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Após quatro horas de depoimento, Delgatti decide não responder Flávio Bolsonaro: ‘vou ficar em silêncio’

Hacker Walter Delgatti Neto respondeu às perguntas dos parlamentares no período da manhã, mas, optou por permanecer em silêncio

Hacker Walter Delgatti Neto optou por não responder às perguntas do senador Flávio Bolsonaro

Em meio à intensa ofensiva da oposição contra o hacker Walter Delgatti Neto após o intervalo na CPMI dos atos antidemocráticos nesta quinta-feira (17), ele optou por permanecer em silêncio e não responder às perguntas do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ). Frente as perguntas do filho do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), o hacker repetiu a palavra ‘silêncio’ em pelo menos 15 respostas e seguiu quieto diante das indagações.

O silêncio é uma estratégia adotada pelo advogado Ariovaldo Moreira, à frente da equipe de Delgatti Neto, para confrontar o ataque da oposição. O hacker é protegido por um habeas corpus concedido pelo ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), nessa quarta-feira (16) às vésperas do depoimento na CPMI.

A Delgatti, Flávio Bolsonaro listou uma série de perguntas como: “quem está pagando seu advogado?”, “qual a sua relação com os partidos de esquerda?”, “qual é o preço da democracia?”. O hacker prosseguiu em silêncio.

Depoimento de Delgatti compromete Bolsonaro

O hacker comprometeu o ex-presidente Jair Bolsonaro em uma série de denúncias feitas na manhã desta quinta-feira (17) em depoimento à relatora da CPMI, senadora Eliziane Gama (PSD-MA). Segundo Delgatti, Bolsonaro pediu a ele que provasse a alegada insegurança das urnas eletrônicas e do processo eleitoral e que assumisse um suposto grampo telefônico contra o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).

Primeiro encontro no Palácio da Alvorada

Menos de uma hora após o início do depoimento à CPMI dos atos antidemocráticos, o hacker Walter Delgatti Neto admitiu encontros com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) em meio à campanha eleitoral do ano passado.

A primeira reunião com o chefe do Executivo aconteceu no Palácio da Alvorada, em Brasília, com intermédio da deputada federal Carla Zambelli (PL-SP). Ali também estiveram à ocasião o ex-ajudante de ordens Mauro Cid e o ex-assessor de gabinete coronel Marcelo Câmara.

“Tomei café da manhã com ele [Jair Bolsonaro] e ele disse que eu estaria salvando o Brasil”, afirmou Delgatti. “A conversa foi para falar sobre as lisuras das eleições. Por ser o presidente da República, eu fui. Lembrando que eu estava desamparado e sem emprego”, acrescentou. O hacker disse à relatora da CPMI, senadora Eliziane Gama (PSD-MA), que o presidente ordenou que ele fosse transportado até o Ministério da Defesa. “Cheguei [no Alvorada] e a conversa foi bem técnica. Até que o presidente me disse: ‘a parte técnica eu não entendo, mas vou mandá-lo ao Ministério da Defesa e você explica aos técnicos’”, disse.

Delgatti detalhou que o coronel Marcelo Câmara o levou até o ministério pela porta dos fundos. “Fui cinco vezes, ao todo, no Ministério da Defesa. Falei com o ministro Paulo Sérgio Nogueira e com o pessoal do TI [Tecnologia da Informação]”, afirmou. “Ele [Bolsonaro] me assegurou um indulto caso eu fosse preso referente às ações sobre a urna eletrônica”, disse.

Ligação intermediada por Zambelli

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) também é acusado de orientar que o hacker Walter Delgatti Neto assumisse um grampo telefônico feito contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes. “O presidente precisava que eu assumisse o grampo. Eu era conhecido como o ‘hacker da Lava-Jato’ àquela hora. A ideia era que ‘o garoto da esquerda’ [que vazou as informações da Lava-Jato] assumisse esse grampo. Concordei em assumir porque era proposta de um presidente da República”, afirmou Delgatti em depoimento à CPMI dos atos antidemocráticos.

Cronograma da ligação com Bolsonaro. O pedido feito pelo ex-presidente Jair Bolsonaro a Delgatti, segundo o próprio hacker, foi intermediado pela deputada federal Carla Zambelli (PL-SP). Na ocasião, conforme o relato de Delgatti, o motorista de Zambelli o buscou em Ribeirão Preto, em São Paulo, e o levou até as imediações de uma cidade próxima onde a parlamentar participava de ato eleitoral.

“Eu estava em casa, em Ribeirão Preto, pela manhã, quando a deputada Carla entrou em contato comigo e disse que o motorista ia me buscar para eu me encontrar com ela. Ela disse que o assunto era urgente”, afirmou. “Ele [motorista] pegou a rodovia Anhanguera e foi até esse posto [de gasolina] próximo a uma cidade onde ela realizava campanha”, acrescentou.

No encontro, Zambelli contatou o então presidente Jair Bolsonaro para ele conversar com Delgatti. “Ele me pediu para assumir o grampo”, adiantou. “Ele [Bolsonaro] disse por telefone que esse grampo foi realizado por agentes de outros países e que, em troca de eu assumir o grampo, me daria o indulto. Ele também disse: ‘se alguém mandar te prender, eu mando prender o juiz’ e deu risada”, concluiu.

Repórter de política em Brasília. Na Itatiaia desde 2021, foi chefe de reportagem do portal e produziu série especial sobre alimentação escolar financiada pela Jeduca. Antes, repórter de Cidades em O Tempo. Formada em jornalismo pela Universidade Federal de Minas Gerais.