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Oito anos do desastre de Mariana: atingidos lutam por Justiça e pedem reparação

Está previsto para a próxima segunda, dia 6, o início dos depoimentos dos réus na Justiça brasileira

Oito anos depois, o que mais se ouve dessas pessoas é: pouca coisa foi resolvida

Tiveram início hoje em Mariana, na Região Central de Minas, as ações que marcam os oito anos do rompimento da Barragem de rejeitos de Fundão, da mineradora Samarco, em novembro de 2015. Uma coletiva de imprensa com o relato de atingidos que lutam por Justiça deu início às atividades, que vão até o próximo dia 9 de novembro.

Depois de tanto tempo, a principal reivindicação dos atingidos é por uma reparação justa pelos danos provocados pelo maior crime socioambiental da história do país, que matou 19 pessoas e deixou um rastro de destruição ao longo da Bacia do Rio Doce e de parte do litoral brasileiro.

Oito anos depois, o que mais se ouve dessas pessoas é: pouca coisa foi resolvida e a Fundação Renova, criada mitigar os impactos da tragédia, tem se negado a ouvir as demandas desses atingidos.

Tem gente que até hoje vive em moradias provisórias, à espera da conclusão dos reassentamentos que vão receber os moradores das comunidades atingidas.

Luzia Queiroz era moradora do distrito de Paracatu de Baixo, em Mariana. Integrante da Comissão dos Atingidos da Barragem de Fundão, diz que essas pessoas não tiveram os direitos reconhecidos, quase dez anos depois.

“A dor da gente é que até hoje a gente não foi reparado da devida forma, a gente não teve a compensação das nossas terras, as casas que a gente está indo para morar não é nem 1% da realidade que era. A gente teve que escolher tudo dentro de um padrão, então muita gente acha que as casas são bonitas, maravilhosas, mas na realidade, não é nada disso não. A gente está indo para uma comunidade em que não tem o trabalho não vai ter os modos de vida de volta, a gente não sabe como vai sobreviver sendo que os tributos são muitos”, relata.

As ações que marcam os oito anos da tragédia da Samarco buscam levantar as demandas desse povo atingido e alertar sobre os riscos da mineração predatória.

No dia 5, domingo, quando a tragédia completa 8 anos, haverá celebrações religiosas em comunidades atingidas, como o Distrito de Bento Rodrigues, primeiro a ser varrido pela lama da Samarco.

Manuel Marcos Muniz, o Marquinho, é um dos atingidos que morava na comunidade. Ele teme que a demora que envolve a resolução dos problemas traga aumento a sensação de impunidade.

“Em oito anos muita coisa já poderia ter resolvido para nós atingidos, e a gente vê que essa questão se arrastando nessa lentidão toda e há os impunes. É muito difícil a gente até mesmo falar e temos que correr atrás, não podemos parar, não podemos desanimar, até para aquelas outras pessoas ver a nossa luta e juntar a nós para nós termos uma reparação justa e para ter a questão também da punição dessas pessoas que vão ser julgadas ainda semana que vem, depois de oito anos. Completa 8 anos para começar a julgar essas pessoas”, questiona.

Em meio aos atos que marcam os oito anos do rompimento da barragem da Samarco, está previsto para a próxima segunda, dia 6, o início dos depoimentos dos réus na Justiça brasileira.

Pela primeira vez, oito anos depois, os envolvidos vão ser interrogados sobre os crimes ambientais, inundação e desabamento. Eles não vão responder por homicídio, que teve a denúncia trancada pela Justiça.

Em nota, a Renova afirmou que foram solucionados 405 casos de restituição do direito à moradia com a entrega do imóvel ou o pagamento de indenização. E completa “outros 284 já têm solução definida, de um total de 719 casas, comércios, sítios, lotes e bens coletivos até 29 de setembro. O monitoramento hídrico da bacia do rio Doce demonstra que a qualidade da água retornou aos parâmetros similares aos anteriores ao rompimento da barragem de Fundão. Ações integradas de restauração florestal, recuperação de nascentes e saneamento visam à melhoria da qualidade da água. Até agosto de 2023 foram destinados R$ 32,66 bilhões às ações de reparação e compensação. Desse valor, R$ 13,17 bilhões foram para o pagamento de indenizações e R$ 2,55 bilhões em Auxílios Financeiros Emergenciais, totalizando R$ 15,72 bilhões para 431,2 mil pessoas.”

Júlio Vieira é repórter da Itatiaia.