Ver papagaios vocalizando palavras humanas é algo que chama atenção e levanta uma pergunta comum entre tutores: será que os papagaios realmente entendem o que é dito a eles?
De acordo com o biólogo e doutor em Psicobiologia César Ades, em entrevista concedida à Folha de S.Paulo, os papagaios possuem capacidades cognitivas que os aproximam de crianças humanas pequenas:
“Eles reconhecem padrões sonoros, associam sons a objetos e podem até adaptar o uso da linguagem ao contexto, embora não compreendam a linguagem como nós”.
Isso se dá porque os psitacídeos (grupo que inclui papagaios, periquitos e araras) têm um cérebro altamente desenvolvido para comunicação vocal.
Segundo o artigo Neural correlates of avian intelligence, publicado na Science em 2016, essas aves têm uma estrutura cerebral comparável ao neocórtex de mamíferos, o que pode trazer habilidades como aprendizado social, resolução de problemas e imitação de fala humana.
Comunicação afetuosa que vai além das palavras
A vocalização é um dos principais meios de comunicação entre os papagaios, mas não é o único.
Eles expressam emoções, interesses e até desconforto por meio de posturas corporais, dilatação das pupilas, arrumação das penas e sons distintos.
De acordo com o Manual de Criação de Papagaios da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), os papagaios domesticados que vivem em ambientes estimulantes e recebem atenção cotidiana dos tutores tendem a desenvolver vínculos profundos com os humanos.
Eles demonstram carinho se aproximando, vocalizando ou até “beijando” com o bico. Também podem apresentar comportamentos possessivos e até sinais de estresse se não forem socializados corretamente.
“Um papagaio pode se tornar tão próximo de seu tutor quanto um cão ou um gato, desde que haja socialização desde cedo e enriquecimento ambiental”, explica a médica-veterinária Carolina Maciel, especialista em aves silvestres, em entrevista à Agência Fiocruz.
Apesar da fama de falantes, nem todos os papagaios aprendem a falar. O aprendizado depende de estímulo constante, individualidade da ave e ambiente em que vive.
A repetição de palavras com entonação carinhosa costuma ser mais eficaz do que comandos ríspidos ou forçados.
Além disso, o contato diário é essencial: aves ignoradas tendem a desenvolver comportamentos destrutivos ou autolesivos, como arrancar penas.
Cuidados e estímulos que fortalecem a relação
• Fale com a ave diariamente, com tom afetuoso e paciência;
• Observe sinais não verbais, como movimentos das penas e olhos;
• Estimule a socialização com outras pessoas, para evitar vínculos excessivos com uma só figura;
• Ofereça brinquedos variados, galhos, espelhos e desafios cognitivos;
• Evite o isolamento: papagaios são sociáveis e sofrem com solidão;
• Consulte veterinários especializados em silvestres regularmente.