A relação entre fé, memória e cultura popular marca a exposição “Rusá: Devoção e Celebração”, do fotógrafo mineiro Tiago Aguiar, que apresenta um retrato da Festa do Rosário do Serro e dos grupos que mantêm viva essa tradição tricentenária. O projeto é resultado de dez anos de pesquisa e convivência com as irmandades, dançantes e comunidades que compõem a celebração religiosa e cultural.
A mostra será realizada na Sala Manoel da Costa Ataíde, no Museu da Inconfidência, em Ouro Preto, entre 29 de novembro de 2025 e 22 de fevereiro de 2026, com entrada gratuita. A abertura contará com uma visita guiada especial ao público, no dia 29 de novembro, às 10h. A exposição reúne 30 fotografias, além de instalações táteis, sonoras e audiovisuais, distribuídas em quatro eixos: Dançantes, Caravana, Quermesse e Lá du Rusá.
As imagens registradas por Tiago Aguiar buscam evidenciar os protagonistas da Festa do Rosário, catopês, marujos, caboclos, rainhas, viajantes e devotos, que, ao longo de gerações, mantêm o Congado como expressão de fé e resistência. A partir do uso do flash e de composições que privilegiam o retrato humano, o fotógrafo propõe um olhar sobre a individualidade de cada participante e sobre as relações que sustentam o ritual.
Além das fotografias, o público poderá acessar áudios e depoimentos por meio de QR Codes, com vozes de mestres e personagens da festa, como benzedeiros, comerciantes e dançantes. As gravações reúnem cânticos, conversas e relatos sobre os saberes e práticas que compõem o Rosário. A proposta é aproximar o visitante das experiências coletivas e espirituais que marcam o evento no Serro.
A mostra também propõe uma reflexão sobre o papel histórico das Irmandades do Rosário na formação social das cidades mineiras. Segundo os pesquisadores do Movimento Áurea, a irmandade do Serro, criada em 1728, e a de Ouro Preto, formalizada em 1715, compartilham trajetórias semelhantes, marcadas pela devoção a Nossa Senhora do Rosário e pelo apoio mútuo entre seus membros. Essas instituições tiveram importância fundamental na promoção de rituais religiosos, ações de solidariedade e práticas de libertação no período colonial.
Com a circulação da exposição, Tiago Aguiar busca ampliar o alcance do projeto e estimular o debate sobre as manifestações culturais de matriz africana em Minas Gerais. Segundo o fotógrafo, o “Rusá” é uma linguagem visual e espiritual que traduz o encontro entre fé, memória e identidade.
A realização é do Ponto de Cultura Movimento Áurea, com apoio do Museu da Inconfidência, do Ministério da Cultura e da Secretaria de Estado de Cultura e Turismo de Minas Gerais (Secult-MG), por meio da Política Nacional Aldir Blanc.