Basta ir a qualquer petshop para se deparar com produtos específicos para animais castrados. Mas, diante da diferença de preço e da promessa de benefícios, muitos tutores se questionam: essa diferenciação é apenas uma estratégia de vendas da indústria ou uma necessidade fisiológica real do animal?
A resposta da medicina veterinária é unânime: a mudança na dieta não é opcional, é uma questão de medicina preventiva.
A castração é o procedimento mais recomendado para o controle populacional e prevenção de doenças reprodutivas. No entanto, a remoção das gônadas, que são testículos nos machos e ovários nas fêmeas, provoca uma alteração hormonal drástica e imediata. Sem a produção de hormônios sexuais como estrogênio e testosterona, o metabolismo basal do felino desacelera, e o apetite aumenta.
Segundo as diretrizes globais da World Small Animal Veterinary Association (WSAVA), a associação mundial que rege os padrões da medicina de pequenos animais, os gatos castrados têm uma redução significativa em sua necessidade energética diária.
“A castração resulta em uma redução na taxa metabólica e, frequentemente, em um aumento na ingestão de alimentos. O manejo dietético rigoroso deve começar imediatamente após a cirurgia para prevenir o ganho de peso excessivo”, alerta o documento Diretrizes de Nutrição Global da entidade.
O que muda na dieta depois da castração?
Não basta só reduzir a quantidade de comida no potinho do gato, mas de mudar a densidade nutricional do grão da ração. Se você apenas der menos alimento comum ao pet, ele pode sofrer com deficiência de vitaminas e sentir fome constante, o que gera estresse comportamental
As rações formuladas para castrados possuem uma “engenharia” nutricional específica para contornar as mudanças fisiológicas do pós-operatório felino. A Itatiaia listou algumas delas:
- Redução calórica e lipídica para permitir que o gato coma um volume satisfatório de comida sem estourar o orçamento de calorias do dia;
- Presença de fibras solúveis e insolúveis, com o objetivo de promover a saciedade mecânica no estômago. Isso reduz a sensação de fome constante típica do animal castrado;
- Muitas marcas adicionam L-Carnitina, um nutriente para auxiliar na queima de gordura e na preservação da massa magra.
Embora a ração específica seja uma boa opção, a transição entre os alimentos deve ser acompanhada. O Manual de Nutrição de Cães e Gatos, referência técnica utilizada em universidades como a Universidade de São Paulo (USP) e Universidade do Estado de São Paulo, diz que cada animal é único:
“A quantidade de alimento deve ser baseada na necessidade energética daquele animal, e ajustada conforme necessário para manter o escore de condição corporal ideal para aquele felino. (...) A prevenção da obesidade é muito mais fácil do que o tratamento”, destaca a literatura técnica da área.
Portanto, a troca da ração não é marketing. É o ajuste necessário para que a biologia do seu gato, agora modificada pela cirurgia, continue funcionando com saúde. Ao investir em uma nutrição adequada, o tutor economiza em tratamentos veterinários futuros para desobstrução urinária ou controle de diabetes.