A voz rouca e encorpada de Eduardo Araújo já ecoava pelos campos da fazenda de seu pai em Joaíma, no interior de Minas Gerais, desde muito cedo, e logo o fez perceber que a carreira de veterinário talvez não fosse a melhor opção para sua vida. Partiu então em busca de outras terras e resolveu cavalgar pelas notas e acordes dançantes de um ritmo novo que surgia com força e ousadia no cenário musical brasileiro: a Jovem Guarda.
Eduardo Araújo sempre se mostrou um artista inventivo e original que além de comandar o programa o “Bom”, na TV Excelsior, ao lado de sua futura esposa Sylvinha Araújo, também começava a fazer experimentos na música brasileira.
Tendo dito, em 1971, que Luiz Gonzaga era o “papa da verdadeira música brasileira” ele já demonstrava a sua vontade de misturar diversos gêneros sob a batuta do rock, ao gravar com virilidade músicas como “Asa Branca”, “Juazeiro”, ambas de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, e “Ave Maria no Morro”, de Herivelto Martins, dentre outras.
No entanto, o maior sucesso autoral de Eduardo Araújo até hoje ainda é a música “Vem quente que eu estou fervendo”, em parceria com Carlos Imperial, verdadeiro Midas das paradas de sucesso da música brasileira.
Esse espírito inventivo e desbravador envolveria também Sylvinha Araújo, que havia ficado nos primeiros lugares da parada de sucessos em 1968 com a música “Minha primeira desilusão”, e agora gravaria versões pungentes e inusitadas das músicas “Risque”, de Ary Barroso e “Paraíba”, também de Humberto Teixeira e Luiz Gonzaga, o que levaria o jornalista Nelson Motta a compará-la à musa do blues dos anos 70, Janis Joplin. E Sylvinha Araújo não era mais apenas a cantora que imitava Rita Pavone, ganhava assinatura e público próprios.
Essa vontade de se remeter às raízes da música brasileira intensificou-se na década de 80, quando Eduardo Araújo mergulhou de cabeça na chamada country music e retornou definitivamente para onde tudo começou.
Sempre apaixonado por cavalos e o ambiente da fazenda, com o qual conviveu desde a infância, Eduardo Araújo passou a se notabilizar por fazer agora uma música com a qual o brasileiro do interior sempre se identificou e que passava a invadir também o sentimento do homem criado na cidade, a partir da mistura de dois gêneros, o country e o rock.
Sem perder a veia inovadora, Eduardo gravou uma versão em twist da música “Maringá”, de Joubert de Carvalho, e obteve grande sucesso ao homenagear uma das mais nobres raças de cavalo, o “Mangalarga Marchador”.
Os cabelos lisos e penteados de lado com direito a olhar galanteador deram lugar ao chapéu de boiadeiro e ao bigode, mas a essência do rock continua em suas músicas que misturam com qualidade irretocável os melhores gêneros da música brasileira.
Com guitarra em punho, violão a tiracolo e voz sempre imponente e verdadeira Eduardo Araújo segue há 50 anos por essa estrada do rock, guiado pela voz jovial e inesquecível de Sylvinha Araújo. Eduardo e Sylvinha Araújo, dois pioneiros do rock brasileiro e da mistura de gêneros, serão sempre lembrados no hall dos nomes mais importantes da música brasileira.
“O Bom” (Jovem Guarda, 1967) – Carlos Imperial
Liderada por nomes como Roberto Carlos e Erasmo Carlos e tendo ainda em seu elenco as presenças marcantes de Renato e seus Blue Caps, Ronnie Von, The Fevers, Jerry Adriani, além das musas Wanderléa, Rosemary e Sylvinha Araújo, a Jovem Guarda logo emplacaria nas paradas de sucesso e faria com que um desesperançado Eduardo Araújo deixasse novamente a fazenda de seu pai para trás e voltasse ao Rio de Janeiro, atrás do sonho de cavalgar na crista da onda daquelas canções. O que aconteceu efetivamente no ano de 1967, quando ele estourou com o seu primeiro sucesso, a canção “O Bom”, de Carlos Imperial, que traduzia o comportamento e a postura musical e artística daquela nova geração de músicos.
“Vem Quente Que Eu Estou Fervendo” (rock, 1967) – Eduardo Araújo e Carlos Imperial
O maior sucesso autoral de Eduardo Araújo até hoje é a música “Vem Quente Que Eu Estou Fervendo”, em parceria com Carlos Imperial. Lançada em 1967, no mesmo LP que apresentou “O Bom”, a música traz uma letra divertida de Imperial e estourou com a gravação de Erasmo Carlos, passando a ser parte obrigatória do repertório da Jovem Guarda. “Se você quer brigar e acha com isso estou sofrendo/ Se enganou meu bem/ Pode vir quente que eu estou fervendo!”.
“Meu Último Amigo” (sertaneja, 1983) – Moacyr Franco
Dois mineiros, o primeiro de Ituiutaba e o segundo de Joaíma, Moacyr Franco e Eduardo Araújo se uniram para cantar “Meu Último Amigo”, uma balada de tom brejeiro, sertanejo, bem ao estilo de Moacyr, no disco lançado por ele em 1983. O autor da cantiga começa narrando versos que falam sobre a passagem do tempo, empregando o seu talento para a dramaturgia. A música, apesar do tom de lamento, abre espaço para os amigos celebrarem os costumes mineiros.