Entenda como nova geração de mafiosos ameaça império bilionário da yakuza no Japão

Nova máfia japonesa, conhecida como ‘tokuryu’, aplica golpes contra idosos, o que desafia os códigos de honra tradicionais

Entenda como nova geração de mafiosos ameaça império bilionário da yakuza no Japão

As tradicionais organizações criminosas do Japão, conhecidas como “yakuza”, vem perdendo espaço nos últimos anos para uma nova geração de mafiosos.

Conhecida pelas tatuagens, hierarquia rígida e códigos de honra, a máfia tradicional enfrenta um cenário de diminuição no volume de apresentação de recrutas e perda de apelo perante os jovens.

Em entrevista à agência de notícias AFP, um mafioso de alto escalão aliado de um vasto clã da yakuza analisou que jovens millennials e da Geração Z não estão preparados para começar debaixo e ir galgando posições com seu trabalho.

“Chegam até nós com fantasias sobre a pompa e o glamour do nosso mundo e descobrem rapidamente que a realidade não é o que imaginavam. Não gostam de se sentir aprisionados” pelas regras e rituais da organização, afirmou.

Tokuryu, o novo submundo criminoso do Japão

A nova geração de mafiosos japoneses, cada vez mais, se junto a um tecnológico submundo criminoso conhecido como “tokuryu”, especializada em aplicar golpes contra a população idosa japonesa, prática proibida pelos códigos de honra yakuza.

A tokuryu, termo que significa “anônimo e fluido”, cresceu rapidamente e funciona com uma estrutura econômica própria e líderes protegidos da detenção por subordinados descartáveis, contratados para cometer crimes específicos.

Os chefes misteriosos usam as redes sociais e mensagens criptografadas para recrutar soldados, geralmente ingênuos, para fazer seu trabalho sujo. A estratégia faz com que possíveis detenções raramente levem às lideranças.

Os principais golpes e crimes de fraude executados entre janeiro e julho pelos tokuryu custaram ao Japão 72,2 bilhões de ienes (R$ 2,65 bilhões, na cotação da época), superando as perdas recorde de todo o ano passado.

Um dos delitos mais comuns da nova máfia é ligar para idosos se passando por seus filhos ou netos e dizer ter cometido um deslize que envergonharia a família. Então, imploram por dinheiro para reparar o erro.

Ameaçada, yakuza rechaça conduta da tokuryu

A yakuza, que se orgulha de não explorar os pobres e os fracos, rechaça e considera desonroso os golpes aplicados pela tokuryu. Um dos mantras da máfia tradicional prega: “Ajude os fracos, enfrente os fortes”.

Em entrevista à agência de notícias AFP, um ex-membro da yakuza da cidade de Gifu afirmou: “Eu briguei muito e já matei alguém, mas nunca maltratei os mais fracos”. “É um grande desvio do nosso tradicional código de cavalheiros”, acrescentou este ex-gângster, agora na faixa dos 70 anos.

Os membros da yakuza também se viam como indivíduos com um papel social, atuando como agentes nas sombras em áreas marginalizadas, de onde a polícia e o sistema judicial se ausentavam.

No entanto, o império bilionário das organizações criminosas tradicionais está encolhendo após anos de rígidas leis anti-máfia, aplicadas pelo Governo do Japão desde 1992.

Com informações de Tomohiro OSAKI, da AFP

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Jornalista formado pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Na Itatiaia, escreve para Cidades, Brasil e Mundo. Apaixonado por boas histórias e música brasileira.

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