelli, o general Braga Netto, o general Augusto Heleno e o tenente-coronel Mauro Cid.
Conforme a relatora, Zambelli é o elo que ligou Jair Bolsonaro ao hacker Walter Delgatti Neto — que invadiu os sistemas do Judiciário e inseriu informações falsas, como um mandado de prisão expedido em nome do ministro Alexandre de Moraes e assinado por ele próprio. Depoimentos coletados pela CPMI dão conta de que o então presidente se reuniu com Delgatti em meio à corrida eleitoral do ano passado e pediu que ele produzisse um vídeo atestando a informação mentirosa de que as urnas eletrônicas eram passíveis de fraude. O documento produzido por Eliziane Gama propõe o indiciamento de Zambelli pelos crimes de associação criminosa, abolição violenta do Estado Democrático de Direito e golpe de Estado.