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Cid Gomes comenta postura de Ciro no 2º turno e defende voto em Lula

Irmão de Ciro Gomes (PDT), outro presidenciável, está fazendo campanha aberta em prol de Lula

Senador pelo Ceará, Cid Gomes defende voto em Lula no 2º turno

O senador Cid Gomes (PDT-CE) está fazendo campanha aberta para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), com o objetivo de evitar o que chama de “mal pior”. Ao contrário de seu irmão Ciro Gomes, que foi candidato ao Palácio do Planalto pelo PDT e, após ser derrotado, anunciou apoio apenas protocolar a Lula, Cid quer restabelecer a aliança com o PT no Ceará.

Na sua avaliação, a ausência de Ciro na campanha de Lula, nesse segundo turno, é uma estratégia para que o ex-ministro não se transforme em linha auxiliar do petista. “Ele considera que, para ocupar um espaço nacionalmente, tem de se distanciar do PT” afirmou o senador.

Ciro disputou o primeiro turno da eleição com fortes críticas ao PT. Cid, por sua vez, argumentou que apoia Lula por considerar que o presidente Jair Bolsonaro (PL) tem “tendências ditatoriais”. O senador contou não ter conversado com o irmão após a derrota dele. “A última vez que falei com o Ciro foi em setembro”, disse.

A falta de diálogo ocorre na esteira de um racha entre os irmãos Ferreira Gomes, motivado por divergências em relação à continuidade da aliança de 16 anos com o PT no Ceará. Com o divórcio, o PDT perdeu para o PT o comando do governo do Estado.

O PDT e o PT ainda podem se unir no âmbito nacional ou estadual?

O PDT tomou uma posição nacional e o presidente Lupi (Carlos Lupi, presidente do PDT) está integrado na campanha do Lula. A nível estadual (no Ceará), eu estou me esforçando para unir todo o PDT em apoio à candidatura do Lula. Mais do que isso, com o objetivo de restabelecer uma aliança que tem aqui um projeto comum há 16 anos.

O sr. tem falado com Ciro? Ao contrário do sr., ele optou por um apoio mais tímido a Lula.

Não falei, não. O Ciro há um bom tempo tem procurado… Ele considera que, para ocupar um espaço nacionalmente, tem de se distanciar do PT. Nessa eleição, ele manifestou o apoio seguindo a orientação partidária. Virou muito uma eleição do Lula contra o Bolsonaro. Uma eleição de um apelo pela garantia da democracia respeito às instituições, pelo respeito à boa política. É tudo o que o Bolsonaro nega. O apoio do Ciro, imagino que da forma como ele explicitou, é um diferencial. Ele vai votar no Lula porque o Bolsonaro é pior para o Brasil. Estou fazendo suposição sobre a posição dele. A última vez que falei com o Ciro foi em setembro. Não falei mais com ele, não.

Ciro ainda é uma opção para ser candidato a presidente em 2026?

Cada coisa ao seu tempo. O partido tem um projeto, lançou um candidato. Nós temos convicção de que o nosso candidato era o mais preparado, era o que tinha publicamente mais projeto para o Brasil. Mas, infelizmente, o momento nacional é hiperpolarizado, com duas forças individuais fortes - cada uma com entre 20% e 30% de preferência já de partida - que, por conta dessas personalidades fortes, atraíram também o voto da rejeição. Quem não queria o Bolsonaro só enxergava no Lula a possibilidade de derrotar o Bolsonaro. Quem não queria o Lula só enxergava no Bolsonaro a possibilidade de derrotar o Lula. Ficou sem espaço para um projeto, uma proposta fora desse radicalismo. É a primeira vez também que se tem no País um presidente, que, mesmo no auge da sua impopularidade, conseguiu fidelizar um público contra um ex-presidente que saiu com aprovação de 80%. Foi difícil, nessas condições, ter uma terceira candidatura.

Diferentemente do que ocorreu em 2018, o PT conseguiu agora o apoio de diversos nomes distantes do partido, como o ex-presidente Fernando Henrique e o senador Tasso Jereissati, do PSDB. O que mudou?

Não se trata de preferir o Lula. Trata-se de uma opção em que um candidato não guarda respeito à democracia, tem tendências ditatoriais, não respeita as instituições. O Bolsonaro não tem nem característica de uma pessoa séria que pensa no Brasil. É espalhafatoso, é um tipo ridículo. Nessas horas, para evitar o mal pior, você apoia a candidatura do Lula. Tenho certeza de que é esse o pensamento do Ciro, do Tasso, do Fernando Henrique, do Caetano (Caetano Veloso, que sempre apoiou Ciro, resolveu ficar com Lula já no primeiro turno) e também de vários outros.

O seu comportamento também mudou. Há quatro anos, o sr. discutiu com petistas e disse que Lula estava preso.

O fato aconteceu em uma situação. Naquela época, a reunião marcada para a gente celebrar uma aliança nacional para o segundo turno não foi precedida de outras falas que dissessem que queriam nosso apoio. Eu disse isso: “Estou estranhando me botar em primeiro para falar. Acho que o natural era alguém dizer que queria o apoio nosso aqui no Ceará.” Aí começaram a vaiar e citaram o Lula. Eu disse que o Lula estava preso, não poderia fazer nada. Não foi nada além. (Neste ano), disse, brincando: “Vou falar pouco para não correr o risco de levar uma vaia e de novo repetir aquele fato.” E brincaram: “Vai não”.

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