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Hidrocefalia de pressão normal (HPN): diagnóstico de Chico Buarque pode afetar mobilidade e causar problemas cognitivos

Chico Buarque de Hollanda segue internado no Hospital Copa Star, em Copacabana, no Rio de Janeiro após cirurgia

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O músico Chico Buarque de Hollanda, de 80 anos, passou por uma cirurgia no crânio nessa terça-feira (3) para tratar um quadro de hidrocefalia de pressão normal (HPN). O diagnóstico pode ser explicado pelo acúmulo de líquidos nos ventrículos cerebrais e, apesar de não ter uma causa específica bem definida, é mais recorrente em idosos.

O procedimento foi realizado no Hospital Copa Star, em Copacabana, na zona sul do Rio de Janeiro, onde o ícone do MPB se recupera. Consagrado como uma das maiores vozes da música nacional, ao lado de Caetano Veloso, Maria Bethânia, Gilberto Gil e Gal Costa (1945 - 2022), Chico deve receber alta nesta quinta-feira (4).

À Itatiaia, o Dr. Philipe Marques da Cunha, médico neurologista e professor da Afya Educação Médica, explicou que a HPN pode afetar a mobilidade — alterações na marcha, causar problemas cognitivos e também incontinência urinária.

“A HPN manifesta-se por meio de uma tríade de sintomas conhecida como Síndrome de HakimAdams: alterações na marcha (com passos curtos, lentos, instabilidade, e a sensação de “colar os pés no chão” – a chamada marcha magnética), incontinência urinária e deterioração cognitiva semelhante à demência. A alteração da marcha é, geralmente, a característica mais marcante da doença”, pontuou Philipe.

Pós-operatório e recuperação

O profissional também destacou que o paciente deve seguir algumas orientações médicas no pós-operatório, como evitar esforços físicos e intensos nas primeiras semanas e cuidar das incisões cirúrgicas, visto que é um procedimento neurocirúrgico delicado.

“A recuperação completa pode levar de 4 a 12 semanas, dependendo do estado geral do paciente antes da cirurgia e da sua resposta ao tratamento”, frisou ele.

No caso de Chico, que recentemente subiu ao palco para cantar com Gil na turnê ‘Tempo Rei’, o médico aponta que o repouso — inclusive dos shows, pode varias de um a três meses.

“Esse período pode ser maior ou menor, conforme a gravidade do quadro, o tipo de válvula implantada, as características do procedimento e as comorbidades presentes. O retorno ao trabalho e às atividades artísticas dependerá especialmente da recuperação da marcha e da cognição”, salientou Dr. Philipe.

Eficácia da cirurgia

Segundo o neurologista, a eficácia da cirurgia é avaliada pela melhora nos sintomas, principalmente da mobilidade. “A marcha costuma ser o primeiro aspecto a apresentar melhora, tornando-se mais firme e segura. Em seguida, podem ocorrer melhorias na continência urinária e, de forma mais lenta e variável, na cognição”, explicou.

Cunha alerta que o diagnóstico precoce e a intervenção adequada são fundamentais. “A resposta à cirurgia geralmente é observada entre algumas semanas e poucos meses após o procedimento. Em alguns casos, testes prévios, como a drenagem lombar (chamada TAP Teste), ajudam a prever se o paciente responderá bem à cirurgia”, reforçou.

Tratamento

O diagnóstico, de acordo com o profissional, é resolvido após a cirurgia. À Itatiaia, ele ainda detalhou como o procedimento é realizado. “O tratamento padrão para HPN é a colocação de uma válvula de derivação ventrículo peritoneal (DVP). Durante o procedimento, um cateter é inserido nos ventrículos cerebrais e conectado a uma válvula que regula o fluxo de LCR. Esse líquido é então drenado para o peritônio (região abdominal), onde é absorvido pelo organismo”, iniciou.

“Existem diferentes tipos de válvulas, como as programáveis e automáticas. A cirurgia é realizada sob anestesia geral, com um pequeno orifício no crânio e outra incisão no abdome para a passagem do cateter”, continuou.

Riscos

Apesar de ser um procedimento delicado, os riscos são poucos. Entre eles, estão: infecções, sangramentos, obstrução ou mau funcionamento da válvula, além de complicações anestésicas. “Quando realizado por uma equipe experiente, o risco é considerado moderado. Em pacientes idosos, os riscos podem ser um pouco maiores devido à presença de comorbidades, mas em muitos casos os benefícios superam os riscos”, esclareceu

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André Viana é jornalista, formado pela PUC-MG. Já trabalhou como redator e revisor de textos, produtor de pautas e conteúdos para rádio e TV, social media, além de uma temporada no marketing.