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Por que os cachorros seguem tutores até no banheiro, segundo especialistas

Comportamento curioso pode indicar afeto, dependência emocional ou simples necessidade de companhia. Entenda o que está por trás do hábito e como lidar

A maioria dos cães que seguem seus tutores apenas busca companhia, curiosidade ou deseja reforçar o laço.

É comum que tutores relatem uma rotina inusitada: basta levantar da cadeira ou do sofá que o cachorro já está atrás. Ir ao banheiro? Lá está ele, na porta ou sentado aos pés.

O comportamento é tão frequente que virou meme nas redes sociais, mas tem explicações sérias por trás: para muitos cães, acompanhar o tutor por toda a casa é uma forma de demonstrar afeto, garantir segurança e manter o contato com quem representa seu grupo social.

Segundo a médica-veterinária comportamentalista Maria Carolina Silva, do Hospital Veterinário da Universidade Anhembi Morumbi, em São Paulo (SP), o comportamento pode ter origem tanto na formação do vínculo durante a socialização quanto na evolução da espécie.

“Os cães são animais sociais e descendem de lobos, que vivem em matilhas. Seguir o líder ou os companheiros de grupo é natural. Em casa, o tutor assume esse papel”, explica.

Além disso, o fato de os cães terem sido domesticados para viver próximos aos humanos reforça essa tendência.

Um estudo publicado no periódico especializado Animal Cognition indica que os cães não apenas reconhecem suas figuras de apego, mas também preferem estar próximos delas sempre que possível, o que inclui até momentos de privacidade humana.

Proximidade constante pode indicar insegurança ou ansiedade

Cães que não suportam ficar longe dos tutores, mesmo por curtos períodos, podem desenvolver ansiedade de separação, um transtorno que gera sofrimento intenso, vocalizações exageradas, destruição de objetos e até problemas de saúde.

“Se o cão fica excessivamente ansioso quando o tutor fecha a porta do banheiro ou sai de casa por alguns minutos, é importante ficar atento. A busca constante por contato pode ser um pedido de ajuda silencioso”, alerta Mariana Lemos, veterinária da Universidade Federal de Lavras (UFLA).

Ela orienta que, nesses casos, o tutor deve observar se há outros sinais de estresse e, se necessário, procurar acompanhamento com um profissional especializado em comportamento animal.

A maioria dos cães que seguem seus tutores, porém, apenas busca companhia, curiosidade ou deseja reforçar o laço.

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Como interpretar e equilibrar o comportamento do seu cão

A presença constante do cão pode parecer exagerada, mas geralmente é expressão de carinho, lealdade e rotina estabelecida.

Para entender se o comportamento exige atenção ou é apenas uma curiosidade do dia a dia, o tutor deve observar alguns aspectos:

  • O cão apenas acompanha, mas se distrai facilmente? Normalmente não é sinal de problema;
  • Ele apresenta sinais de estresse quando está sozinho? Pode indicar dependência emocional;
  • Late, arranha portas ou destrói objetos ao ficar só? Fique atento à possibilidade de ansiedade de separação;
  • Segue todos os membros da casa ou só uma pessoa? Isso pode apontar um apego excessivo e pouco saudável;
  • Tem acesso a brinquedos, enriquecimento ambiental e passeios regulares? O tédio pode estar por trás do comportamento;
  • Acompanha você apenas em horários específicos (como antes de passear ou comer)? Pode ser hábito aprendido.

Se o comportamento estiver associado a sinais de estresse ou dificuldade em lidar com a ausência, especialistas recomendam estimular a independência do pet aos poucos, por meio de treinos positivos, enriquecimento ambiental e construção de rotinas mais equilibradas.

“Nem sempre é necessário impedir que o cão siga o tutor, mas ajudá-lo a se sentir seguro mesmo quando está só é essencial para o bem-estar dele”, conclui a médica-veterinária Maria Carolina Silva.

Jessica de Almeida é repórter multimídia e colabora com reportagens para a Itatiaia. Tem experiência em reportagem, checagem de fatos, produção audiovisual e trabalhos publicados em veículos como o jornal O Globo e as rádios alemãs Deutschlandfunk Kultur e SWR. Foi bolsista do International Center for Journalists.