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Ouro olímpico em Paris encerra ciclo no basquete dos Estados Unidos

Foi a última competição internacional de jogadores como Curry, LeBron e Durant

Após o histórico ouro nos Jogos Olímpicos de Paris, a seleção e o basquete dos Estados Unidos entrará em um processo de “passagem de bastão”. Estrelas como o armador Stephen Curry e os alas LeBron James e Kevin Durant, atletas na lista dos maiores jogadores de basquete, agora focarão na NBA e não devem mais servir a equipe nacional.

LeBron, de 39 anos, conquistou a quarta medalha olímpica (o terceiro ouro). KD, de 35, foi para o quarto ouro, enquanto Curry, de 36, foi campeão olímpico na primeira disputa. A tendência é que, para Los Angeles 2028, outras estrelas em desenvolvimento representem os EUA, sem esses figurões.

Do “Dream Team 2.0", jogadores como os ala-armadores Devin Booker e Anthony Edwards e o ala Jayson Tatum puxem a fila para LA 2028, edição que os EUA serão anfitriões. Em Paris 2024, além do ouro, o time queria passar um recado de força e dominância - e conseguiu.

O armador Jrue Holiday é improvável para 2028, quando terá 38 anos. Pela condição física, o ala-pivô Anthony Davis é outro que talvez não esteja na disputa em casa.

Já o armador Tyrese Haliburton, o ala-armador Derrick White e o pivô Bam Adebayo ainda podem pintar no time de 2028. Já o pivô Joel Embiid é uma incógnita, já que considera atuar por Camarões neste ciclo - país onde nasceu. A presença de Steve Kerr como treinador na próxima Olimpíada também é incerta.

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A campanha

Os EUA avançaram aos mata-matas como líderes do Grupo C, após vitórias dominantes sobre a mesma Sérvia, Sudão do Sul e Porto Rico. Depois, o “Dream Team 2.0" despachou o Brasil nas quartas de final. O triunfo com menor diferença de pontos foi de 17, até a semifinal.

Na semifinal, o time norte-americano provou sua força. Os EUA perdiam por 17 para a Sérvia e, em virada histórica, venceram na última quinta-feira (8) por 95 a 91. Já nesse sábado (10), veio a consagração final: triunfo por 98 a 87 sobre a anfitriã França, na Bercy Arena, com show de Curry.

A montagem da equipe

Uma série de fatores motivou a formação do “novo Dream Team”. Após a conquista da medalha de ouro em Tóquio 2021 (o quarto título seguido) com uma equipe forte e liderada por Durant, os Estados Unidos mantiveram uma tendência de atuar em Copa do Mundo com uma equipe jovem.

Em 2023, com jogadores em ascensão, como o ala-armador Anthony Edwards, os EUA decepcionaram pela segunda vez seguida em um Mundial ao caírem na semifinal dos Jogos Olímpicos para a futura campeã Alemanha. Para piorar, o “Team USA” perdeu a disputa pelo terceiro lugar para o Canadá.

Na edição de 2019 do Mundial, mantendo a linha de convocar jovens jogadores destaques da NBA, os Estados Unidos foram ainda pior, caindo nas quartas de final após derrota para a França. Essas derrotas e outros pontos, como o número de estrangeiros de destaque na NBA, fizeram com que o basquete dos EUA fosse questionado.

O ponto alto foi quando o corredor estadunidense Noah Lyles, bronze em Tóquio nos 200m e atual campeão mundial nos 100m, 200m e 4x100m, disparou contra as equipes da NBA. O atleta, ouro nos 100m e bronze nos 200m em Paris 2024, questionou o fato de as franquias serem consideradas campeãs mundiais na NBA.

“Sabe o que mais me incomoda? É o fato de eu assistir as finais da NBA, e eles terem ‘campeões mundiais’ nos telões. Campeões mundiais de quê? Dos Estados Unidos? Não me levem a mal, eu amo os Estados Unidos, às vezes, mas não são o mundo”, disse, em agosto de 2023, durante o Mundial de Atletismo.

“Esse não é o mundo, nós (Mundial de Atletismo) somos o mundo. Temos quase todos os países aqui lutando e colocando sua bandeira no peito, mostrando o que estão representando. Não há bandeiras na NBA”, completou.

A declaração gerou reações diversas no nas pessoas ligadas ao basquete. Elas ganharam ainda mais eco dias depois, quando os EUA caíram para a Alemanha no Mundial.

A partir de então, aliado ao fato de possivelmente ser a última possibilidade de disputa olímpica de LeBron James, o “Rei” começou a se mostrar aberto ao fato de estar em Paris junto de outras estrelas. Montar uma equipe das mais fortes possíveis era a ideia, logo aceita por Curry e Durant, por exemplo.

Com o passar do tempo, vários outros jogadores começaram a ver com bons olhos a disputa. Há uma dificuldade cultural da NBA com torneios que ocorrem durante as férias da liga, especialmente pela preocupação com lesões e divergências com a Federação Internacional de Basquete - Fiba.

A seleção

Com isso, para muitos, o time convocado foi o melhor possível - salvo algumas ressalvas. Pelas redes sociais, usuários questionaram o fato de o armador Kyrie Irving ser esnobado, além de outros nomes, como Trae Young.

Originalmente, foram 16 títulos de NBA entre os convocados da Seleção Estadunidense para a Olimpíada, além de oito MVPs de temporada regular e inúmeras seleções ao All-Star Game do melhor basquete do mundo. A seleção, comandada pelo técnico Steve Kerr, do Golden State Warriors, chegou a ser comparada com o conhecido “Dream Team” de 1992.

O time estadunidense não venceu o ouro olímpico desde 1992, com Michael Jordan, Magic Johnson, Larry Bird na equipe somente em Atenas 2004. Na ocasião, a equipe do armador Allen Iverson e do ala-pivô Tim Duncan ficou com a medalha de bronze. Por conta disso, o time de Pequim 2008 ficou conhecido como “time da redenção” após a conquista do ouro.

Após a apresentação da equipe, houve somente um corte: em consenso com o Los Angeles Clippers por preocupação com lesão, o ala Kawhi Leonard deu lugar ao ala-armador Derrick White, do Boston Celtics. Novamente, a escolha foi questionada por alguns, já que o atual MVP das finais da NBA, Jaylen Brown, dos Celtics, ficou de fora.


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Matheus Muratori é jornalista multimídia com experiência em muitas editorias, mas ama a área esportiva. Faz cobertura de futebol, basquete, vôlei, esportes americanos, olímpicos e e-sports. Tem experiência em jornal impresso, portais de notícias, blogs, redes sociais, vídeos e podcasts.
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