Neste domingo (2), são comemorados 182 anos da nomeação de Dom Viçoso como bispo da Diocese de Mariana, em Minas Gerais. Na época, o imperador Dom Pedro II escolhia e informava ao Papa, no caso, Gregório XVI, que confirmou a decisão. A ordenação episcopal foi em 1844, quando ele se mudou para a cidade mineira.
Em 2025 anos, serão lembrados 150 anos da morte de Dom Viçoso, aos 88 anos em 7 de julho de 1875. Na Zona da Mata, duas cidades foram nomeadas em homenagem ao bispo português: Dom Viçoso e Viçosa. Em Juiz de Fora, uma rua no bairro Alto dos Passos também recebeu o nome dele.
A trajetória do 7º Bispo da Diocese de Mariana e o impacto da atuação dele para a Igreja Católica no século XIX no Brasil são abordados no livro “Dom Viçoso, um santo que andou em Minas”. O autor, Arcebispo Metropolitano de Juiz de Fora, Dom Gil Antônio Moreira, conversou com a imprensa durante o lançamento nesta semana.
Atuação em contexto social e político desfavorável
Dom Viçoso se destacou pela visão social. Ele foi um dos primeiros líderes religiosos no Brasil a manifestar um pensamento abolicionista, pregando os valores de igualdade e dignidade humana. Curiosamente, ele nasceu em 13 de maio de 1787. Mais de um século depois, nesta data, a Princesa Isabel assinaria a abolição da escravatura.
Dom Gil Antônio Moreira reforça o papel de Dom Viçoso no contexto social, econômico e religioso no século XIX durante o serviço episcopal em Mariana.
“Ele encontrou o Brasil em uma situação muito difícil em relação à Igreja. Embora fosse a religião oficial do Estado, a Igreja Católica no período da Monarquia, sofria com ingerência de política dentro da igreja. Muitos interesses de políticos com assuntos provavelmente eclesiásticos. E isso vem produzir no Brasil, também em Minas Gerais, como Diocese de Mariana, uma situação que é bastante complicada, que muitas vezes padres com mulheres e filhos, muitas vezes com problemas de ordem administrativa, propriamente com relação à paróquia, etc. A gente pode dizer, que há uma Igreja do Brasil antes de Dom Viçoso e depois de Dom Viçoso, sobretudo na questão de formação do Clero e deveres e direitos da igreja”.
Dom Viçoso foi o Bispo da Arquidiocese de Mariana por mais de 30 anos
Em processo de canonização
Um fator que incentivou Dom Gil a publicar o livro, em linguagem popular, é o processo de canonização de Dom Viçoso, que está em andamento. O processo foi aberto em 1916 por Dom Silvério Gomes Pimenta, primeiro Arcebispo de Mariana, ficou paralisado por alguns anos até ser retomado.
Em 2014, o Papa Francisco autorizou a publicação do decreto reconhecendo as virtudes heroicas do Servo de Deus Dom Viçoso, concedendo-o título de Venerável. Atualmente aguarda a aprovação do milagre que está em análise pelos peritos da Congregação das Causas dos Santos para ser beatificado.
No entanto, em vida, de acordo com a Arquidiocese de Mariana, há muitos relatos de milagres e graças que fiéis conseguiram pela intercessão de Dom Viçoso.
“Dom Viçoso é um santo, eu posso dizer que ele está no céu. Não é canonizado ainda, a Igreja já o reconhece como venerável. Em breve, a gente espera que ele seja canonizado”, disse o Arcebispo de Juiz de Fora
Dom Gil comentou que a trajetória de serviço pastoral e de comportamento pessoal de Dom Viçoso deixam legado de exemplo aos católicos sobre perseverar diante das dificuldades com a força da fé.
“Ele é santo porque foi um homem todo de Deus. Ele fez um trabalho muito difícil, muito sacrifício. Quando ele recebeu a nomeação episcopal, ele já teve quase para não aceitar. No meio do carinho, outra vez, com tantos sacrifícios, tantas oposições, tantos problemas, ele chegou a renunciar. Mas foi reconduzido. De maneira que ele teve uma vida de sacrifício muito grande, mas fazia isso em união com o sacrifício de Cristo. Era um homem de vida de santidade, de oração, de penitência. Foi um homem muito culto, muito sábio, mas não tinha nenhuma vaidade. Era um homem que vivia a simplicidade e na pobreza. Por isso ele foi considerado como um homem santo”.
Livro sobre Dom Viçoso foi lançado pelo Arcebispo de Juiz de Fora, Dom Gil Antônio Moreira
Resgate e valorização da História da Igreja Católica em MG
O lançamento ocorreu em aula magna de abertura do ano letivo para os alunos dos cursos de Filosofia e Teologia, do Seminário Arquidiocesano Santo Antônio, em Juiz de Fora, sobre “Aspectos da Igreja no século XIX em Minas Gerais”. Dom Viçoso foi o protagonista do trabalho de Mestrado do Arcebispo.
“É a publicação do estudo que eu fiz em Roma, de 1989 a 1992, na Universidade Gregoriana e lá obtive o título de Mestre em História. Meu trabalho foi sobre Minas Gerais, reforma do clero em Minas. E a pessoa central dessa reforma, foi Dom Antônio Ferreira Viçoso. Eu fiz uma pesquisa bastante extensa sobre essa realidade e sobre a vida de Dom Viçoso.”.
Dom Gil Antônio Moreira comentou a relevância de divulgar a pesquisa para o público interessado em conhecer estes aspectos da história da Igreja Católica.
“Estou lançando esse livro para, justamente, socializar essa pesquisa que eu pude fazer naqueles anos e depois, como professor de História em vários lugares, prosseguindo a pesquisa”.
Em um mundo com excesso de informação, o Arcebispo analisou a relevância de saber e compreender o que houve para caminhar adiante.
“Cícero, o grande autor latino, dizia que esquecer o passado é comprometeu o futuro. O passado é o alicerce de uma casa. Se você tira alicerce, a casa cai. Nesse mundo de hoje parece que querem construir sem alicerce. As casas vão cair. Então, a casa que vai perdurar é aquela que sabe alicerçar-se da história. Então, na história, nós temos muitas pedras importantíssimas que seguram o edifício da sociedade. No nosso caso aqui, uma delas é da Dom Viçoso”.
O Arcebispo de Juiz de Fora, Dom Gil Antônio Moreira, fará o lançamento do livro em Itapecerica (MG) no dia 6 de abril em Mariana (MG), em maio.