Pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) avançaram em um estudo que desenvolve uma vacina contra a febre maculosa, doença é causada pela bactéria Rickettsia rickettsii que é transmitida principalmente pelo carrapato-estrela. A doença entrou em evidência na semana passada com as primeiras confirmações de mortes de pessoas que foram infectadas em um evento em Campinas (SP).
Quatro vítimas com diagnóstico confirmado da doença e que estiveram no local morreram. Outros seis casos suspeitos de febre maculosa entre participantes do evento na Fazenda Santa Margarida estão em investigação. O evento aconteceu em 8 de junho. A administração do local informou que vai fazer melhorias no estacionamento, que é a área apontada como foco de infestação dos carrapatos.
No trabalho mais recente, a ideia foi silenciar a expressão gênica da principal proteína inibidora da apoptose, a IAP (do inglês, inhibitor of apoptosis protein), com o objetivo de reduzir o crescimento da bactéria e tornar o carrapato-estrela mais resistente à infecção. Para isso, a alimentação dos aracnídeos foi reproduzida em laboratório, com sangue de coelhos infectados e não infectados pela bactéria.
“Observamos que, independentemente da infecção, os carrapatos morriam ao se alimentar, destacando a importância da IAP para sua sobrevivência”, explica Andréa Cristina Fogaça, professora do Departamento de Parasitologia do ICB-USP e coordenadora do estudo. “Essa informação sugere algo ainda mais interessante do que apenas bloquear a infecção: é possível conter e diminuir a densidade populacional do hospedeiro.”
As taxas de mortalidade dos carrapatos-estrela durante o experimento ficaram acima de 92%. Esses resultados sugerem que a alimentação do carrapato, independentemente de estar infectado, gera radicais livres que ativam a apoptose. Com a IAP silenciada, os carrapatos não conseguem sobreviver.
Os próximos passos da pesquisa são confirmar que a alimentação sanguínea é realmente o fator que promove a apoptose (morte celular) pela produção de espécies reativas de oxigênio e, possivelmente, expandir os experimentos para outras espécies de carrapato.
Febre maculosa
Dados do Ministério da Saúde mostram que nos últimos três anos foram registrados, em média, 160 casos por ano, com letalidade de cerca de 28%.
A doença tem como principais sintomas febre alta e súbita, dor de cabeça, abdominal e muscular. Pode haver erupções no local da picada do carrapato. O tratamento imediato com antibióticos é recomendado para evitar o agravamento do quadro.