Em meio aos olivais do vilarejo de Sanhaja, no norte da Tunísia, uma máquina comandada pelo engenheiro Yassine Khelifi transforma resíduos do processamento de azeitonas em briquetes para gerar calor, uma alternativa à lenha em um país altamente dependente da importação de gás e petróleo.
Fundador da startup Bioheat, criada em 2022, Khelifi aproveita o chamado “fitoura” — pasta composta por peles, polpa e fragmentos do caroço da azeitona — para produzir os cilindros. Os briquetes são moldados, secos ao sol por cerca de 30 dias e depois embalados para comercialização.
“Extraímos energia e geramos renda com um resíduo orgânico antes descartado”, explica Khelifi, que atua também como analista de imagens de satélite.
A Tunísia está entre os cinco maiores produtores mundiais de azeite de oliva, com uma safra estimada em 304 mil toneladas para 2025. A produção gera aproximadamente 600 mil toneladas de bagaço por ano — grande parte descartada inadequadamente, agravando a poluição do solo.
A ideia do engenheiro surgiu da observação do uso tradicional do bagaço como combustível nas zonas rurais. A dificuldade de encontrar equipamentos no mercado o levou a desenvolver sua própria máquina, após quatro anos de testes com diferentes motores e peças. O resultado é um briquete com apenas 8% de umidade residual, que emite menos CO₂ do que a lenha tradicional.
Hoje, a Bioheat conta com dez funcionários e atende clientes na Tunísia, como hotéis, restaurantes e escolas em regiões carentes do noroeste do país. No entanto, 60% da produção — cerca de 600 toneladas por ano — é exportada para países como França e Canadá.
Empresários locais destacam as vantagens dos briquetes. Selim Sahli, dono de uma hospedaria em Nabeul, reduziu em um terço dos seus custos com aquecimento. Já Ahmed Harrar, que comanda uma pizzaria nos arredores da capital, Tunis, afirma que o produto gera menos fumaça e agrega um sabor especial às pizzas.
Especialistas apontam que projetos como o de Khelifi têm potencial para gerar empregos, proteger o meio ambiente e reduzir a dependência energética da Tunísia, que importa mais de 60% de seu combustível e gás.
Apesar dos desafios enfrentados para obter financiamento — especialmente por conta das altas taxas bancárias — Khelifi segue otimista. Seu objetivo é tornar a Bioheat uma referência na transição energética não apenas na Tunísia, mas também em escala global.