Um relatório elaborado pelo interventor federal na segurança pública do Distrito Federal, Ricardo Cappelli, aponta que o Exército Brasileiro impediu, por diversas vezes, a desmobilização do acampamento montado por bolsonaristas em frente ao Quartel-General, em Brasília.
O documento de 62 páginas foi divulgado nesta sexta-feira (27) e mostram os fatos e atuação das forças de segurança na capital federal que permitiram a ocorrência dos atos de violência que culminaram na invasão e destruição dos prédios do Congresso Nacional, Supremo Tribunal Federal (STF) e Palácio do Planalto.
Conforme o relatório, havia informações de setores de inteligência sobre a possibilidade de uma manifestação no dia 8 de janeiro, mas que o efetivo policial foi bem menor do que o recomendável para a ocasião, o que permitiu que os invasores não enfrentassem resistência quando se deslocavam da Esplanada dos Ministérios à Praça dos Três Poderes. Policiais que estavam de prontidão em casa também demoraram para serem convocados para reprimir os atos golpistas.
Cappelli foi nomeado interventor federal pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ainda no dia 8 de janeiro para que pudesse coordenar as ações de segurança por parte do Distrito Federal. Naquela ocasião, o então secretário de Justiça do DF, Anderson Torres, que estava de férias nos Estados Unidos, foi exonerado pelo então governador Ibaneis Rocha (MDB), que acabou sendo afastado do cargo por decisão do STF.
Exército evitou desmobilização de acampamento
De acordo com o relatório, o acampamento de bolsonaristas montado em frente ao QG do Exécito “permitiu apoio logístico e local de concentração dos manifestantes que se deslocaram a Brasília para que as ações do dia 08 fossem desencadeadas”. O documento cita que, na véspera, vários ônibus chegaram ao local, “aumentando o quantitativo de pessoas consideravelmente no acampamento”.
Desde o fim de 2022, diversas ações foram planejadas para desmobilizar o acampamento, mas “foram canceladas por fatores alheios às forças de segurança do Distrito Federal, sendo algumas operações interrompidas já em andamento e com tropas da segurança pública no terreno, por orientação do Exército Brasileiro”, diz trecho do relatório.
O fato mais grave relatado pelo documento é que após os episódios de depredação nas sedes dos Poderes, os vândalos retornaram ao acampamento, mas o Exército evitou que eles fossem presos no local naquele momento.
“O Interventor Federal determinou que o comandante-geral da PMDF mobilizasse a tropa para efetuar as prisões no acampamento em frente ao QG do Exército, movimento que foi abortado pela intervenção do General Dutra, comandante militar do Planalto, que ponderou para que a ação acontecesse somente no dia seguinte pela manhã", diz parte do relatório elaborado por Cappelli.
Falta de policiais
O relatório também conclui que o número de militares que estavam na Praça dos Três Poderes no dia 8 de janeiro foi “insuficiente para conter o acesso dos manifestantes”. Com isso, os bolsonaristas romperam o bloqueio na altura do chamado Buraco do Tatuí “e entrassem com materiais proibidos na Esplanada”.
Militares que estavam de prontidão em casa só foram convocados às 15 horas do dia 8 de janeiro.
“Houve, portanto, um intervalo de aproximadamente duas horas entre o início da manifestação e a tomada de providências operacionais de reforço para reprimir as ações em andamento”, diz o relatório.
O interventor disse, ainda, que não houve elaboração prévia do Planejamento Operacional nem da Ordem de Serviço, como seria de praxe em um evento como este.
“A falta de efetivo, a atitude passiva e a ausência de qualquer planejamento pelo DOP - Departamento de Operações da PM expuseram o STF de maneira inaceitável”, diz o relatório, que cita ainda que a Corregedoria da Polícia Militar abriu um inquérito policial militar para apurar o ocorrido com o objetivo de “individualizar as responsabilidades dos agentes de segurança presentes na operação”.