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O que fazer quando o remédio falha e o cão segue com carrapatos?

Infestação no ambiente, aplicação incorreta e resistência dos parasitas estão entre as causas mais comuns

Segundo o Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV), a persistência da infestação pode estar ligada a falhas na aplicação, reinfestação a partir do ambiente ou até resistência ao princípio ativo utilizado

A presença de carrapatos em cães mesmo após o uso de produtos antiparasitários é um problema recorrente que preocupa tutores e profissionais.

Além de causar desconforto, esses ectoparasitas transmitem doenças graves, como a erliquiose e a babesiose.

Segundo o Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV), a persistência da infestação pode estar ligada a falhas na aplicação, reinfestação a partir do ambiente ou até resistência ao princípio ativo utilizado.

“O tratamento contra carrapatos não é apenas colocar o produto e esperar. É preciso uma estratégia integrada que envolva o animal e o ambiente”, explica o médico-veterinário Marcelo de Souza, em material técnico divulgado pelo CFMV.

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Quando o problema não está no cão

Mesmo produtos de alta eficácia podem falhar se o ambiente estiver infestado. O carrapato-estrela, por exemplo, pode sobreviver meses sem se alimentar, escondido em frestas, grama alta e objetos domésticos.

De acordo com nota técnica da Embrapa Gado de Corte, cerca de 95% dos carrapatos em um ciclo de infestação estão no ambiente e não no hospedeiro.

Isso significa que, mesmo tratando o cão corretamente, o risco de reinfestação é alto se não houver manejo ambiental.

O uso contínuo de um mesmo princípio ativo também favorece a seleção de parasitas resistentes.

Um estudo publicado no Journal of Medical Entomology em 2021 mostra que populações de Rhipicephalus sanguineus já apresentam tolerância elevada a alguns piretroides, reforçando a importância de alternar produtos sob orientação veterinária.

Como agir diante da falha do tratamento

Para interromper o ciclo de infestação, veterinários recomendam uma abordagem combinada, que inclua o pet, o ambiente e a escolha do produto. Entre as medidas indicadas:

  • Confirmar se a aplicação foi feita corretamente (dose, local e intervalo adequados);
  • Tratar todos os animais da casa ao mesmo tempo;
  • Controlar o ambiente, mantendo áreas externas limpas e, se necessário, usando produtos específicos para eliminação de carrapatos;
  • Alternar o princípio ativo conforme indicação profissional;
  • Realizar inspeção diária no cão, removendo carrapatos manualmente com pinça apropriada.

“Cada caso precisa ser avaliado individualmente. Em áreas de alta infestação, pode ser necessário combinar diferentes métodos e reforçar a prevenção durante todo o ano”, afirma a veterinária Ana Cláudia Furlan, em orientação publicada pelo Conselho Regional de Medicina Veterinária de São Paulo (CRMV-SP).

Mais do que eliminar os parasitas visíveis, a prevenção contínua e o cuidado com o ambiente são fundamentais para proteger a saúde do cão e evitar doenças transmitidas por carrapatos.

Jessica de Almeida é repórter multimídia e colabora com reportagens para a Itatiaia. Tem experiência em reportagem, checagem de fatos, produção audiovisual e trabalhos publicados em veículos como o jornal O Globo e as rádios alemãs Deutschlandfunk Kultur e SWR. Foi bolsista do International Center for Journalists.