A telefonia móvel é essencial nos dias atuais. Os celulares são computadores já bastante potentes e praticamente tudo pode ser feito diretamente neles. Para isso, os aparelhos usam a tecnologia 4G. Ela é bem mais rápida e sofisticada que as gerações anteriores, como 2G e 3G, mas ainda pode melhorar.
É isso que pretende o 5G, que já está em funcionamento em várias partes do mundo e, aqui no Brasil, deve estar disponível nas capitais até setembro — o processo, entretanto, deve se estender até 2028, quando o 5G estará em pleno funcionamento no país. Evolução da rede atual, o 5G é mais potente, veloz, inteligente e causa menos impacto no meio ambiente.
Um dos objetivos dessa tecnologia é comportar o crescente volume de informação trocado diariamente por bilhões de dispositivos sem fio em todo o mundo. De forma geral, essa geração de internet móvel vai oferecer alta velocidade de conexão, transferências de dados a taxas mais altas, cobertura mais ampla e eficiente, e um número maior de usuários simultâneos.
O leilão das frequências do 5G foi concluído pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) em novembro. Na ocasião, foram vendidas quatro faixas de frequência: 700 MHz, 2,3 GHz, 3,5 GHz (a mais usada no mundo) e 26 GHz.
Como funciona o 5G?
Assim como as gerações anteriores, o 5G funciona por meio de ondas de rádio. A grande diferença, entretanto, é que o espectro coberto por ele é bem maior: está entre 600 e 700 MHz, 26 e 28 Ghz e 38 e 42 GHz.
Esses intervalos de frequência têm capacidade maior, mas como seus comprimentos de onda são menores, seu alcance é mais curto. Essa característica dá a eles o nome de ondas milimétricas e faz que sejam bloqueados mais facilmente por objetos físicos.
Os módulos de antenas de telefonia 5G devem ser menores para propagar as ondas milimétricas entre mais transmissores e receptores. Isso vai permitir uma cobertura mais ampla. Aqui no Brasil, a tecnologia deve funcionar, pelo menos inicialmente, de forma híbrida: uma mistura de 4G e 5G standalone (que não depende do 4G).
Onde as antenas serão instaladas?
As antenas para a tecnologia serão acopladas às já usadas para o 4G — e essas serão adaptadas para funcionar em conjunto com a nova infraestrutura. Paralelamente, antenas menores com alcance de poucos metros poderão ser instaladas para repetir o sinal dos dispositivos locais e redirecioná-lo para uma estação central. As antenas replicadoras, colocadas em postes ou em prédios altos, poderão cobrir distâncias de até 250 m.
Existem, hoje, cerca de 100 mil antenas já instaladas. Para operar o 5G com qualidade será necessário quadruplicar esse número. A previsão é de que, até setembro, 3,8 mil antenas estejam em funcionamento nas 27 capitais brasileiras.
Nas áreas em que já há cobertura 4G, devem prevalecer os equipamentos de pequeno porte. Em vez de ocupar o topo dos prédios, eles podem ficar em fachadas, marquises ou mobiliários urbanos, como bancas de jornal e termômetros. Outra opção são conjuntos de mastro, posteletes e equipamentos periféricos. O baixo impacto desses equipamentos permite sua presença mesmo em cidades com leis que proíbem a poluição visual, como São Paulo.
A legislação federal prevê que, para a instalação, basta a autorização do proprietário do imóvel. Ou seja, não é necessário licenciamento prévio, como ocorre com equipamentos de grande porte. Isso deve acelerar a ampliação da rede 5G.
Após a instalação, é preciso notificar as autoridades municipais. As regras para as antenas são determinações técnicas da Anatel e cada município deve criar seu marco regulatório para aprovar sua disposição. Esse processo já ocorreu para outras frequências.
As antenas 5G têm um mecanismo inteligente que concentra o sinal em vez de emiti-lo em todas as direções. A direção desse foco será determinada pela demanda de dispositivos que requisitarem conexão com a rede, de forma a otimizar a capacidade de cada antena.
O 5G é perigoso?
Muito já se falou sobre a possibilidade de a radiação emitida pelo 5G trazer danos à saúde. Durante a pandemia de covid-19, espalhou-se falsamente que a doença é resultado da exposição dos seres humanos a frequências da rede 5G. Estudos de avaliação da segurança da tecnologia, entretanto, indicam um patamar seguro.
Um levantamento publicado no Journal of Exposure Science & Environmental Epidemiology em março deste ano avaliou 107 trabalhos experimentais para investigar efeitos biológicos adversos. “Uma revisão de todos eles não forneceu evidências de que ondas de rádio de baixo nível, como as usadas pela rede 5G, são perigosas para a saúde humana”, aponta Ken Karipidis, diretor da Agência Australiana de Proteção à Radiação e Segurança Nuclear (Arpansa).
O biomédico Renato Sabbatini, cofundador da Sociedade Brasileira de Informática em Saúde, esclarece que o 5G não traz riscos. Sua potência é bem menor que a do 4G, o que faz a possibilidade de efeitos sobre a saúde (que não existem na tecnologia atual) ser ainda menor. Todas as faixas de radiofrequência são não ionizantes, pois não têm potência suficiente para quebrar relações moleculares.
O que será possível com as redes 5G?
A GSM Association (GSMA), organização que reúne operadoras de rádio, internet e telefonia móvel, definiu critérios para guiar o processo de implantação das redes 5G. Os principais deles são:
as redes 5G devem consumir até 90% menos energia que as 4G;
os tempos de conexão entre aparelhos móveis (chamados de latência) devem ser inferiores a 5 ms enquanto nas 4G é de 30 ms;
o número de aparelhos conectados por área deve ser 50 a 100 vezes maior que o atual;
a duração da bateria dos dispositivos deve ser ampliada.
Para se ter uma ideia, a velocidade média de conexão das redes 4G é de, aproximadamente, 33 Mbps. Pelas estimativas, ao oferecer velocidades 50 a 100 vezes maiores, o 5G pode alcançar até 10 Gbps.
A expectativa é de que, após a instalação da infraestrutura das redes 5G, haja redução no consumo de energia, o que a torna mais ecológica e pode diminuir os custos futuros. Já a latência reduzida vai possibilitar, entre outros, a comunicação entre veículos autônomos, o surgimento de fábricas completamente conectadas e a realização de cirurgias remotas por meio de robôs.
Por que o 5G é importante?
O 5G vai afetar diferentes setores da economia, como agronegócio, comércio e indústria, bem como usuários finais. Fábio Faria, ministro das Comunicações, avalia que a tecnologia pode atrair US$ 1,2 trilhão em investimentos diretos e indiretos para o país. Segundo ele, “o 4G revolucionou a vida das pessoas e o 5G vai revolucionar as indústrias”. Isso porque se espera que a chegada da tecnologia aumente a eficiência produtiva e crie empregos.
Em 2017, um estudo da Qualcomm estimava que o 5G poderia levar à geração de 22 milhões de empregos e à produção de até US$ 12,3 trilhões em bens e serviços até 2035. Uma previsão atualizada da empresa, divulgada em 2020, aponta para um crescimento de 10,8% no investimento global de 5G e de pesquisa e desenvolvimento nos próximos 15 anos — e as vendas globais devem somar US$ 13,1 trilhões.
No Brasil, a expectativa é de que o 5G seja usado no agronegócio, um dos principais setores econômicos do país. Hoje, mais de 70% das propriedades rurais nacionais ainda não têm acesso à internet, segundo dados do Instituto Brasileiros de Geografia e Estatística (IBGE). A ideia é que o 5G ajude a reduzir esse percentual.
Quais cidades brasileiras já têm 5G?
No Brasil, por enquanto, está disponível o 5G Dynamic Spectrum Sharing (DSS) — em português, compartilhamento dinâmico de espectro. Essa modalidade usa parte das faixas de frequência da rede 4G. De forma simplificada, ela cria uma rede 5G na frequência do 4G sem desligar um para ligar o outro. Ou seja, permite introduzir usuários na rede 5G sem ter de limpar o espectro.
Entre as cidades que oferecem o 5G DSS estão Belém (PA), Belo Horizonte (MG), Brasília (DF), Campinas (SP), Curitiba (PR), Goiânia (GO), Guarulhos (SP), Manaus (AM), Porto Alegre (RS), Recife (PE), Rio de Janeiro (RJ), Rio Verde (GO), Salvador (BA), Santo André (SP), Santos (SP), São Bernardo do Campo (SP), São Caetano do Sul (SP) e São Luís (MA). Mesmo nessas localidades, o uso ainda é limitado, já que nem todos os bairros têm a rede ativada pelas operadoras.
Em que países o 5G está disponível?
Desde 2019, a Coreia do Sul oferece a tecnologia — foi o primeiro país a implementá-la oficialmente. Atualmente, já há 72 países e 1.947 cidades conectados pelo 5G, como Alemanha, Arábia Saudita, Argentina, Austrália, Butão, Canadá, Cazaquistão, China, Chipre, Espanha, Estados Unidos, Filipinas, Finlândia, Ilhas Maurício, Itália, Japão, Malásia, Malta, Peru, Quênia, Reino Unido, Rússia e Uzbequistão.
A China tem 356 cidades conectadas pela tecnologia e lidera a lista de países com mais localidades com 5G. Os EUA vêm em segudo, com 296, e as Filipinas ocupam a terceira posição, com 98. Europa, Oriente Médio e África são a região com mais cidades 5G: juntos, têm 839. Já a área Ásia Pacífico (APAC) tem 689 e as Américas, 419.
O que muda para o consumidor com o 5G?
Com o 5G, a velocidade de conexão vai ser mais alta e a conectividade, melhor. Além disso, a tecnologia busca dar conta do crescente número de dispositivos conectados. Há até a expectativa de que ele possa substituir as redes Wi-Fi domésticas.
Com o 5G e sem cabos, é possível mudar o roteador de cômodo para garantir qualidade de conexão e boa velocidade em toda a casa. Em grandes cidades, a internet fixa via fibra óptica continua a ser vantajosa tanto para usuários quanto para operadoras, uma vez que já há infraestrutura criada.
Para quem joga no celular, haverá menos atraso ao pressionar um comando e ver o efeito na tela. Ver vídeos em aparelhos móveis será quase instantâneo e sem interrupções. Já as videochamadas devem se tornar mais claras e menos irregulares.
Espera-se, ainda, que a conexão funcione o tempo todo para todo mundo. Aqueles apagões em situações de aglomeração, por exemplo, devem deixar de existir. Isso porque, graças à densidade do 5G, ele é capaz de suportar mais conexões simultâneas.
Qual o benefício para a internet das coisas?
A grande mudança, entretanto, são as possibilidades para a internet das coisas (IoT). Sistemas de iluminação pública e residencial, smartphones, smartwatches, eletrodomésticos, dispositivos de monitoramento, sensores de presença, frequencímetros cardíacos, centrais de segurança, estacionamentos, caixas de supermercados, sensores meteorológicos e muitos outros dispositivos poderão se conectar mutuamente.
A geladeira, por exemplo, poderá ser programada para avisar quando um item estiver no fim ou para comprá-lo remotamente. Monitores de saúde poderão atuar em tempo real e até notificar os médicos se houver qualquer emergência. Além disso, a baixa latência permitirá que o sistema de freios de um veículo comunique-se com smartphones ou smartwatchs de pedestres de forma a evitar acidentes quando estiverem muito próximos.
No agronegócio, vai ser possível monitorar uma plantação remotamente a partir de imagens captadas por drones. Chips, GPSs e outros equipamentos poderão monitorar a saúde de animais e as condições climáticas de lavouras, bem como permitir que tratores funcionem de forma autônoma enquanto sistemas de irrigação poderão ser acionados a distância.
Qual o custo do 5G?
Para especialistas, as operadoras podem oferecer franquias maiores com o 5G. No Reino Unido, algumas ofereceram planos ilimitados quanto a rede foi inaugurada: a britânica Vodafone, por exemplo, tinha preços entre £ 23 e £ 30 mensais.
Nos EUA, operadoras como Verizon e Sprint têm pacotes ilimitados de 5G, mas com limitações para o uso do 4G. Aqui no Brasil, embora a implementação já esteja em andamento, ainda não há preços e condições estabelecidos.
Devo comprar um celular 5G agora?
A resposta mais curta é “não”. Ou seja, a tecnologia em si não deve ser o fator motivador para a compra, especialmente porque os aparelhos com suporte à tecnologia ainda são mais caros. Com o passar do tempo, entretanto, eles devem ficar mais baratos à medida que o custo de fabricação diminuir.
Por outro lado, se for trocar de aparelho e o modelo que deseja já vem com 5G, isso pode ser interessante. Só lembre-se de que, a depender de onde você reside no Brasil, a operação ainda pode demorar a chegar.