O governo brasileiro dobrou a importação de produtos da Rússia desde que o país invadiu a Ucrânia e passou a ser alvo de uma série de sanções econômicas, principalmente pelos Estados Unidos e a União Europeia.
Dados do Ministério da Economia mostram que, entre março e junho deste ano, as importações somaram US$ 3,2 bilhões. No mesmo período do ano passado, o montante foi de US$ 1,6 bilhão. A guerra teve início no dia 24 de fevereiro.
Com a explosão das importações vindas da Rússia, a balança comercial entre os dois países se tornou ainda mais desfavorável ao Brasil. Entre março e junho de 2021, o país exportou US$ 577 milhões em produtos para o país de Vladimir Putin - contra US$ 520 milhões no mesmo período deste ano. Na conta, o resultado negativo para o Brasil passou de US$ 995 milhões para US$ 2,7 bilhões.
A tendência é que a balança comercial entre Brasil e Rússia fique ainda mais desfavorável aos brasileiros. Isso porque, nesta semana, o presidente Jair Bolsonaro (PL) anunciou que está negociando com Putin a importação de óleo diesel refinado russo para o Brasil, em uma tentativa de baixar o preço do combustível no país.
Para o professor de Relações Internacionais e diretor do Instituto de Ciências Sociais da PUC Minas, Danny Zahreddine, a maior proximidade comercial com os russos mostra uma mudança na política externa brasileira, que se tornou menos ideológica e mais pragmática ao longo do mandato de Bolsonaro.
“Se observarmos, em uma primeira fase, o governo se afastou da Rússia, da China, teve choques com ex-parceiros dos Brics [bloco que inclui, além dos dois países, a Índia e a África do Sul] e criou uma situação de isolamento internacional, diminuindo o poder de barganha”, analisa o especialista.
“Quando a ala mais ideológica, próxima ao ex-chanceler Ernesto Araújo sai do Ministério das Relações Exteriores e entra a ala mais pragmática, nem tanto à direita, nem tanto à esquerda, existe uma retomada da perspectiva mais tradicional da polícia externa brasileira”, completa.
Zahreddine não acredita que a postura atual do Brasil em relação à Rússia pode gerar algum complicador ao país. Ele explica que o governo Putin encontrou saídas para contornar as sanções impostas pelos Estados Unidos e a União Europeia se aproximando de outros mercados, como o brasileiro.
“Isso não leva a nenhum problema. Não somos parte da OTAN, da União Europeia. Não tem regra, lei, nenhum pressuposto que nos obrigue a boicotar os produtos da Rússia. China, Índia e países da África tem feito isso”, afirma. “A Rússia vende petróleo a preço atraente para parceiros que não se opõem à operação na Ucrânia”, explica.